29 de outubro de 2011

Argentina: “anjo da morte” condenado a prisão perpétua

27/10/2011 15:02,  Por Esquerda.net
                                                                      

Torcionários da ditadura argentina, entre eles o sinistro Alfredo Astiz – que se infiltrava nos movimentos de direitos humanos para organizar os raptos e assassinatos – sequestraram, torturaram e mataram, atirando as pessoas de aviões para o mar.Artigo |27 Outubro, 2011 – 16:25Astiz em 1985, quando ainda não tinha sido expulso da Marinha. Foto wikimedia commons
Um tribunal federal argentino condenou 12 ex-militares da Marinha à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade cometidos durante a ditadura que governou o país entre 1976 e 1983. Os 12 actuavam no mais sinistro centro de repressão e tortura da história argentina, a Escola de Mecânica da Armada, a ESMA, responsável pelo assassinato e desaparecimento de pelo menos cinco mil pessoas. O próprio chefe da Marinha, em 2004, reconheceu que a ESMA era um centro de barbárie.


O mais sinistro torcionário deste centro, Alfredo Astiz, hoje com 60 anos, foi um dos condenados.
Rosto quase infantil
Conhecido como o “anjo da morte”, Astiz aproveitava-se do seu rosto quase infantil para infiltrar-se nos primeiros movimentos de direitos humanos para organizar o sequestro dos seus dirigentes. Foi o que fez em 1977 com a recém-fundada associação das Mães da Praça de Maio. Adoptou o nome de Gustavo Niño e apresentou-se como familiar de um dos desaparecidos. Estava sempre disponível para conduzir as senhoras para onde fosse necessário; estas chamavam-lhe carinhosamente “o loirinho”.
Com esta posição privilegiada, organizou o sequestro das três fundadoras das Mães da Praça de Maio, em Dezembro de 1977. Para assinalar ao Grupo de Tarefa 332 da ESMA quem deveria ser raptado, abraçou os marcados para a morte, um a um, no átrio da igreja de Santa Cruz, onde o grupo se reunia. Como também desapareceu depois dos raptos, durante algum tempo pensou-se que também ele era uma das vítimas e houve pedidos de que fosse libertado.
Os 12 sequestrados foram torturados e assassinados num dos muitos “voos da morte”, em que os presos eram atirados de aviões para o mar, amarrados, morrendo com o impacto. Entre estes 12 estavam as três mães, duas freiras francesas e activistas dos direitos humanos.
Astiz também se infiltrou entre os exilados argentinos em Paris, procurando repetir a proeza que fizera na Argentina, mas foi desmascarado e teve de fugir antes que os exilados o conseguissem entregar às autoridades francesas.
Na Guerra das Malvinas de 1982 rendeu-se às tropas britânicas, e uma foto da rendição correu o mundo. França e Suécia pediram imediatamente a sua extradição – a Suécia queria julgá-lo pelo assassinato da cidadã do seu país Dagmar Hagelin, esposa de um dirigente do movimento Montoneros, assassinada também num voo da morte. Mas o governo de Margaret Thatcher recusou-se a extraditá-lo, entregando-o às autoridades argentinas. Até 2006, Astiz julgou que ficaria impune, apesar de ter sido condenado a prisão perpétua, à revelia, em França, em 1990. Seria condenado com igual pena, mais tarde, na Itália, por responsabilidade na tortura e assassinato de três emigrantes italianos. Astiz não podia sair do país, mas passeava-se, provocante, na Argentina, mesmo tendo sido expulso da Marinha em 1988.
Em 2003, porém, o Congresso Nacional anulou as leis de Punto Final e de Obediencia Debida, que o protegiam, e permitiu a reabertura de vários processos. Astiz foi detido preventivamente em 2006 e processado pelo desaparecimento do grupo de Santa Cruz e de outros seis casos de sequestros, torturas e mortes.

Concentração
Milhares de pessoas, concentradas diante do tribunal, comemoraram, emocionadas, a decisão.
O megajulgamento da ESMA durou 22 meses e ouviu o testemunho de 200 pessoas.
“Em termos jurídicos, a leitura da sentença é a culminação de uma luta de dois anos”, disse Carlos Lordkipanidse, sobrevivente da ESMA, que sublinhou, porém, que este julgamento abarca apenas uma parcela pequena dos casos denunciados.
Outro sobrevivente, Enrique Fukman, também disse ter “sensações contraditórias: a alegria de chegar a este momento, depois de tantos anos de luta, e a convicção de que este veredicto é uma parcialidade, que deverá prosseguir com mais processos”.
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