17 de abril de 2013

O emblemático ano de 2012 e os desafios de 2013 na UFBA

Sobre a Universidade Federal da Bahia

Faz-se fundamental situar historicamente a Universidade Federal da Bahia, para que assim sejam feitos os devidos balanços e perspectivas políticas. Compreender seu arranjo institucional, seus sujeitos políticos e sua comunidade viva – entendida como força motriz, agente sui generis da vida universitária- é da maior importância no sentido da organização das lutas e concretização das pautas de seus agentes, tendo como eixo central a construção de uma Universidade pública, gratuita, de qualidade e que sirva á quem de fato a constrói e financia.

A Universidade Federal da Bahia ao longo de toda a sua história não apenas constitui-se, como também posiciona-se ao lado e em favor da classe dominante, assim voltando toda a sua produção e existência á burguesia. Exemplo disso foi a aprovação da moção de apoio ao golpe civil-militar pelo Conselho Universitário em abril de 1964, assim como o famigerado sistema de cotas aos filhos de latifundiários que tanto perdurou no seio desta instituição.

A UFBa, alicerçada sob a lógica de unidades descentralizadas –sendo as mais antigas a Faculdade e Medicina e Escola de Belas Artes- e com alto grau de independência, arca com os malogros de uma estrutura medieval que historicamente deu eloqüência ás contradições da relação público x privado. O patrimonialismo é característica intrínseca á essa instituição.

A dificuldade homérica de dar poder aos espaços mais amplos e representativos de decisão na Universidade revela-nos a inexistência histórica de uma revolução burguesa no sentido clássico do termo nesta instituição. Vide deliberação sobre o CTIFRA no Conselho Universitário da UFBa no fim de 2012.Pode-se comparar ,dessa maneira, o Conselho Universitário, regente maior das deliberações universitárias ao parlamento ,órgão máximo de deliberação e formulação política no âmbito da democracia burguesa.


O CONSUNI ,assim como o parlamento, age sob o paradigma do fato consumado. Há não apenas dificuldade em efetivar as deliberações emanadas deste conselho, como também em fazê-lo adequar-se ao espírito do qual advém: o da democracia e liberdade. Há debilidade em lidar com a própria institucionalidade na UFBa, e nesse sentido a ausência de debates efetivos neste quadro sobre a adesão á Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e 2012 é exemplo significativo disso.

O emblemático ano de 2012

O ano de 2012 fora o maestro das significativas alterações no desenho político da UFBa. A greve amalgamou anseios concretos da classe trabalhadora á reorganização pela base das mesmas, assim evidenciando a necessidade absoluta da valorização desse instrumento de luta e desmistificando idéias oportunistas: a Universidade serve, ainda, á burguesia.

O movimento docente, centro do furacão no ano de 2012, evidenciara a crise profunda da direção: a embriaguez da categoria custara-lhe oito acéfalos anos. A Chapa APUB VIVA, filha do comando de greve dirigente, não apenas reforça a importância de um sindicato de luta (apesar de suas inúmeras contradições e debilidades), mas trás á tona novos sujeitos políticos que assim mudam o tabuleiro político da Universidade. O duplo poder está instaurado, e a base ativa referencia-se naqueles que foram derrotados eleitoralmente. Cabe a esse grupo a tarefa de manter mobilização permanente, pautar com política sua direção e manter-se coeso ainda que ajam divergências substanciais. O ano de 2013 será pedagógico nesse sentido.

O movimento estudantil foi ator primordial em 2012: através dos mais variados mecanismos de luta, organizou-se pela base e travou batalha árdua por suas pautas. Protagonista da construção do espaço organizativo dos três segmentos do movimento paredista, sob o norte da unidade na ação, fez dos sujeitos da UFBa mais que habitantes do mesmo nicho: avançou-se a consciência de classe na Universidade. Pela primeira vez na história dessa instituição houve audiência pública entre estudantes, docentes e técnicos administrativos e Administração Central, pautada na histórica carta de reivindicações dos três segmentos. Eis o maior legado político,além do BUZUFBA, da greve.

O movimento paredista, metáfora maior desses feitos do projeto de expansão das IFES, põe sob a mesa as contradições desse processo. A fundamental expansão que ocorreu trouxe consigo contradições substanciais que assim colocam em questão o seu próprio caráter. A luta por assistência estudantil, melhores condições de trabalho e turnos contínuos são provas desses paradoxos. O ano de 2013 trás o desafio da comunidade acadêmica via unidade dos três segmentos efetuarem análise profunda do REUNI, suas conseqüências e contradições e assim traças perspectivas. Deve-se construir amplo debate, inclusive, em Assembléia Universitária.

O desenho político da UFBa

No âmbito da Administração Central da Universidade Federal da Bahia, 2012 revelou aspectos significativos. O balanço da correlação de forças e das contradições de um reitorado de coalizão, composto por grupos que durante muito tempo se opunham- incluindo membros do auto-intitulado grupo dos 11 (esquerda universitária), precisa ser feito. A Magnífica Reitora Dora Leal talvez seja uma faca de dois gumes. Sua aparente capacidade de agradar a gregos e troianos revela-se não apenas falha, como também de certa forma suicida. O primeiro BA X VI deste reitorado, o CONSUNI que deliberou sobre a EBSERH foi a prova maior disso: por muito pouco sua frágil capacidade de articulação custara-lhe caro.

O ano de 2013 é o último suspiro antes de um grande mergulho. A necessidade absoluta de aprofundar-se a disputa no âmbito institucional da Universidade através dos setores ligados a antiga Esquerda Universitária- com seus novos atores, inclusive- casa com a idéia de criar um substrato político construído na (e para) a base: aliar luta institucional com luta de massas é determinante. Ocupar os espaços institucionais, disputá-los e dialeticamente criar mecanismos sociais e de massas que superem a lógica parlamentar. O ano de 2012 ensinou que os anseios da força motriz da Universidade não cabem no CONSUNI.

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