14 de novembro de 2009

Uma entidade que UNE ou desUNE?


Uma entidade que UNE ou desUNE?



A discussão a cerca da representatividade e legitimidade da entidade máxima dos estudantes universitários brasileiros é antiga. Tão antiga quanto os argumentos de quem defende construí-la ou substituí-la. Na verdade, esse debate se transformou, hoje, em uma “demarcação” burocrática de espaço. Mas vamos tentar contribuir de forma construtiva nessa discussão.


É verdade que a UNE é dirigida, majoritariamente, há quase duas décadas pela mesma força política (UJS/PCdoB). É verdade também, que essa força política engessou a luta dos estudantes e se transformou em um espaço de legitimação da política do governo federal. É verdade ainda, que a UNE está distante da sua base social e os seus congressos são espaços de legitimação da política institucional que pouco avança nas perspectivas da juventude. Ou seja, a leitura crítica dos setores que propõe a ruptura com esta entidade não é equivocada. O equívoco reside na estratégia adotada por estes setores que muito mais confunde do que esclarece a base dos estudantes dividindo os espaços de construção entre “os que lutam pra cá” e os “pelegos pra lá”.


Na verdade essas expressões são fruto de uma absoluta incompreensão do momento histórico no qual vivemos, embutido com palavras-de-ordem vazias que pouco somam no amadurecimento dos estudantes, colocando uns contra os outros, desqualificando o debate e favorecendo os nossos inimigos de classe.


A UNE deve ser defendida enquanto entidade representativa dos estudantes e entendida enquanto espaço de debate e disputa de idéias e opinião, jamas compreendida como um partido como pretendem burocratas e divisionistas. Devemos disputar os rumos desta entidade entendendo que o seu papel é construído na sua intervenção específica que deve combinar a luta por direitos dentro dos marcos da democracia - como reformar a Universidade pra melhor (não com o REUNI), defender o passe livre, garantir o direito da meia entrada em eventos culturais, posicionar-se a cerca das questões da política nacional e internacional, a exemplo do pré-sal e da guerra do Iraque, enfim construir e consolidar a democracia estudantil onde houver um curso superior - com a educação política da juventude brasileira numa perspectiva construtiva, colaborando com a compreensão da sua identidade de classe. Erram aqueles que querem fazer da UNE um partido que apóie candidaturas seja ela da coloração política que for quando estamos inseridos em uma óptica meramente institucional e burguesa.


Para iniciarmos uma grande transformação da UNE pela base é necessário transformar os seus espaços de discussão, democratizando as suas instâncias e fortalecendo as relações da nossa entidade com os demais movimentos sociais como o MST e os sindicatos. E é nesta perspectiva que defendemos eleições diretas para a UNE, o que possibilitará uma maior discussão na base dos estudantes e proporcionará uma maior transparência nas ações desta entidade. Isso acabará com o que acontece hoje, quando de dois em dois anos as forças políticas “se lembram” das Universidades onde a UNE nunca foi mencionada sequer numa conversa de corredor, para pedir votos para a sua tese, quando não, casos não incomuns de fraudar as atas de eleição de tiragem de delegados. Sem dúvidas de que isso dificultará o controle da burocracia da UNE em se manter na direção, e é por isso que a UJS e demais setores se opõem radicalmente a essa medida.


E neste VI congresso devemos deliberar que o nosso DCE se posicione nos CONEG´s a favor das diretas na UNE. Devemos mobilizar os outros DCE´s do país a lançar um chamado propondo um plebiscito sobre as eleições diretas na UNE, no intuito de ouvir os estudantes das mais diversas regiões do país com as mais diversas realidades sobre os rumos da nossa entidade. Esse debate é antigo e amplo para ser decidido em uma plenária, quase sempre confusa, do CONUNE.


Devemos também, propor que a UNE refaça o diálogo com as executivas e federações de curso. Devemos ainda, propor que as entidades constituam-se enquanto diretorias plenas da UNE, firmando o vínculo de construção com essa. Se hoje parte das executivas se encontram no mais absoluto sectarismo, intitulando-se como entidades “autônomas” e “independentes” e sendo terreno mais que propício para oportunistas, salvadores da pátria e “reencarnações dos grandes revolucionários”, deve-se ao abandono do movimento estudantil geral o qual as sucessivas diretorias da UNE durante todo esse tempo pouco fizeram para mudar.


