8 de agosto de 2013

Algumas lições de junho e o Partido dos Trabalhadores

Wanderson Pimenta*

Tivemos a oportunidade de acompanhar as maiores mobilizações dos últimos vinte anos. Desta vez, não estava em jogo os destinos institucionais da República, como no “Fora Collor” ou nas “Diretas Já”. Foram atropelados todos aqueles que imaginavam com certo de ar superioridade que havíamos atingido um status de bem estar social incompatível com grandes insatisfações. Enfim, se éramos um “País de classe média”, se estávamos todos absorvidos por um pacto de conciliação entre as classes e se o governo de composição

conseguia minimamente apresentar respostas a problemas seculares, como a redução da miséria, a partir do incremento das políticas de inclusão, qualquer previsão sobre algum tipo de convulsão social seria considerada loucura pelos céticos de plantão. Acontece que, nem sempre, as cartomantes a serviço da institucionalidade estão conectadas com o dia-a-dia das ruas. De tão acostumados ao ar condicionado das repartições, não conseguem mais se misturar aos novos ares das manifestações sem se resfriarem.

Assim, seria difícil imaginar que essa esquerda dispusesse de alguma condição para interpretar ou apresentar respostas às grandes mobilizações de junho. Atônitos, vendo pela televisão ou pela internet centenas de milhares de pessoas nas ruas de diversas cidades, não conseguiam acreditar no que viam. Os fatos que já desmentiam o triunfalismo medíocre há alguns anos, desta vez, sepultaram a tese do bem estar perpétuo propagada pelos tribunos da esquerda adepta “das leis e da ordem”. Entendemos com pesar, sob pena de do cometimento de equívocos, mas com a sobriedade da análise do momento, que a geração que fundou o Partido dos Trabalhadores, dirigiu o mesmo durante as grandes manifestações dos anos 80, criou a CUT, elegeu e reelegeu Lula, levou Dilma à presidência e, ainda mantém o PT sob férreo controle, foi completamente superada. Incapazes de abandonar as suas posições que, reconhecemos, foram duramente conquistadas, estão tão amarradas a elas que já não se diferenciam. Entrincheirados, já não se dispõem a qualquer tipo de revisão, retificação ou autocrítica. Como aqueles que se afogam, estão dispostos a arrastar com eles não apenas o salva-vidas, mas também o bote. De tanto nadarem a favor da correnteza, não conseguem visualizar o abismo adiante. De timoneiros, passaram a proprietários do navio.
Lições de junho

As manifestações de junho não estavam conectadas a nenhum sentimento que pudesse ser facilmente canalizado para a via institucional. Se a luta de massas pela “anistia ampla, geral e irrestrita”, as “Diretas Já” e o “Fora Collor”, que levantaram milhões, passaram, necessariamente, pela via institucional, ou seja, pela luta parlamentar, junho mostrou que esta pouco importava. Não se trata, obviamente, de negar a combinação das duas vias. Contudo, a luta institucional, deixando de ser travada de modo tático e se transformando em um fim em si mesma, não mais serve.

A maioria dos parlamentares petistas estão adestrados pela via institucional. Realizam plenárias para legitimar decisões tomadas a priori, tem atuação parlamentar completamente dissociada de anseios coletivos e se atrelam docilmente aos interesses do governo. Suas campanhas são financiadas pelos mesmos agentes que sempre financiaram a “democracia” brasileira. Em se tratando de financiamento, os resultados são ansiosamente esperados pelo agente financiador. Sob esta lógica, a maioria dos parlamentares petistas, outrora vanguarda da luta institucional contra esta mesma institucionalidade, em defesa de interesses coletivos, passaram a cordeiros a serviço do governo. O governo, conforme dissemos, está subordinado aos interesses do capital financeiro, sob a insígnia da “governabilidade”. A cúpula partidária fez a sua opção pela gerência do Estado que, conforme dizia um velho barbudo, que paira como um fantasma para assombrar aqueles que insistem em negar a realidade que salta aos olhos, é “o comitê executivo da burguesia”.

Junho foi talvez o último dos alertas dados ao PT. Ou junho serve para varrer da vida partidária tais práticas, deslegitimar mandatos e mandatários como supostos condutores do partido, eliminar cúpulas que se legitimam em si mesmas e concorrer para um reposicionamento das forças internas do partido, ou estaremos assinando o nosso atestado de óbito. E que a capacidade que o PT tem de se reerguer, do ponto de vista dos resultados eleitorais, não seja confundida com revigoramento político.

