Por Raquel Franco
Na tarde dessa terça-feira (04 de setembro) Leide Mota, Bruna Jacob e Raquel Franco, respectivamente integrantes do Diretório Acadêmico de Arquivologia, União dos Estudantes da Bahia e do Diretório Central de Estudantes da UFBA se reuniram com o Reitor da Universidade Federal da Bahia João Carlos Salles para oficializar uma demanda urgente: a criação do Observatório de Direitos Humanos da UFBA.
O debate acerca da importância da UFBA ter, em sua estrutura organizacional, um Observatório de Direitos Humanos foi despertado por meio dos relatos e avaliação sobre as atividades executadas pela Comissão Milton Santos da Memória e Verdade da UFBA na instituição. Essa discussão aconteceu durante o Café Arquivístico - Ciclo de Debates realizado no dia 05 de maio de 2018 no Instituto de Ciência da Informação, com o tema "Memória, Verdade e Justiça: Para Que Nunca se Esqueça e Nunca Mais Aconteça".
A proposta para a constituição do Observatório de Direitos Humanos na UFBA foi elaborada pelo Diretório Acadêmico de Arquivologia (DAArq) - Gestão Cara e Coragem, e com o apoio da diretora do instituto Hildenise Novo, foi apresentada na reunião da Congregação do Instituto de Ciência da Informação (ICI/UFBA) do dia 25/05/2018, ao qual aprovou a sugestão e encaminhou a criação de uma comissão para desenvolver e concretizar o projeto.
![]() |
Café Arquivístico, evento realizado pelo Diretório Acadêmico de Arquivologia. |
A proposta para a constituição do Observatório de Direitos Humanos na UFBA foi elaborada pelo Diretório Acadêmico de Arquivologia (DAArq) - Gestão Cara e Coragem, e com o apoio da diretora do instituto Hildenise Novo, foi apresentada na reunião da Congregação do Instituto de Ciência da Informação (ICI/UFBA) do dia 25/05/2018, ao qual aprovou a sugestão e encaminhou a criação de uma comissão para desenvolver e concretizar o projeto.
Nesse momento inicial a comissão, ao qual é formada por estudantes, professores do ICI e o coordenador do curso de Arquivologia, está na fase de estudar os observatórios já existentes em outras universidades do país e formular um esboço de qual modelo seria o melhor para a UFBA. Em seguida, a comissão irá convidar outras entidades e coletivos a participarem da equipe, para então conduzirem o procedimento de formulação e implementação do Observatório de Direitos Humanos da UFBA.
A seguir anexamos o texto aprovado em Congregação no ICI, que explica a importância da criação do Observatório de Direitos Humanos e de que forma atuará para dentro da universidade no combate e prevenção das violações dos direitos humanos:
Por que a UFBA deve criar o seu Observatório de Direitos Humanos?
A Universidade Federal da Bahia –
UFBA, diferente de outras instituições de ensino superior pelo Brasil, ainda
não possui o seu Observatório de Direitos Humanos. Esses organismos, em linhas gerais,
cumprem a função de estimular o debate sobre direitos humanos no interior das
universidades.
A luta pelos direitos humanos deve
ser constante e para todos/as. A ditadura civil-militar, fruto de um golpe de
Estado que engessou nossa democracia por duas décadas, deixou um legado de
autoritarismo e de graves violações aos direitos humanos que ainda não
superamos. E no meio acadêmico isso não foge a regra.
A discussão sobre direitos humanos
sob o locus institucional praticamente inexiste em nossa universidade. A UFBA –
estruturada a partir de uma perspectiva antidemocrática, epistemicída, racista,
sexista, patriarcal e LGBTfóbica – viola, constantemente, e de variadas formas,
os direitos humanos da sua comunidade.
Nesse sentido, torna-se fundamental
que a instituição crie o seu Observatório de Direitos Humanos, com a finalidade
de acompanhar as investigações dos casos de violações aos direitos humanos para
dentro dos seus muros, bem como estimular a educação em direitos humanos nos
currículos dos cursos de graduação e de pós-graduação.
