12 de agosto de 2014

Por que as pessoas me perguntam se eu não sinto falta de carne?

Rafa Cardoso

Não estou aqui para fazer apologia ao vegetarianismo ou veganismo, só gostaria de partilhar um desabafo e quem sabe refletirmos juntos. 
Eu tenho um bichinho de estimação. O nome dele é Jhon e está conosco há 13 anos. Confesso que converso com ele milhares de vezes ao dia e ele parece entender e responder com latidos, gestos, formas que facilitam a compreensão. Ele faz parte da minha família, tanto quanto a minha mãe, irmã e avó.
Não como carne há muitos anos e peixe deixei de comer há uns 3 anos. Muitos perguntam se foi uma opção minha. E explico que nunca gostei do gosto da carne e a gota d'água foi quando eu tive uma anemia e fui obrigada a comer bife de figado.
NUNCA SENTI FALTA DE CARNE

O homem não é carnívoro. Definições devem ser respeitadas: carnívoro, por definição, é o animal que abate sua própria presa e a come com o sangue ainda quente. Outra definição: carniceiro é aquele que não mata: espera que um animal morra ou que um predador o mate para só então aparecer no cenário, e assim são os abutres, urubus, hienas… Como podemos concluir, o homem é um carniceiro neste ponto, pois não tem capacidade de matar, não tem garras nem força, e come apenas os restos mortais de um bicho que nem mirou nos olhos quando vivo.. Alguns dizem que somos inteligentes e criamos a faca. Tudo bem. Então convido essa intelectual pessoa para pegar a faca e matar a vaquinha. Essa “mente brilhante” provavelmente não conseguirá matar nada, pois não suporta nem violência nem sangue. 

Para um verdadeiro carnívoro, só o fato de ver sangue já é o suficiente para dar muita água na boca. Para nós, humanos, ocorre justamente o fenômeno inverso ao da fome: dá vontade de vomitar; embrulha o estômago, fechamos o rosto e tapamos o nariz. Contudo, embora carniceiro seja um rótulo mais coerente do que carnívoro, o mais correto é dizer que o homem é ONÍVORO, pois come de tudo – independentemente de ser adequado para seu organismo ou não. O porco é um outro exemplo de animal onívoro. 

Passado o tratamento de anemia, nunca mais consegui colocar um pedaço de carne na boca. Aos poucos, comecei a perceber a importância daquele ato involuntário de parar de comer carne. Logo, abri mão do peixe. E hoje como apenas alguns derivados. Estou muito bem e saudável. Na luta de propagar o entendimento da circunstâncias do "abate" dos animais, me deparei com uma série de documentários cruéis. No qual vejo o quanto o ser humano é doente, escravo, alienado ao sistema. Gostaria de saber se este "SER" faria isto com o seu bichinho de estimação. Ou seja, ter um cachorro ou gato em casa é uma coisa, comer porcos, aves é outra... 

QUANTA CONTRADIÇÃO

O mercado da carne é cruel. Os animais nas fazendas ganham peso, produzem leite e colocam ovos porque foram especialmente manipulados com drogas, hormônios e técnicas de criação e seleção genética para fazer estas coisas. Além disso, os animais criados para produção de alimentos, como vacas leiteiras e galinhas poedeiras, são abatidos em idade extremamente jovem, antes que as doenças inevitáveis os dizimem. É mais lucrativo para os fazendeiros absorver as perdas ocasionadas por mortes e doenças do que manter os animais em condições humanitárias. Sem falar nas técnicas absurdas e desumanas de abate. 

Vejo pseudos publicarem que são contra o genocídio, mas expliquem-me o que fazem com os animais? Já viram passar um caminhão amarrotado de porcos e aves? Já olharam nos olhos desses bichos? 

Talvez, para muitos, minha posição possa ser radical demais. A esses respondo só uma coisa: "Eu não faço para os outros o que não gostaria que fizessem comigo".

* É estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

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