O Partido de massas, o amigo urso e a incapacidade da direção

O PT ainda é um partido organizado de modo artesanal. Diretórios históricos não possuem sedes próprias. Poucos são os diretórios das cidades médias que possuem uma mera sede alugada. Um curso de formação efetivo não acontece há anos. A imprensa partidária não existe ou é incipiente. O militante petista de base, principalmente nas cidades do interior, é tomado pelo descrédito e pela desesperança e se torna presa fácil do pragmatismo de determinados mandatários.

Uma concepção mais ampla de um partido de massas passa pela ideia de que forças externas contribuem de forma decisiva para a vida interna do partido. Ou seja, o partido de massas não é formado apenas pelos seus filiados. Não são poucos os exemplos de militantes que contribuem decisivamente com o PT mas que não são filiados. Outrossim, também não são poucos os exemplos de influências externas ao PT que tentam destruir o seu caráter de partido de esquerda. Esses atores possuem mais força do que qualquer filiado interno. É o caso da oligarquia Sarney que exerce pressão decisiva para os rumos do PT no Maranhão. Tudo isso com a chancela da cúpula. O processo de eleição direta interno, longe de ser democrático, sacraliza ano a ano a direção majoritária. E ainda existem aqueles que apresentam que, internamente, o voto de um Lula ou de uma Dilma tem o mesmo peso de um filiado de base. Custa acreditar como a fanfarronada não tem limites.

Nesse sentido, é necessário interpretar o sentimento das ruas. Insistimos que a rua deu um recado ao PT que a direção majoritária não quer, não pode e não sabe absorver. É um equívoco dizer que as ruas estavam repletas de vândalos e de pessoas de classe média. Ora, sabemos que as manifestações organizadas pelo PT nos anos 80 e 90 nem sempre foram “ordeiras e pacíficas”. Até as pedras sabem que, normalmente, o violência é iniciada pelo Estado na figura da polícia. E outra contradição: a propaganda dos pioneiros, no partido e no governo, há pouco tempo atrás, vangloriava a máxima de que o “Brasil era um país de classe média”. Portanto, os pioneiros insistem na surdez e, por consequência, na tentativa de desqualificação. E quem não tem a capacidade de ouvir, tem pouca possibilidade de se manifestar.

Alguns apontamentos

A militância do PT está na encruzilhada. Levantar uma bandeira do PT numa manifestação é correr o risco de ter violada a sua integridade física. Somos considerados traidores, acusados de enterrar os sonhos de gerações. Os nossos militantes, sobretudo os jovens, que estão na dianteira em muitas das mobilizações são ridicularizados, desmoralizados e atacados. Enquanto a direção majoritária colheu os frutos de um passado glorioso, foram elevados a arautos da esquerda, ocuparam postos de governo e, enfim, se transformaram em gerentes estatais, a esquerda e a juventude do PT sentem o gosto amargo da repulsa das ruas. Mesmo assim, nada é pior do que frequentar eventos partidários carregados de um triunfalismo barato, auto proclamatórios e arrogantes. São os sinais quase que irreversíveis da senilidade política.

Talvez, única possibilidade para o PT é o fortalecimento da sua juventude, a sua autonomia política e seu consequente empoderamento. Eis o único setor que, em aliança com os setores que jamais dormiram, como os sem terra, sem teto, o povo da periferia, as minorias jovens e insatisfeitas nas atuais direções sindicais, pode apontar novos rumos pela esquerda e em defesa do socialismo. O único setor que pode transmitir à cúpula o sentimento das ruas, já que também era parte ativa dele.

Todavia, sabemos que os pioneiros se transformarão em barreiras. Mas esta batalha deve ser encarada sob o espírito de que é o destino da classe trabalhadora e das juventudes que está em jogo. É chegada a hora de testar a nossa disposição em ir à luta até as últimas consequências!

*Wanderson Pimenta é membro da Executiva Estadual da Juventude do Partido dos Trabalhadores - Bahia

2 comentários:

  1. O PT é uma piada. O pior partido político do Brasil, só tem bandido!!!
    Vamos nos unir em prol de um país melhor, e acabar com esse partido de fdp, ou exportar para Cuba...

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  2. POR FAVOR, O ESTOPIM, ME PERDOEM.
    http://pedido-de-perdao-ao-estopim.blogspot.com.br/2013/11/por-favor-o-estopim-me-perdoem.html

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