26 de julho de 2014

Por que provocar a Palestina ajuda a resolver os problemas internos do Estado Sionista?


* Diego Rabello

Mais uma vez perplexo, o mundo acompanha pelas redes alternativas de informação o massacre da ocupação israelense a gaza. Até aí, nada de muito novo, muita desinformação – quando não informações falsificadas – sobre a investida de um dos exércitos regulares mais bem equipados do planeta. Mas, de fato, o que há de novo nessa nova provocação de Israel contra o povo palestino? O mísseis tomahawk? O sequestro de três jovens judeus? O Hamas?

A máquina de propaganda do imperialismo norte-americano foi capaz de manter durante décadas a opinião pública mundial sob uma absoluta confusão com o que se passa no oriente médio. É muito difícil compreender todos aqueles conflitos, que envolvem lutas internas encarniçadas, mas que se tornaram relevantes – pode-se dizer vitais - para o xadrez global por conta do petróleo, elemento fundamental para a existência da produção mundial tal como a conhecemos.

Voltei um pouco no tempo a minha frágil memória e lembrei que, após anos de desentendimentos ideológicos, táticos e estratégicos, o Hamas e os Fatah reuniram-se em torno de uma plataforma política capaz de construir um governo de unidade nacional. Isso, após décadas de tentativas frustradas por parte dos EUA e de Israel, em eliminar militarmente o principal grupo armado palestino, o Hamas. Israel e EUA apostaram, como sempre, na divisão interna dos grupos palestinos para manter os seus interesses regionais intocáveis e frustrando qualquer possibilidade de unidade.

Todos sabem que a região do oriente médio é um barril de pólvora. Você pode até iniciar um conflito em uma determinada região, mas se o conflito prolongar, a probabilidade da violência se alastrar entre os vizinhos, que divergem historicamente entre si, fatalmente aliando-se contra o invasor, vide a guerra dos seis dias, é enorme. Exemplo taciturno disso é o sentimento antiamericano em 101% das populações de Irã, Iraque, líbia etc.

No final da década de 40, ao fim da guerra, uma resolução da ONU criou o então Estado de Israel em território Palestino. Com a conivência da própria ONU, e sobre o pretexto de autodefesa, o Estado sionista se mete em reiteradas encrencas com os seus vizinhos. Mas claro, a cada fim de conflito, Israel avança suas fronteiras para além da resolução criminosa da ONU que criou o Estado sionista. Vale aqui ressaltar que, árabes e judeus vivam harmoniosamente na região antes da intervenção das nações unidas.

O Hamas, como se sabe, não reconhece o direito do Estado de Israel existir. Para um leitor desligado pode parecer absurdo, mas a conclusão óbvia para pôr fim a esse conflito é a dissolução de Israel (é o que eu defendo). Também como se sabe, isso não acontecerá nem por vias diplomáticas, muito menos por vias militares – Israel possui uma das forças armadas mais poderosas do mundo contemporâneo, inclusive, armas nucleares não declaradas. Porém, a posição do Hamas não impediu a construção de um governo de unidade nacional com os seus adversários internos, os Fatah.

Essa aproximação vem deixando Israel\EUA com a pulga atrás da orelha, pois, após todos esses anos de conflito, adversários históricos dentro da palestina apontam na perspectiva de pressionar o imperialismo através dos órgãos internacionais que os mesmos controlam. Então, qual é a solução objetiva para manter o conflito que interessa aos estados unidos e a Israel? É claro leitor, você é sagaz... vamos à guerra, pensa o engravatado judeu. Provocamos os extremistas do lado de lá, tomamos os terrenos mais férteis na palestina, a água (coisa rara na região) e quando eles reagirem com os seus pobres mísseis tomahawks invadimos gaza, provocamos uma matança em nome da nossa autodefesa e nos livramos da pressão internacional sobre a ocupação extra do território palestino.

Mas tem outra coisa aí. Nós cometemos um erro de leitura quando simplesmente generalizamos ao falar “O Estado de Israel”. Israel possui uma direita doente, uma espécie patológica que não tem o mínimo pudor em matar mulheres, idosos e crianças, porquê na cabeça dessa gente funciona mais ou menos assim: “gaza tem quase dois milhões de moradores, todos terroristas\bárbaros\infames”. Sem exagero, conheci israelenses progressistas, que me explicaram que existem vários grupos de resistência, inclusive dentro do exército, que não apoiam a política externa de Israel na questão palestina que me afirmaram o sentimento sanguinário da extrema direita.

O likud foi uma tentativa, até o momento, frustrada de Ariel Sharon (que o capeta o tenha) de conter essa turma que tem muita força, inclusive na comunidade internacional. Todo mundo sabe que parte significativa das bolsas de valores mundo à fora são de investidores judeus, o que não necessariamente tem algo a ver com essa turma. Pra completar a questão, e aqui é necessário bastante cuidado, um sentimento de culpa paira sobre a cabeça de todos por conta do holocausto. Qualquer critica dirigida a Israel é considerada pela comunidade judaica, de forma geral, como, adivinhem... sim, antissemitismo.

O apelo do holocausto, combinado com uma máquina de propaganda moderna gera isso. Alguns artistas têm atendido ao chamado da comunidade palestina em boicotar culturalmente Israel. Recentemente, o grande Roger Waters (O cara da maior banda de rock que a humanidade produziu, os Pink Floyd) escreveu uma carta relatando sua passagem pela Palestina e a sua adesão ao boicote, após cancelar um evento que faria em Tel Aviv. (confira aqui: http://www.vivapalestina.com.br/site/roger-waters-divulga-carta-aberta-contra-muro-do-apartheid-israelense/).

Como não existe a possibilidade de derrotar militarmente Israel, assim como não existe a possibilidade de derrotar militarmente nenhuma outra potência nuclear, pelo menos a ponto de extinguí-la, a única saída, assim como no Vietnã, é a pressão internacional. Isso deve levar em conta tanto elementos políticos como econômicos. Não é fácil, mas é uma maneira de isolar Israel da opinião pública, sem com isso pregar qualquer tipo de antissemitismo, e tentar amenizar ou mesmo evitar futuras agressões a Palestina ou qualquer outro vizinho.


É aí que entra o Brasil, o Partido dos Trabalhadores e o resto da esquerda brasileira. Pedir que o país não reconheça o Estado de Israel é uma agenda quase que impossível. Porém, condenar os ataques de Israel, bem como coordenar boicotes econômicos ao estado sionista é importante, a começar pelo fim dos acordos do MERCOSUL com o Estado sionista. Afinal, agora o Brasil ocupa um papel de destaque na política internacional, mesmo sendo chamado de “anão” pela chancelaria israelense. Cumprimos um papel fundamental de influência nos nossos irmãos latinos e, ainda somos vizinhos da principal potência mundial que é aliada número zero dos israelenses.

Um passo importante e simbólico é o fim de qualquer acordo militar e suas tecnologias com Israel. Pra quem não sabe, o Brasil importa os famosos “drones” (aviões não tripulados), bem como tem acordos de tecnologia aeroespacial com Israel. Sem falar a sem-vergonhice do intercambio das tropas de dispersão de manifestações e outros tipos de tumulto aqui no Brasil, treinadas diretamente por consultores privados da famigerada “Magav” (grupo tático israelense especializado em reprimir manifestações em áreas conflituosas).

* É militante e fundador do Coletivo O Estopim!.

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