17 de fevereiro de 2014

O GOVERNO DO PT E A COMUNIDADE LGBT EM UMA ANÁLISE CRÍTICA.






O maior partido do país foi o partido mais engajado na luta pelos direitos LGBT, mas fatos que se desenrolaram nos últimos anos mancharam a sua reputação. Em relação ao termo de compromisso com a ABGLT, é o partido com maior número de candidatos que assinaram o documento proposto por aquela ONG, com 31 dos 94 candidatos a deputado federal comprometidos. Foi MartaSuplicy a primeira deputada federal a propor a união civil entre pessoas do mesmo sexo ainda na década de 1990. Em vários governos municipais, estaduais e no governo federal, implantou inúmeras políticas públicas voltadas às demandas LGBT.


O PT foi um dos primeiros, senão o primeiro partido a levantar a bandeira LGBT no Brasil, com essa e outras lutas conseguimos fazer do PT um partido agregador, com ideais longe do conservadorismo, no legislativo nacional e no executivo sempre fomos nós os protagonistas do debate no enfrentamento a Homofobia, são vários os Estados que os militantes do PT lideram essa luta e muitas conquistas Estaduais e Municipais também se deve ao nosso engajamento, desde as campanhas de 1989 as bandeiras coloridas andavam lado a lado com as bandeiras vermelhas e a nossa estrela, quebrar paradigmas e ter ousadia em muitos lugares do Brasil virou marca do PT, vários companheiros e companheiras que estiveram nesta luta carregavam sonhos em um dia viver um amor não clandestino, com visibilidade e aceitação social, sonhavam também não viver mais nas margens do Brasil e assim virarem verdadeiros/as cidadãos/ãs, muitos lutadores ficaram no caminho, como é o caso da companheira travesti Shanayne, que foi brutalmente assassinada, ela concorreu, nas últimas eleições municipais, a um cargo de vereadora pelo Partido dos Trabalhadores, derrotada nas urnas, empunhou com dignidade, entre outras, as bandeiras da igualdade de direitos e o fim da discriminação homofóbica em nossa sociedade.

Assim que chegamos ao poder em 2002, foram muitas as bandeiras coloridas a recepcionarem o presidente Lula na sua posse, pois é assim que fomos constituídos, a união de várias lutas sociais, que cada qual apoiava a outra na perspectiva de avançarmos todos juntos, conseguimos chegar ao governo, tínhamos muitas perspectivas de avanço com um partido que ajudamos a construir e que sempre esteve ao nosso lado nas lutas contra o conservadorismo, foi realizado na gestão do companheiro Lula, a I Conferência Nacional LGBT, onde várias diretrizes e proposições foram retiradas, assim em seu desdobramento foi criado a Secretaria Nacional LGBT, comandada hoje pelo Companheiro Gustavo Bernardes, esta secretaria é vinculada a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, comandada pela Ministra Maria do Rosário, outro avanço foi à obrigação das delegacias em registrar os casos de homofobia no Brasil, como nunca foi registrado era difícil termos também dados sobre as mortes que aconteciam anteriormente motivados pela homofobia.

Nem tudo é só avanço, durante a campanha da presidenta Dilma em 2010 a militância LGBT em massa apoiou a eleição da companheira Dilma na esperança que continuasse o legado do Lula no tratamento aos LGBTs no Brasil, mas não foi o que ocorreu, já no primeiro ano o então Ministro da Educação Fernando Haddad apresentou um projeto que se chamava Escola Sem Homofobia, que continha um material didático para as escolas, onde a educação para a diversidade era o foco, o projeto foi duramente criticado e difamado pela bancada evangélica, chegando a rotulá-lo como "Kit Gay" a bancada destorceu totalmente o projeto e chegou a comentar que ele incentivava a pedofilia, a Presidenta Dilma pela primeira vez decidiu ouvir as críticas dos evangélicos e vetou o projeto. O mesmo aconteceu no Ministério da Saúde com propaganda de prevenção contra as DSTs, direcionado aos homossexuais, onde sempre sofrem pressão negativa da bancada evangélica e da mesma forma recebeu veto da presidenta, no ano passado foi realizado a II Conferência Nacional LGBT, que para surpresa de todos, Dilma não se fez presente, a presença dela era expectativa já que Lula participou da I conferência e ainda levantou a bandeira colorida! No início do ano de 2013, o pastor homofóbico Marcos Feliciano assumiu a Comissão de Direitos Humanos e Minorias - CDMH, esta comissão sempre foi disputada pelo nosso partido, mas de uma hora para outra os parlamentares decidiram não mais disputar, assim que o pastor assumiu, nosso governo e partido que sempre até então esteve ao lado da comunidade LGBT, passou a receber de forma clara e aberta muitas críticas da comunidade LGBT, fomos acusados de sermos omissos com uma de nossas maiores causas que é os direitos humanos, o Pastor também foi alvo de críticas, pois deu declarações polêmicas em apologia ao racismo, machismo e homofobia, Dilma voltou a ser alvo de críticas por não se manifestar.

