30 de julho de 2012

Greve, APUB e luta de classes na Universidade


Por Marina Fernandes*
                O ano de 2012 encaminha à história a possibilidade de fortalecer a disputa ideológica dentro da Universidade Federal da Bahia. Nesse sentido, as atuais greves dos três setores  (estudantes, professores e técnico-administrativos), tornam-se as maiores regentes de todo esse processo. Nos cabe analisar minuciosamente o passado e termos responsabilidade no presente para construção de um horizonte em uníssono.
                Diante desse quadro, o movimento docente oferece-nos não apenas o convite à luta pela base e a construção de uma unidade racional, mas também a retomada da real importância de um sindicato que de fato represente a classe trabalhadora no âmbito da luta de classes na Universidade. A construção da greve dos professores em 2012, após 8 anos sem fazê-la, significa, acima de tudo, uma vitória a categoria em si.
                A greve, essencialmente fruto da política pela base da APUB-LUTA, fora construída em meio a kafkiana guerra e, enquanto de um lado consta uma direção burocrata opta politicamente em desconstruí-la, de outro lado pleiteia uma amálgama de correntes políticas e gerações em um comando de greve, que se fez vitorioso, sobretudo a partir das assembleias dos dias 29 de maio e 26 de junho, quando ressurgiu a vontade da categoria de retornar á luta e refutar qualquer tipo de posicionamento que transformava a classe trabalhadora em braço sindical do governo. Os docentes viram-se como sujeitos na luta.
                A greve estudantil, deflagrada em 06 de junho com a presença histórica de 2000 estudantes, no entanto, nasceu sob outra perspectiva. O processo de mobilizações pelo qual passamos no ano de 2011 garantiu a construção de uma carta de pautas amplamente representativa e aprovada no CONSUNI. Por consequência da deflagração da greve, a maturidade política do corpo estudantil foi consolidada. O não cumprimento das pautas citadas gerou na Universidade não apenas um descontentamento geral, mas também maior segurança no que diz respeito à própria deflagração da greve. Afinal de contas, corria-se o risco de se fazer uma greve meramente a reboque da greve docente.

                Entretanto, o modus operandi do movimento grevista estudantil revela-nos problemáticas que podem custar sua eficácia e força de ação política. Sua não organicidade e decrescente capacidade de mobilização fazem com o que até pequenas querelas dos outros movimentos na Universidade ressoem de maneira negativa. Além disso, a fluidez política da Reitoria e sua inabilidade de responder nossas demandas nos dão o desafio de radicalizar ainda mais.
                Valorosa é a consolidada trajetória do setor técnico administrativo em construir greves. O ano de 2011 assistiu a 110 dias de paralisação e em 2012 a categoria vai á luta mais uma vez. Contudo, falta à ASSUFBA o entendimento e, consequentemente, a vontade política de pensar a Universidade como um todo, dispondo-se a relevar determinadas rusgas históricas com outros setores e, desta maneira, construir a unidade.
                O movimento paredista hodierno na Universidade tem a função de criar um epicentro político que faça dos três segmentos em greve mais do que habitantes desconhecidos que dividem o mesmo nicho: a essência da Universidade deve ser construída por seus sujeitos que se compreendam como tal. As pautas em comum são a expressão do caráter classista que fortalece não apenas o processo de identificação enquanto classe trabalhadora, mas também a sua organização e consequente ação.
                Nesse sentido, a disputa dos espaços de poder faz-se primordial como instrumento de luta contra o jugo econômico da relação capital x trabalho.  Na UFBa, o primeiro desafio é a reconquista da categoria docente de seu sindicato, que há muito apenas engessa o movimento real. E a unidade do Comando de Greve será fundamental para a concretização desse processo. A APUB deve voltar a ser o centro organizador dos docentes dessa instituição.
                A implementação de um projeto de Universidade que faça refletir os anseios de seus integrantes perpassa necessariamente pela disputa do coração e cérebro da mesma: no âmbito da Administração Central, as dificuldades de organização de uma esquerda que dispute o poder político ecoam ainda mais contundentes. Se por um lado, a greve possibilita a retomada de um substrato político da antiga Esquerda Universitária, por outro a conjuntura de um movimento docente que levanta-se após longo período adormecido trás a tona uma nova geração de militantes que tem o desafio de afinar essa amálgama geracional e política.
 Além disso: faz-se fundamental a construção do consenso sobre quem capitanearia essa missão histórica, para que assim a gregos e troianos das mais diversas parcelas da esquerda se agradem.
                Nesse sentido, o CONSUNI que debaterá a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) apresenta-a como estopim, ainda que de forma embrionária, dessa nova guinada política. Será o momento em que compreenderemos a nós mesmos enquanto sujeitos não mais isolados e resistentes em um contexto privatizante, que assim contrapõem-se ao projeto do grande capital.
                Se por um lado a greve de 2012 faz visível a cornucópia de projetos de Universidade alternativos já, por outro lado cobra dos setores organizados a responsabilidade e sensatez de agir nesse sentido. A história nos sorri, cabe-nos aproveitá-la. O espectro da resistência de esquerda ronda a UFBa.

É estudante, na UFBA, de Ciências Sociais e militante do coletivo O Estopim, da Militância Socialista no PT e diretora de Direitos Humanos no DCE UFBA

2 comentários:

  1. Belo texto, Mari. A nossa esquerda precisa de pessoas como você nessa luta a favor de todos do universo UFBiano. George Luiz ( estudante de Física - UFBa)

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