Outra competência deste organismo
será o de dar continuidade aos trabalhos iniciados pela Comissão Milton Santos
de Memória e Verdade (CMSMV) – órgão colegiado que funcionou entre 2013 e 2014
com o objetivo de resgatar as memórias da universidade em relação à ditadura
civil-militar, sobretudo no que tange às violações aos direitos humanos.
A referida comissão – mesmo com
todas as limitações, a exemplo da insuficiente infraestrutura oferecida pela
UFBA para o desenvolvimento das suas atividades – cumpriu uma função histórica
importante. Porém acreditamos que ela representou apenas um início, visto que
torna-se impossível resgatar as memórias de 21 anos de ditadura em apenas um
ano de trabalho.
É importante salientar que a CMSMV,
em seu relatório final, intitulado Golpe
Civil-Militar de 1964 na UFBA: rompendo o silêncio do Estado e reduzindo o
espaço da negação, apresentou três recomendações à universidade: 1) a
socialização, depois de um tratamento arquivístico, da documentação selecionada
pela comissão; 2) a criação de um organismo permanente para dar seqüência aos
trabalhos do colegiado e; 3) o estímulo à pesquisa científica sobre a matéria.
Porém, quatro anos depois de encerrados os trabalhos da comissão, apenas a
última recomendação foi, na prática, executada.
É preciso, em outras palavras, que a
UFBA continue a desarquivar suas memórias sobre a ditadura, seja através das
oitivas com as figuras que sofreram algum tipo de repressão no seu interior,
seja através da pesquisa documental nos arquivos deste período, para que assim
possamos construir uma verdade histórica que tanto se almeja.
Esse observatório também cumpriria –
compreendendo que a pesquisa documental representa a principal fonte de
informação para o resgate dessas memórias – a função de servir de laboratório
de práticas arquivísticas para os graduandos em Arquivologia da instituição,
contribuindo assim para a formação dos mesmos.
Nós, estudantes de Arquivologia,
compreendendo a responsabilidade social que envolve os arquivos da universidade
em relação à ditadura, e ao mesmo tempo reconhecendo a complexidade do seu
tratamento, acreditamos ser de fundamental importância que esta documentação
seja tratada de forma adequada, seguindo os princípios arquivísticos, para, em
seguida, ser socializada à comunidade baiana.
O Observatório de Direitos Humanos
da UFBA, sendo um organismo permanente da estrutura organizacional da
instituição, vinculado ao Gabinete do Reitor e com estrutura apropriada e
equipe formada por profissionais de variadas áreas, poderá aprofundar as
discussões e ações sobre direitos humanos na universidade.
Nessa perspectiva, compreendendo que
estamos em um período de consulta pública para a escolha do próximo reitorado –
momento de debater a universidade que queremos – é que se torna oportuno
apresentar à comunidade UFBA a concepção de universidade que o movimento
estudantil deseja: pública, gratuita, crítica, referenciada na classe
trabalhadora e que respeite irrestritamente os direitos humanos.
Inclusive cabe salientar, a título
de informe, que a UFBA já possui alguns observatórios no seu interior – a
exemplo do Observatório de Análise Política em Saúde, vinculado ao Instituto de
Saúde Coletiva, assim como o Observatório da Pacificação Social, ligado à Faculdade
de Direito.
A criação da CMSMV, como não poderia
deixar de ser, foi fruto da pressão do movimento estudantil organizado. E
novamente cabe a nós, estudantes organizados através das nossas entidades de
representação, buscando o apoio dos/as docentes e servidores/as
técnico-administrativos, colocarmos na ordem do dia a pauta do Observatório de
Direitos Humanos na UFBA. E pra já.
Leide Mota de Andrade
Presidenta do Diretório Acadêmico de Arquivologia – Gestão
Cara e Coragem
Bruna Souza
Jacob
Graduanda em Gênero e Diversidade
pela UFBA e Diretora Executiva de Direitos Humanos da União dos Estudantes da Bahia
Assinam esse documento:
Diretório Acadêmico de Arquivologia (DAArq) – Gestão Cara e Coragem
Coletivo O Estopim!
UEB - União dos Estudantes da Bahia
A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES, LGBT's, NEGROS E NEGRAS NÃO É A UNIVERSIDADE QUE A GENTE QUER!
Socialismo até o fim: O Estopim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário