24 de março de 2015

A política do “tudo nosso, nada deles”

*Daniel Mathias

"Há um mal econômico, que é a errada distribuição da riqueza. Há um mal político, que é o fato de a política não estar a serviço dos pobres". (José Saramago)

Recentemente, ao dialogar com uma cidadã da minha cidade natal, Caém-BA, fui inserido numa reflexão muito interessante. Palavras que nos fazem pensar, e nos causam indignação. Fazem-nos compreender o porquê de precisarmos vivenciar a política, mesmo que em nível micro, e sermos “a mudança que queremos ver no mundo”. De buscarmos, com todas as forças, reverter o quadro perverso, retrógrado e injusto representado pela política do “tudo nosso, nada deles”.


Lembro que me foi dirigido às seguintes palavras: “Votarei nulo e nunca mais reelejo candidato nenhum”. “Em época de eleição são promessas e mais promessas, como se fôssemos vivenciar a taxa de desemprego em nível zero, obras e fábricas que utilizam da força de trabalho dos cidadãos da nossa terra. Ledo engano, continua sempre a mesma coisa. Retiram-se funcionários do grupo que perdeu a eleição ou pessoas que não fizeram campanha e coloca-se bajuladores. Quem tem um pouco de condição pode dar estudo aos filhos, outros, vão buscar emprego noutras cidades. Mas, aqui, tudo continua como antes”.

“Promessas vazias. Não assisto mais a nenhum comício: não gosto de ouvir mentiras feito boba”. “Vereadores que não fazem nada, apenas cumprem ordens, com raras exceções”. Palavras das quais compartilhei e compartilho energicamente. Esta cidadã compreende muito bem a política do “Tudo nosso, nada deles” perpetrada em muitos municípios do Brasil. Grupos políticos que se enriquecem através do erário, enquanto a população, as pessoas menos abastadas, veem um destino precário, aterrorizante e com poucas perspectivas a sua frente. “É tudo nosso”, assim pensa o grupo político vencedor, ao referir-se aos benefícios de estar gerindo o erário e “representando” os cidadãos. “Nada deles”, incluindo o povo, os menos abastados, e àqueles que se opuseram politicamente. Difícil pensar que muitas pessoas, que compõem a parte que é digladiada, usurpada milimetricamente em seus direitos, ainda assumam o discurso que as oprime. Infelizmente, não é difícil achar indivíduos que comunguem destes posicionamentos que os prejudicam, pois que o fazem inconscientemente.

É necessário dar um basta neste tipo de política. Demonstrar às pessoas que este jogo político só prejudica as suas vidas e de seus familiares, além de comprometer futuros brilhantes que poderiam ser concretizados, caso a coisa pública fosse tratada com esmero e respeito. Precisa-se ter em mente que a política do “Tudo nosso, nada deles” deteriora a educação, a saúde, os cofres públicos, o saneamento básico, o trabalho, o esforço pessoal. Beneficia poucos. É uma política que destrói vidas, e faz com que pessoas submetam-se a vários tipos de situações constrangedoras, sendo limadas dos mais elementares direitos. É preciso reverter esse estado de coisas, fazendo com que o “Tudo nosso” represente o direito do povo, o respeito ao Estado Democrático de Direito, a gerência justa da coisa pública. E “Nada deles” refira-se à corja de usurpadores, aproveitadores, políticos corruptos e profissionais.

*É estudante de Direito da UFBA

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