            Ainda restava uma alternativa para salvar o Governo e nosso partido das fortes críticas e quase todas justas ao nosso partido e Governo, que era a aprovação do PLC 122, o projeto previa a Criminalização da Homofobia, crimes cometidos motivados pelo ódio, a autoria era da Deputada Iara Bernardi (PT-SP), foi aprovado há anos pela câmara dos deputados e está rolando na casa legislativa desde 2002, depois de aprovado foi para o Senado onde ganhou a defesa da companheira Marta Suplicy (PT-SP), Marta começou a ser alvo da bancada evangélica do Senado, logo marta assumiu o Ministério da Cultura e o companheiro Paulo Paim pegou a sua relatoria, o projeto foi modificado para apaziguar os evangélicos, mas nem assim adiantou, sob severas críticas Paulo Paim (PT-RS) e a Senadora Ana Rita (PT-ES) lideraram bravamente o projeto e tinham condições de aprova-lo já em 2013, porém o Governo através de vários atores entre eles a companheira Ideli Salvatti, pediam que adiassem a votação em várias sessões que o projeto seria votado, para que o Governo conseguisse um “entendimento com os evangélicos”, mas as negociações não avançaram e segundo reportagens, Ideli ligou para os Senadores para deixar a votação para depois das eleições, (para não perder apoio dos evangélicos fundamentalistas), com tamanho desprezo do governo com esse que é um dos mais importantes projetos da história LGBT no Brasil, que asseguraria direitos para essa comunidade e criminalizava a homofobia, com tantos adiamentos os fundamentalistas no senado conseguiram aprovar em plenário um requerimento que apensava o PLC 122 ao novo código penal que está sob a relatoria do PDT (Senador Evangélico), com isso o projeto de relatoria e defesa de Paulo Paim foi derrotado, com a falta de mobilização e articulação da base do governo e com tantos pedidos de adiamento, não restou duvidas que o Governo Dilma trocou VIDAS POR VOTOS e traiu quem sempre esteve ao nosso lado!

Não resta duvidas também a profunda decepção LGBT com este Governo, o Setorial LGBT do PT de Santa Catarina se manifestou através de uma nota, manifestando repúdio a atitude da companheira Ideli Salvatti com tanta covardia em não defender os interesses de quem historicamente sempre esteve ao nosso lado. De acordo com um relatório da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da presidência da república já foram registrados só este ano mais de 40 mortes motivadas por homofobia no Brasil, estamos falando de vidas esfaceladas, mortes gratuitas por motivação de ódio, mortes nefastas machadadas, facadas na cabeça, barras de ferros no estômago, amputação de membro. Tudo motivado ao ódio e a nossa omissão no enfrentamento a homofobia de fato! E este índice cresce a cada ano.

É necessário fazer uma crítica pontual ao Secretário Nacional da Juventude do PT que deixou a muito tempo de discutir políticas públicas, discutir a luta contra o preconceito, contra o machismo, racismos e homofobia, deixou de instigar o debate de educação libertadora, presente na essência do Partido dos Trabalhadores, a Secretaria Nacional da Juventude perde muito tempo discutindo o golpe do STF contra o PT e deixa sua verdadeira característica de debate com a juventude interna para outro plano posterior.

Na Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), não é diferente, deixamos de disputar o pensamento, não possuímos um plano estratégico contra o conservadorismo, deixamos de instigar a luta juvenil pela liberdade de ser, nos afastamos das pautas do idealismo e nos entregamos para o pragmatismo burocrático, não abrimos diálogo com a juventude, que nós enquanto governo, ajudamos a melhorar de vida, aquela juventude que entrou na Universidade através de COTAS, PROUNI, SISU, FIES, CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS. Não possuímos um diálogo aberto e direto com a juventude universitária, apenas a entregamos ao sistema, que há muito tempo nós mesmos criticamos.

As manifestações de rua de junho/julho apresentaram várias pautas e demandas para este Governo e a luta contra a homofobia esteve presente em todas as manifestações, mas possui algo que precisamos destacar, queremos mudanças sim, mas com Dilma Presidente! Muitas são as decepções, mas ninguém pediu para voltar ao passado, nem mesmo reclamou das políticas sociais deste governo, não restam dúvidas também que é com o PT que queremos continuar e junto com esses avanços sociais importantes para o povo brasileiro, porém queremos reeleger um governo que venha com mudanças significativas no enfrentamento estratégico a homofobia, precisamos disputar a ideologia, precisamos educar para a diversidade, começar a ter ações mais efetivas na destruição do conservadorismo, queremos uma líder não só da nossa nação, mas também do projeto que é representado pelo partido dos trabalhadores, uma líder que se manifeste e inclua em seus discursos a luta contra a homofobia e a defesa da população LGBT, a presidenta ocupa um espaço de formadora de opinião importante, não podemos fugir de polêmicas, precisamos ir para o embate, pois quando fugimos do embate, perdemos o debate! E quem ganha é quem defende um projeto diferente do nosso!

*Secretário de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT de Itapema/SC, Membro Suplente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores, Representante discente no Departamento de Administração Pública da UDESC/ESAG e Membro Dirigente da União Catarinense dos Estudantes

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