18 de maio de 2010

Reflexões de gênero.

Por Sâmia Souza*



Pensamos na igualdade constantemente e é constante, também, em nossos discursos, nos referirmos à igualdade como a meta ideal de toda a nossa luta e vida. Nada contra, óbvio. Muito embora sejamos diversos, distintos, plurais, somos humanos. Iguais, portanto. Ou não? Eu falei sobre pensar e discursar e estes verbos guardam muito bem o campo da utopia, do sonho, das teorias. Não que seja simples teorizar ou agregar conhecimento, formular projetos e erigir explicações que dêem conta de sintetizar o que vemos no mundo. Debruçar-se sobre papel e caneta, agarrar o microfone e bafejar uma platéia de um discurso libertador, exige, entretanto, um outro verbo: fazer.


A igualdade a qual me refiro, quando é confrontada com o verbo “fazer”, parece que perde o tônus. É que é muito comum amealhar conhecimento e afastar-se dele nos passos diários. Ainda sinto que é corriqueiro beber Marx, temperar tudo com a luta pela igualdade, mas abusar de ações que reforcem o machismo. E o que não faltam são companheiros “marxchistas”. Se estamos falando de igualdade, nada mais oportuno do que falar sobre as mulheres ocupando os mesmo espaços que os homens. E se estamos falando de uma sociedade que tem como corolário a própria desigualdade, concordaremos que nós mulheres temos que criar tensionamento constante para que tal ocupação se concretize, pois nunca veremos quem oprime lutar por oprimidos. E quando é que discurso e pensamento movem, de fato, a realidade? Eu ouso afirmar que as menores coisas fazem grande diferença. Então não adianta só gritar para que haja uma sociedade sem classes, sem desigualdade e depois reproduzir o machismo no desdém à mulher enquanto ela discursa, ou nos comentários aviltantes sobre seus corpos, sobre sua sexualidade, sobre sua mudança de postura e imagem.

Alguém espera [mesmo] que a classe que detém os meios de produção reparta livremente a riqueza gerada socialmente com a “classe que vive do trabalho”? Por que esperar que os homens cedam ou construam um espaço para a mulher? Não podemos defender uma lógica num ponto e desconstruí-la em outro. É a mulher que garantirá à própria mulher ser mais que a imagem hilária de um osso chato: uma costela. Não ser mais a princesa amarrada numa torre à espera do príncipe salvador.

E enquanto escrevo este texto, fico a imaginar a cara de cada companheiro que escondido atrás da tela de seu computador, torce o nariz para o que foi dito. Um dos significados da palavra companheiro é “aquele que vai na companhia” e eu como mulher estou dizendo apenas que não vamos ser carregadas, não vamos mais atrás, nem contaremos nessa caminhada com um escudeiro à nossa frente. Sei que não nos darão licença, portanto, marcharemos como for necessário, companheiros. Só digo, enfim, que observem como falam conosco, mas mais ainda como falam de nós, porque o machismo nega a igualdade e reforça a opressão largamente combatida nos pensamentos e discursos tão bem elaborados com os ideais que todos e todas defendemos – a justa sociedade.

Samia é estudante de Serviço Social da UFBa e militante do coletivo Marxista O Estopim!

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