Por Diego Rabelo*
Existem, a meu ver, dois equívocos recorrentes dos analistas que tratam da questão militar no mundo. São eles: a) analistas que tratam os aspectos de um ponto de vista exclusivamente técnico, com todo o arcabouço dos números e do desenvolvimento tecnológico, como se fosse possível afastar o elemento da análise política; e b) analistas que tratam a questão exclusivamente com o prisma político, respaldado somente na diplomacia, como se fosse possível afastar o elemento técnico.
Segundo o “The Economist” os gastos com defesa, no mundo, aumentaram 1,7% em 2014, após queda no último triênio. O destaque é a Arábia Saudita, aliada dos interesses norte-americanos e de Israel no médio oriente, que ampliou mais de 20% do seu orçamento militar.
Isso reflete duas questões relevantes para os próximos anos na região: a) O aumento da pressão sobre o Irã; e b) A antecipação de hipotéticos levantes populares espontâneos e a catarse que isso poderia causar a edificação dos interesses das petrolíferas.
Com relação aos investimentos militares “do lado de cá” do globo, me parece haver duas confusões, ou interpretações equivocadas sobre os fatos: a) números frios e isolados não revelam tantas coisas; e b) mesmo frios e isolados são obscenos.
Segundo a mesma publicação, os EUA cortaram quase 20 bi do seu orçamento militar em 2014. Saíram de $600 bi anuais, para os não menos vultuosos $581 bi no ano que se findou, o que nos leva a crer que o papo de mundo pacificado é conversa mole, ao menos no que tange a essa “ostentação” de cifras pomposas. A redução dos gastos norte-americanos em seu orçamento militar, por exemplo, é duas vezes o orçamento militar anual brasileiro, algo em torno de $10 bi, frise-se.
Ainda sobre os últimos acontecimentos no campo militar, e a euforia de alguns analistas diante dos caças J-20 chineses, reafirmo a seguinte tese acerca do elemento das novas tecnologias presentes: o erro de alguns analistas, me parece, é analisar a questão, mais uma vez, de maneira exclusivamente técnica, ou pior, aparentemente técnica. A quem interessa vazar a informação de que os caças f-22 e os f-35 americanos têm tantos problemas?
Minha resposta é: talvez, aos próprios americanos que podem garantir, em sigilo, a capacidade de combate dos seus caças para os seus clientes e, ainda, fazer o mundo crer que eles são incompetentes. Se o que eu digo se comprovar, a engenharia da contrainformação funcionou.
Não esqueçamos amigos, aliás, jamais esqueçamos que, quem mais investe em tecnologia militar no mundo, depois dos EUA, não chega, em média das últimas décadas, sequer, a um sexto do orçamento militar norte-americano.
É duro, mas é realidade.
China ($126 bi) e Rússia ($70 bi) podem até conseguir se igualar por um breve momento, ou por um breve momento, ultrapassar a capacidade dos caças americanos, mas sempre correm muito atrás.
Já o Brasil, se quiser ser grande e garantir os seus interesses, precisa ampliar o seu orçamento militar em uma escala progressiva anual. Porém, aqui, incorremos mais uma vez na polarização: técnica versus política. Duas perguntas surgem dessa questão: a) técnica - conseguiremos de fato a transferência de tecnologia dos caças suecos?; e b) Confiamos nas nossas forças armadas para dar este passo?
Essa é uma pergunta que só quem ta dentro da “coisa” pode responder.
*Militante do Partido dos Trabalhadores
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