2 de maio de 2013

Quem é você?



*George Luiz Santos de Sousa

Parece tão fácil essa pergunta. Seria insipiente respondê-la sem uma análise um pouco menos pessoal. Rapidamente a pergunta se tornaria um pouco mais dura e complexa: Quem é você na sociedade? Tendo plena noção da crítica que minha afirmação pode gerar, atesto que somos apenas o que representamos. Somos a troca de sensações. E ai reside a problemática dessa representação. 

Podemos sentir uma música, ler um quadro, e isso se dá por um meio decodificador. A comunicação distingue o homem dos outros animais. E ela pode ser entendida como um processo da troca de experiências para que se torne patrimônio comum. Ela modifica a disposição mental das partes envolvidas e inclui todos os procedimentos por meio dos quais uma mente pode afetar outra. Isso envolve não somente as linguagens oral e escrita, como também a música, as artes plásticas e cênicas, ou seja, todo comportamento humano. Neste contexto, atenho-me a identidade de gênero e sua representatividade social.


Diferenças hormonais, cromossomos X, Y representam apenas uma tentativa de catequizar e definir para a massa o que é homem e o que é mulher. Escolho não falar de religião, pois a considero como um dos maiores, piores e persistentes males sociais. O que temos como real é algo socialmente construído e o saber é uma construção do sujeito, mas não desligada da sua inscrição social. Ser algo é representar socialmente, é ser objeto subjetivo. Essa subjetividade nos remete à lógica da aparência, à ilusão dialética e ao vazio, em minha opinião, de tudo isso. A identificação desafia a ciência social bem como a ciência natural. Arrisco dizer que nascer com determinada genitália nunca foi decisivo do ponto de vista de identificação e sempre foi fruto da representatividade. Ao ser desprovido do falo, o dito homem não deixará de ser homem se assim ele se identificar. 

A princípio, grupos diferentes têm visões diferentes de um mesmo objeto sem que a diferença implique obrigatoriamente desigualdade. Quando este objeto salta de um grupo para o outro, a nova abordagem pode ser desfavorável se pautada na identidade de gênero. “Em casa sou casto, na escola sou punk e entre quatro paredes gosto de ser dominado”. A inversão desses papéis é pouco possível, sendo que a aceitação e o comportamento estão restritos ao grupo. O respeito deveria ser o alicerce que daria vazão a identidade e, portanto, a identificação e papel social livre.

No contexto da Universidade, percebo micro cosmos de toda a sociedade, de todo preconceito e castração. Acredito que o ataque para a mudança deva partir daí, desse ambiente favorável ao conhecimento, à troca de informação, de experiências e vivências. Debates, atos, exposições, arte, música. Sou feliz em ver uma abertura muito maior da aceitação homossexual, ainda que esteja anos luz do que a natureza prega. Aceitar alguém da forma que ela é deve ser o preceito básico de toda relação social. Neste sentido sou ditador - sê tu o que queres ser e aceitem todos o que ele representar. Nada somos alem disso. Somos o que acreditamos ser, somos viados, somos sapatonas, somos travecos, maconheiros, religiosos, músicos, semi-deuses...

Quando me aproprio do prefixo dos transgêneros, onde o rigor me traduz como algo além do gênero, eis o que eu gostaria de ser. Um ser que transcende a representação social da identidade de gênero. Alguém livre e aceito como tal.

E respondendo a minha própria pergunta: Eu sou George Luiz Santos de Sousa - G.L.S.S. Sou gay, sou lésbico e sou super simpatizante. Por me identificar heterossexual, cito um Voltaire distorcido por mim - Posso jamais ser o que você é, mas morrerei defendendo seu direito de sê-lo! 

*George Luiz Santos de Sousa é estudante de Física na Universidade Federal da Bahia

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