4 de março de 2015

Rui erra e o rato rei ri

*Wanderson Pimeta




É certo que não se pode caracterizar um Governo apenas pelas declarações de seus dirigentes. Contudo, a partir de falações públicas, o Governador Rui Costa aponta como será o seu governo, pelo menos do ponto de vista da disputa ideológica. Declarações que celebram a atitude da PM, como no caso da “Chacina do Cabula”, em que morreram 12 jovens, apontam que “bandidos” sentirão “a mão forte do Estado”.

As comunidades empobrecidas, de fato, sentem há décadas que a única parte forte do Estado ali é a Polícia. E ela não vem oferecer nenhum tipo de política pública.

Assim, Rui Costa aposta na disputa da opinião do senso comum: já que “bandido bom é bandido morto”, segurança pública se faz com mais policiais e mais tiros. A parte petista que compõe o Governo defende Rui nos bastidores confiando numa suposta aprovação pela maior parte da população. Rui estaria apostando em um crescimento da sua popularidade, para desidratar ACM Neto tendo em vista a disputa eleitoral de 2016 na capital baiana. O problema é que esse mesmo senso comum já tem os seus porta-vozes. Petistas, mesmo os mais dóceis, não costumam ser bem recebidos nos salões conservadores.

Um Governo de esquerda não deve reforçar tais desejos. Sabemos que os ideais dominantes numa determinada sociedade são justamente os ideais da classe dominante, sentenciava Gramsci. Simplificando, é óbvio que a maior parte da população apóia a redução da maioridade penal. Parte considerável da população acredita na pena de morte como forma de redução da criminalidade. A Ditadura Militar foi bastante popular em determinado período. Regimes abertamente autoritários gozam ou gozaram de popularidade em várias partes do mundo. O problema é que nenhum deles durou muito tempo. Gramsci dizia que uma corrente hegemônica deve dialogar sob duas vertentes: força e convencimento. Nunca um regime se perpetuou por muito tempo se utilizando apenas da violência ou demonstrando “a mão forte do Estado”. Portanto, um Governo que aposte nesses ideais pode ser tudo, menos de esquerda.

As declarações do Governador Rui Costa não são suficientes para caracterizar o seu Governo, sobretudo quando se tem menos de 2 meses do início do seu mandato. Mas é certo que apostar na mesma lógica que a da direita não deve ser o caminho. Desidratar ACM Neto é disputar ideologicamente os setores populares que aderiram eleitoralmente ao Carlismo, mas com uma pauta de esquerda. Desidratar ACM Neto é ter uma bancada forte de oposição que possa mobilizar o povo para ocupar a Câmara de Vereadores. Provocar fissuras no Carlismo é revelar o caráter conservador do seu Governo baseado no dinheiro, na força, mas também nas grandes jogadas midiáticas. Vide no Carnaval a presença ostensiva do Prefeito tanto na Avenida quanto em camarotes, nas dezenas de entrevistas, no episódio com Igor Kannário e nas relações de amizade que ele mantém com “mainstream” da música baiana que, aliás, com uma ou outra exceção, sempre foi subserviente ao Carlismo.

Que os movimentos sociais e os sindicatos se mantenham independentes e que possam travar as muitas lutas que virão. Que a esquerda do PT se fortaleça nesse cenário e cumpra a função de disputar ideologicamente a sociedade. Afora isso é a barbárie.


*Advogado e Membro do Diretório Estadual do PT - Bahia

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