A UNE deve prestar contas das suas finanças a cada semestre. Ninguém, nem mesmo quem esta na diretoria, sabe o que é feito com o dinheiro que a entidade arrecada. E o pior, o repasse as entidades de base via UEE´s nunca é feito. Desafiamos as entidades de base na UFBa que já viu um centavo dessa verba, exceto nos acordões para pagar os credenciamentos de delegados do congressos da UEB.


Dessa forma o DCE-UFBa deve retomar o seu protagonismo militante e se lançar em um debate nacional a cerca dos rumos da UNE. Isso deve independer de gestão, deve ser uma política da entidade não submetida a qualquer grupo que por ventura vença as eleições para entidade.


Unificar o movimento estudantil, qualificar o debate contra o divisionismo e recolocar a UNE na luta!


A eleição de Lula em 2002 acelerou o processo de fragmentação dos setores que durante muitos anos estiveram unificadas com um único projeto, Lula presidente. Essa fragmentação tem inicio ainda no final da década de 80, mas a sua configuração é percebida, fundamentalmente, depois de 2002.


Nesse período configura-se uma visível apatia dos movimentos sociais, os quais ansiavam um governo voltado para as reivindicações históricas dos trabalhadores. Como sabemos, não foi isso que aconteceu. A reforma agrária não foi feita, o salário mínimo continua dispare ao índice do DIEESE, as Universidades continuam sucateadas e as que foram construídas ou expandidas, não trazem as condições necessárias para uma vida acadêmica plena e saudável.


O movimento estudantil reflete toda essa atmosfera de desilusão, refluxo e crise vivida nesses últimos anos. Dessa forma, em nome da própria existência política, dirigentes de grupos minoritários na sociedade sinalizam a sua base a ruptura com as entidades histórica dos trabalhadores e dos estudantes e a construção de outras que segundo eles são “de luta”. Ora estudantes, significa dizer que se levarmos ao pé da letra essa fórmula devemos construir entidades paralelas aos nossos CA´s e DA´s que por ventura perdemos as eleições este ou aquele ano para pelegos? Ou outro DCE? Ou outra Executiva/Federação de curso?


Para agravar a situação da divisão, alguns setores, talvez mais iluminados que os que propõem diretamente a ruptura da UNE e a construção de outra entidade, propõem não construir nada porque ...“essa discussão não é prioridade” (sic)... Perguntamos então: qual é a prioridade? Qual é o conceito de construção proposto por esses seguimentos? De certo não saberemos, pois a sua covardia é tamanha que sequer se organizaram para participar desse espaço. Talvez os estudantes da UFBa não sejam bons o suficiente para eles dirigirem. Alcunhamos esses senhores de “neo-revolucionários”.


Conscientemente existem três tipos de militantes no movimento estudantil que são: 1) Os que aparelham o movimento para o seu partido ou corrente. 2) Os independentistas, apartidários, anti-partidários. Esses aparelham o movimento para beneficio pessoal, transformam as entidades estudantis em seus próprios partidos no intuito de galgar posições melhores para a sua vida política ou acadêmica. E 3) Os que compreendem a importância dos partidos políticos em uma sociedade de classes, combatem pelo não atrelamento do movimento a estes e em lugar de trazer as pautas e as agendas do partido para o M.E. fazem o caminho contrário levando as pautas do M.E. para que os partidos os quais por ventura se identifiquem. É preciso que o militante número 3 se sobreponha aos demais. Esse é o seguimento saudável que irá construir a luta que precisamos.


Por isso é necessário avançar em uma defesa qualificada da (s) UNE/UEE´s, fazendo a crítica militante à burocracia das nossas entidades representativas em nehuma hipótese permitirmos recuos diante da divisão e do oportunismo. Neste espaço nos dirigimos aos estudantes que, por não suportarem a complacência da majoritária da UNE, seguem um caminho compreensível de romper com esta. “A UNE é nossa voz, nossa força e nossa voz!” É nosso desafio refazê-la de forma a dialogar com as necessidades imperativas da conjuntura atual.



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