18 de abril de 2017

Consequências dos ataques americanos a Síria

 
Da Coordenação

Quando ainda era candidato à presidência dos Estados Unidos, o então presidenciável Donald Trump afirmou em algumas ocasiões a sua disposição de corrigir o rumo da política externa americana, especialmente na Síria. Em que pese a dificuldade geral em atribuir qualquer traço padronizável a sua administração, o que chama atenção é que ninguém alertou, com maior ênfase, o papel do Estado americano neste jogo.

Em maior ou menor grau, todos se apressaram para tentar estabelecer qual seria a diferença fundamental entre a gestão de Obama e o novo gerente da Casa Branca. Mas o fator Trump parece ter pego os mais distintos analistas, das mais diversas linhas ideológicas, de surpresa devido a sua imprevisibilidade. É um rodopio a 180 graus a cada novo discurso e a cada nova ação, colocando à mesa um conjunto de possibilidades, inclusive de não ser nenhuma delas.

Em que pese o exagero sobre as mudanças de humor do atual presidente da maior potência imperialista do planeta, há algo de constante nessa equação. Por trás de todo caos e toda catarse de coisas, há sempre uma ordem que é o Estado americano e a sua inflexibilidade como mecanismo de preservação do próprio império.

A vitória de Trump pode ser interpretada como uma importante ruptura em anos da dicotomia até então estabelecida entre Democratas e Republicanos. Em que pese o fato de o conservador ser do partido Republicano, ele foge aos padrões dos últimos republicanos que alçaram o poder nos Estados Unidos. Na verdade Trump representa a falência do binarismo partidário norte americano, um ponto fora da curva, mas nada que antagonize o funcionamento do sistema.

O establishment dos EUA parece preparado para lidar com os mais diferentes tipos de condução e é possível perceber uma centralização cada vez maior da gestão Trump aos interesses dos controladores do Estado. Os discursos politicamente incorretos, o desprezo pela política externa, a mudança de rumos da economia que reorientaria a visão estratégica dos EUA para si próprio, parece dar lugar cada vez mais a uma política de Estado intervencionista como sempre foi.

Quando Trump disse que o seu objetivo número um seria atacar e destruir o Daesh no Oriente Médio, em parceria com os russos e com o próprio governo sírio, as vozes da esquerda pró imperialista imediatamente correram para "denunciar" o bloco da resistência em aliança com o magnata. Depois dos atentados de Paris, de Beirute, sem falar nos 400 mil mortos e 11 milhões de deslocados de guerra, o que importa mesmo para os senhores da guerra e seus aliados aqui no Brasil é se Assad sairá.

Não importa qual história ou narrativa seja necessária para fazer desta política o centro de todas as ações que se empenhe energia. Destruir a Síria, assim como o Iraque e a Líbia, é parte da nova reorganização global das potências centrais para manter em curso a sua política de pilhagem e submissão dos povos. Quebrar a Síria, significa quebrar o corredor do apoio iraniano a todos os grupos e países que resistem as agressões sionistas e wahabitas em toda a região.

O ataque de Trump a base militar síria localizada em Homs serviu para reanimar os mais distintos grupos terroristas que estavam sendo reduzidos no terreno de batalha pelo exército sírio. Uma sobrevida a AL Qaeda e ao Daesh, que imediatamente retomaram a iniciativa em Holms avançando sobre parte do território. Finalmente, o ataque tem a sinalização de um prolongamento da extenuante guerra que já se aproxima de meio milhão de mortos, segundo o próprio Observatório de Direitos Humanos sírio, localizado na Inglaterra e opositor ao Governo.

De sua parte os russos diminuíram a disposição de diálogo com a coalização liderada pelos EUA e tomaram as seguintes medidas imediatamente depois: denunciaram os ataques na ONU (esperável, sem novidade); fortaleceram as defesas aéreas sírias (muito importante, dará aos sírios os meios para vedar seu espaço aéreo); cancelaram o Memorando com os EUA (agora, os russos na Síria terão direito de decidir quando atirar ou não atirar); desativaram a linha protegida de telefone direto com os militares dos EUA (os EUA não poderão mais telefonar aos russos e pedir que façam ou deixem de fazer qualquer coisa).

Mesmo não acreditando no alarmismo de um confronto direto, a escalada da violência pode assumir outra cena, aprofundando rivalidades e animosidades que podem sair do controle.

Trump, assim como Obama e outros, nada mais são do que gestores de um mesmo projeto com uma pequena margem de manobra para tomar algumas decisões que muito pouco podem alterar a política de Estado dos Estados Unidos. Aliás, curiosamente, o último que tentou estabelecer qualquer tipo de mudança nessa política foi misteriosamente assassinado quando acenava em carro aberto. Não menos curioso é o fato de o assassino de Kennedy ser morto dias depois quando aguardaria interrogatórios e julgamentos.

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