“Se até
Morgan Freeman falou que não temos que falar nesse negocio de racismo, porque
eu, universitárix, vou falar disso? Isso irrita. Para vocês tudo é racismo. O
que eu digo não é racismo, é só minha opinião.”
Tradicional discurso racista de universitarixs Brasil afora.
Tradicional discurso racista de universitarixs Brasil afora.
Este ano diversas declarações de
universitárixs ganharam a primeira página de jornais impressos e muito debate
nas redes sociais por confessado cunho racista. Foi assim no caso de uma aluna
de Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUC-RS) que vinculou no seu twitter,
no último dia 31, a frase "Acabei de quase ser atropelada por um casal de
negros. Depois vocês falam que é racismo né, mas TINHA QUE SER, né?". Como
se não achasse pouco a expressão “Tinha que ser, né?” afirmando seu racismo, a
aluna da PUC-RS incrementou: "Eu não
sou racista, aliás, eu não tenho preconceitos. Mas, cada vez que aprontam uma
dessas comigo, nasce 1% de barreira contra PRETOS em mim".
Em um jornal acadêmico da UFSC,
texto de aluna de 1ª fase do curso de Direito que se dispõe a analisar o
mercado imobiliário em Florianópolis diz: “Você
tem direito a subir um morro bem alto, não pagar água, e às vezes nem luz, não
pagará mais aluguel, e vai ter que conviver com os traficantes de drogas
(diga-se de passagem, afrodescendentes) que são sustentados por muitos
estudantes dessa bela universidade.”; na UFMG um professor chamou um de
seus estudantes (um jovem de 15 anos, negro) de macaco durante sermão por risadas na sala de aula; outro registro
de destaque foi o caso do trote do curso de direito, também na UFMG, que
vinculou a foto de uma estudante amarrada com uma placa dizendo “Caloura Chica da Silva”, além de fotos
de cunho nazista; e essas cenas retratam apenas uma parte do problema.
Declarações preconceituosas, a
maioria de cunho racista, por parte de estudantes universitarixs, e a polêmica
em torno desses episódios, são apenas a ponta do iceberg desenvolvido por toda
contradição na formação histórica (social, política, cultural e econômica) de
nossa sociedade e traz a tona à discussão sobre o papel social da universidade
brasileira.
Em geral diz-se que o interesse
da universidade, seja ela pública ou privada, é voltado ao desenvolvimento
educacional como um motivador da construção da cidadania. Se essa premissa
fosse posta em prática cumpriríamos o papel social dela: proporcionaríamos o
bem estar social, a integração comunitária, a inclusão social. Entretanto
nossas universidades vêm se cercando com grades, muros e portões, sem teorizar
sobre a problemática das catracas – que cabe outro texto, e até polícia dentro
do campus como formas de segurança. Ações essas que vem promovendo a segregação
social e aumentando o racismo dentro e fora delas.
A maioria desses casos de racismo
fica no escombro social, como registros velhos e insignificantes para os órgãos
educacionais, outros tantos nem saem das bocas daquelas vítimas, muitas vezes
coagida a ficar quieta. Os registros de agressão a estudantes negrxs não são
tratados com a relevância que deveria, e quando acontece de casos como estes
serem averiguados, as autoridades competentes individualizam e punem o agressor,
mas não tratam o mal pela raiz. Essa parece ser uma via de mão dupla, se por um
lado Governo Federal institui cotas raciais e sociais nas universidades a fim
de reparar um erro histórico, por outro, o racismo institucional se mostra
impregnado também nas universidades.
Hellen Cristhyan é Militante Socialista, cursa Economia na UFSC, integra o coletivo O Estopim! e está como Secretária-Geral da União Catarinense dxs Estudantes - UCE
A questão identitária que se faz
cada vez mais presente, seja na mídia, na criação de políticas públicas, e em
itens de pesquisas, deve ser foco na educação (do ensino básico ao
universitário) e componentes da história afro deve ser de caráter obrigatório.
Combater o racismo perpassa não só pelo acesso a educação, mas pelo tipo de
educação que se é ofertado.
Precisamos avançar nos métodos de
combate ao preconceito, sobretudo nas universidades. Planos de ação contra a
defesa do ódio nacional, racial ou religioso que constituam propagação ou
incentivo a xenofobia, racismo e violência, devem ser incluídos nas gestões das
entidades estudantis; é papel de cada estudante, bem como dos centros
acadêmicos e DCE’s realizar campanha nos campus contra discriminação e hostilização;
buscar a implementação de ouvidoria dx estudante para denuncia de crimes
difamatórios; combater os trotes violentos. Lutar por políticas de ações
afirmativas, assistência e permanência é fundamental para a garantia dos
direitos estudantis e o combate dos preconceitos.
Hellen Cristhyan é Militante Socialista, cursa Economia na UFSC, integra o coletivo O Estopim! e está como Secretária-Geral da União Catarinense dxs Estudantes - UCE
Infelizmente tem posturas como essas em todo o Brasil, sou estudante da UFBA- Salvador uma cidade onde mais de 80% da população é negra e a situação não é muito diferente não, é um pouco mais maquiada, o que complica ainda mais, porém, está por toda parte.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
Uma vez uma certa pessoa me disse: "menina, você é uma negra bonita, porque tem nariz afilado, e nem é tão preta assim... Tem gente bem mais escura que você!!!" Afff, respirei fundo e disse: então eu sou bem feia mesmo, isso não foi um elogio!!! Ela olhou pra mim,totalmente pasma!! O povo foge de tudo que lembre a negritude!!!
ResponderExcluirMarinilda e Simone, é exatamente assim que ocorre. O racismo está impregnado nas pessoas, promovido pela educação racista, sexista e homofobia, e pelo apelo preconceituoso dos meios tradicionais de comunicação, como a tv globo, a tal ponto das pessoas muitas vezes nem entenderem que estão sendo racistas. Só acha negro/a bonita se tiver o nariz fino, o cabelo ondulado ou liso, o corpo violão. Essa violência precisa acabar! A luta continua contra o racismo no Brasil e no Mundo.
ResponderExcluirPOR FAVOR, O ESTOPIM, ME PERDOEM.
ResponderExcluirhttp://pedido-de-perdao-ao-estopim.blogspot.com.br/2013/11/por-favor-o-estopim-me-perdoem.html