16 de fevereiro de 2011

Polícia Federal monta base para identificar ossadas de desaparecidos políticos



São Paulo – A Polícia Federal (PF) abriu hoje (14) uma base de análises para identificação de restos mortais de desaparecidos políticos. A base fica em uma sala do Instituto Médico Legal (IML) da capital paulista e vai centralizar os estudos de ossadas que podem ser de militantes mortos durante a ditadura militar.

No centro de estudos, dois médicos e dois dentistas da PF e do IML vão examinar, medir, fotografar e catalogar ossos retirados de valas onde podem ter estado enterradas vítimas da ditadura. A análise vai levantar características físicas das ossadas que podem ser de militantes mortos pelo governo militar.

Depois de catalogados, os dados das ossadas serão cruzados com um banco de dados montado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República sobre os cerca de uma centena desaparecidos políticos. Nesse cruzamento, o chefe da área de medicina forense do Instituto de Criminalística Federal, Jeferson Evangelista Correa, espera dar um passo importante para o trabalho de identificação dos restos mortais.

“Todas as ossadas passarão pela análise”, explicou Correa, que é médico e coordenará a base da PF em São Paulo. “Se tivermos dados suficientes para identificarmos, terminamos o trabalho por aí. Quando não for suficiente, partimos para o exame da DNA”.

Em entrevista à Agência Brasil, Correa disse que as análises das ossadas, embora muitas vezes não conclusivas, são essenciais para o processo de identificação. Isso porque os restos mortais que podem ser de militantes foram encontrados junto com muitos outros, alguns de indigentes. Só a partir das análises, será possível identificar ossadas com características semelhantes às dos procurados para que, então, sejam feitos os exames de DNA.

“Só em uma vala comum do Cemitério de Perus [em São Paulo], foram exumadas 1.049 ossadas na década de 90”, disse ele. “Nós vamos analisar uma por uma e, depois, fazer o exame de DNA daquelas que podem, realmente, ser dos desaparecidos”.

Correa disse, entretanto, que o trabalho é lento. Cada ossada precisa ser analisada por cerca de quatro horas por peritos para que todas suas características sejam catalogadas. O estudo ainda precisa ser muito cuidadoso já que os ossos estão frágeis após mais de 40 anos enterrados.

A lentidão é causada também pelo grande número de restos mortais que terão de ser examinados. Além dos mais de mil já exumados do Cemitério de Perus, Correa disse que a PF deve retirar ossadas para exames do Cemitério da Vila Formosa e de Parelheiros, também na capital paulista.

“Estamos só no começo do trabalho. Esperamos concluir a identificação em cinco anos”, afirmou ele, ressaltando contudo que os primeiros resultados do trabalho devem aparecer até julho. “Eu tenho esperança de que ainda no primeiro semestre a gente consiga dar as primeiras respostas aos anseios da sociedade”.

Ilda Martins da Silva, 79 anos, é uma das que aguardam por isso. Ela é ex-presa política e viúva de Virgílio Gomes a Silva, codinome Jonas, um dos sequestradores do embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, e uma das vítimas da ditadura.

Virgílio foi preso em setembro de 1969 e morto. Seu corpo, segundo documentos militares, foi enterrado no Cemitério da Vila Formosa. Há 41 anos Ilda tenta localizá-lo. Até agora, não conseguiu. “É uma espera que até hoje não deu resultado. Parece que agora as coisas vão para a frente.”

Virgílio está na lista dos desaparecidos políticos da SEDH e estudos já localizaram restos mortais que podem mesmo ser dele no cemitério da Vila Formosa. Segundo Correa, da PF, na semana que vem, escavações devem retirar as possíveis ossadas de Virgílio e levá-las para exame.

“Encontrar ele é muito importante. Todo ser humano merece uma sepultura digna e eu quero fazer isso para ele”, disse Ilda.

Edição: Rivadavia Severo
Vinicius Konchinski Repórter da Agência Brasil 

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