*George Luiz Santos de Sousa
Parece tão fácil essa
pergunta. Seria insipiente respondê-la sem uma análise um pouco menos pessoal.
Rapidamente a pergunta se tornaria um pouco mais dura e complexa: Quem é você
na sociedade? Tendo plena noção da crítica que minha afirmação pode gerar,
atesto que somos apenas o que representamos. Somos a troca de sensações. E ai
reside a problemática dessa representação.
Podemos sentir uma
música, ler um quadro, e isso se dá por um meio decodificador. A comunicação
distingue o homem dos outros animais. E ela pode ser entendida como um processo
da troca de experiências para que se torne patrimônio comum. Ela modifica a
disposição mental das partes envolvidas e inclui todos os procedimentos por
meio dos quais uma mente pode afetar outra. Isso envolve não somente as
linguagens oral e escrita, como também a música, as artes plásticas e cênicas,
ou seja, todo comportamento humano. Neste contexto, atenho-me a identidade de
gênero e sua representatividade social.
Diferenças hormonais,
cromossomos X, Y representam apenas uma tentativa de catequizar e definir para
a massa o que é homem e o que é mulher. Escolho não falar de religião, pois a
considero como um dos maiores, piores e persistentes males sociais. O que temos
como real é algo socialmente construído e o saber é uma construção do sujeito,
mas não desligada da sua inscrição social. Ser algo é representar socialmente,
é ser objeto subjetivo. Essa subjetividade nos remete à lógica da aparência, à
ilusão dialética e ao vazio, em minha opinião, de tudo isso. A identificação
desafia a ciência social bem como a ciência natural. Arrisco dizer que nascer
com determinada genitália nunca foi decisivo do ponto de vista de identificação
e sempre foi fruto da representatividade. Ao ser desprovido do falo, o dito
homem não deixará de ser homem se assim ele se identificar.
A princípio, grupos
diferentes têm visões diferentes de um mesmo objeto sem que a diferença
implique obrigatoriamente desigualdade. Quando este objeto salta de um grupo
para o outro, a nova abordagem pode ser desfavorável se pautada na identidade
de gênero. “Em casa sou casto, na escola sou punk e entre quatro paredes gosto
de ser dominado”. A inversão desses papéis é pouco possível, sendo que a
aceitação e o comportamento estão restritos ao grupo. O respeito deveria ser o
alicerce que daria vazão a identidade e, portanto, a identificação e papel
social livre.
No contexto da
Universidade, percebo micro cosmos de toda a sociedade, de todo preconceito e
castração. Acredito que o ataque para a mudança deva partir daí, desse ambiente
favorável ao conhecimento, à troca de informação, de experiências e vivências.
Debates, atos, exposições, arte, música. Sou feliz em ver uma abertura muito
maior da aceitação homossexual, ainda que esteja anos luz do que a natureza
prega. Aceitar alguém da forma que ela é deve ser o preceito básico de toda
relação social. Neste sentido sou ditador - sê tu o que queres ser e aceitem
todos o que ele representar. Nada somos alem disso. Somos o que acreditamos
ser, somos viados, somos sapatonas, somos travecos, maconheiros, religiosos,
músicos, semi-deuses...
Quando me aproprio do
prefixo dos transgêneros, onde o rigor me traduz como algo além do gênero, eis
o que eu gostaria de ser. Um ser que transcende a representação social da
identidade de gênero. Alguém livre e aceito como tal.
E respondendo a minha
própria pergunta: Eu sou George Luiz Santos de Sousa -
G.L.S.S. Sou gay, sou lésbico e sou super simpatizante. Por me identificar
heterossexual, cito um Voltaire distorcido por mim - Posso jamais ser o que
você é, mas morrerei defendendo seu direito de sê-lo!
*George Luiz Santos de Sousa é estudante de Física na Universidade Federal da Bahia
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