5 de dezembro de 2014

Arte e movimento estudantil na UFBA

*Alexandro Nascimento

A arte deve apenas ter valor estético ou também social/político? Nesse texto, proponho alguns nortes de pensamentos e ações para vincular a Arte ao movimento estudantil dentro da UFBA.

Frente a questões sobre o fomento a produção artística na UFBA, percebe-se a falta de espaços artísticos em nossa Universidade; pouco diálogo entre os estudantes de artes sobre seus quereres e produções artísticas; pouco diálogo entre as escolas de arte e a falta de um Centro de Cultura e Arte para que os artistas debatam Arte e movimento artístico/estudantil.

A necessidade de um Centro de Cultura e Arte direcionado artisticamente pelos artistas e administrativamente pela UFBA, torna-se necessário para que os recursos destinados a Cultura e Arte possam ser conduzidos em diálogo com os artistas e as necessidades e causas do movimento estudantil.

O Centro de Cultura e Arte da UFBA, aprovado no Conselho Universitário no ano passado, será construído na antiga R3, e servirá como ponto de interseções para o Fórum das Artes, cabendo a esse espaço contribuir para o nascimento de movimentos artísticos pensados como ato político, social e de prazer estético.

E que nós estudantes sintamos que podemos ter ideias, propor diálogo com as escolas de arte a partir de núcleos centrados nesse espaço, para que tenhamos artistas motivados e produzindo arte.  

A Arte na UFBA e nem em lugar algum pode ficar resumida a academia e apenas a interesses de pesquisas individuais. A Arte é coletiva. É movimento. E precisa sempre do olhar do outro, por isto deve haver espaços para percebermos e dialogarmos sobre nossos olhares.

Cena da peça de teatro do CPC da UNE:
A mais-valia vai acabar seu Edgar
Que a arte esteja engajado com propósitos do movimento estudantil e que o teatro como apontava Brecht seja para a conscientização política e social, como ocorria no Centro Popular de Cultura da UNE, que "atuou no Brasil como movimento cultural que se caracterizou por uma forte ideologia política. Os artistas e intelectuais que estiveram envolvidos nos diversos projetos da entidade cepecista passaram a atuar politicamente no cenário brasileiro.”

Entendemos que nós, estudantes, artistas e militantes, devemos nos empenhar numa Arte que se comprometa com as causas do movimento estudantil para que possamos mudar a situação atual, e devemos aguçar os olhares críticos, estranhando a situação real para propor as mudanças necessárias para uma boa educação, como Brecht tão bem dizia:

“Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.” (BRECHT, Antologia poética)

Ter o olhar crítico das situações conflitantes na Universidade é pensar sobre as relações que os estudantes mantêm com a UFBA. Enquanto estudante, a Universidade se torna sua comunidade a qual deveria seguir padrões éticos, como a manutenção de condições para que os estudantes sejam pró-ativos dentro desta comunidade.

Mas não percebemos isso na prática. Vemos problemas nas residências, nos restaurantes universitários, auxílios e bolsas atrasadas, em tudo que deveria funcionar bem para a continuidade saudável dos estudantes na Universidade.

Mas cadê o olhar para os estudantes? Ou melhor, quem somos nós? O que são os estudantes para os pró-reitores, reitor e professores?  Somos números? RMs?

Parece que sim, afinal nos mostram como números estatísticos de BOLSISTAS ASSITIDOS, quando na verdade deveriam nos ver como estudantes que recebem os seus direitos.

Temos que nos unir e debater nossas necessidades. Debater não somente em CEBs com pautas já formadas, mas que as pautas quando cheguem nesses fóruns já tenham sido debatidas antes em diálogo com a gente, colegas de Universidade, pois esta é uma necessidade de assistência estudantil nos ouvirmos e sentirmos que somos um na luta.

Por isso a busca de uma Arte que seja engajada com as causas, pois ela tem este poder de mudança. Logo, um plano que busque diálogo entre os estudantes através da Arte, nos tornará fortes por expressarmos nossa sensibilidade frente à realidade, como aponta Ranciere: A política é essencialmente estética, ou seja, está fundada sobre o mundo sensível, assim como a expressão artística. Por isso, um regime político só pode ser democrático se incentivar a multiplicidade de manifestações dentro da comunidade.”(RANCIERE, 2010).

Maior diálogo entre o Diretório Central dos Estudantes, Centros e Diretórios Acadêmicos e todos os estudantes com oficinas artísticas, festival estudantil, fórum de debates de textos de arte política e sobre situações cotidianas, criação de movimento cultural artístico com propostas políticas em cenas, performances, música e dança para compor atos políticos como meio de intervir nos espaços de discussão política da UFBA.

Algumas propostas de trabalho:

- Oficinas itinerantes de texto e teatro político brechtiniano e do oprimido em residências, D.As e C.As como meio de encontro para dialogar sobre questões de assistência estudantil e outras demandas a criar atos de performance e intervenções na UFBA;

- Oficinas em residências que debatam com olhar crítico situações vividas pelos residentes, transpondo para cenas como ato político a ser levadas a CONSUNIs e intervenções na UFBA;

- Movimento de Cultura e Arte das residências com mostras das intervenções em vários pontos da UFBA, Reitoria, PROAE, PROEXT, R.U, CONSUNI;

- Criação do Fórum das Artes para buscar a implantação do Centro de Cultura e Arte da UFBA, com debates direcionados pelos C.As e D.As de Arte em diálogo com os estudantes a encontrar ações artísticas/políticas  que mostrem a necessidade de implantação do centro cultural.

*É Licenciando em Teatro e membro do DATEA

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