*Por Diego Rabelo
O mundo ainda sente o impacto da quebra do subprime nos EUA,
em 2008, e a nova ordem econômica desenvolvida desde então. Na Europa, a zona
do euro segue tateando em terrenos instáveis com a crise grega que promete
contagiar em grau superior Portugal e Espanha. O deslocamento dos investimentos
atraídos da União europeia e dos Estados Unidos para os emergentes é produto de
uma taxa de juros alta e retorno financeiro seguro. Contudo, há uma
recuperação, mesmo que disforme, dessas economias o que tem provocado em alguma
medida fuga de capitais.
Não adianta espernear e amaldiçoar a especulação, pois, o
rentismo é um fenômeno inerente do capital financeiro no sistema capitalista e,
exceto uma revolução socialista de cunho internacional desmorone este sistema,
conviveremos com ele. Em certa medida, a especulação favoreceu a entrada de
capitais por aqui e estimulou o crescimento que, combinado com a ampliação do
mercado interno, aumento de renda e crédito, proporcionou acesso a bens de
consumo jamais experimentados pelas classes c e d.
Contudo, erraram aqueles que acreditaram que essa equação se
sustentaria durante um período duradouro. Aliás, não durou, sequer, uma década
e meia. O “republicanismo” econômico exercido pelo PT, ou seja, garantia dos
lucros dos bancos e especuladores, combinado com as políticas de distribuição
de renda encampadas pelo Estado atingiu o seu limite durante o governo Dilma.
Não há mais espaço para avançar com a conciliação econômica e política como tem
sido a tônica dos governos encabeçados pelo PT.
Uma economia que baseia o seu crescimento amplamente no setor
de serviços em detrimento da produção industrial interna revela duas
fragilidades: 1) dependência da estabilidade econômica dos seus principais
parceiros; e 2) Crescimento médio da economia global com taxas em torno de 2% a
4%. Importante frisar aqui que a indústria compõe apenas 14% do nosso PIB e,
segundo o boletim FOCUS, a previsão é de queda de 2,19% para este ano de 2015.
A lenta, porém, gradual recuperação das economias centrais,
os enormes gargalos na infraestrutura e o entrave produtivo gerado pela
ausência da reforma agrária, são alguns dos problemas crônicos que agora se
refletem no retorno da inflação. A pressão inflacionária se dá, genericamente,
por dois fatores: 1) insuficiência e desorganização dos setores produtivos; e
2) A equação mal formulada entre lucro e produção. A ampliação do PRONAF e todo
o incentivo a agricultura familiar aponta um importante caminho como exemplo de
produção no campo, mas a convivência com o latifúndio, em pleno século XXI, é
inadmissível.
Sobre a produção é necessário destacar e combater a falácia
de Estado grande e interventor alardeado pelos liberais de novo\velho tipo no
Brasil. O tamanho do Estado brasileiro é pequeno se comparado com países como
Noruega, França, Suécia ou mesmo o Canadá, onde os serviços essenciais são
garantidos pelo mesmo e a qualidade de vida é elevada. O que os senhores
liberais querem no Brasil é, como dizia Lênin diante da montagem do governo
soviético referindo-se aos seus
opositores diante da guerra civil e a necessidade de confiscar a produção
agrícola dos kulaks: "Os capitalistas chamam 'liberdade' a dos ricos de enriquecer e a dos operários para morrer de fome."
O mito do liberalismo econômico moderno foi enterrado,
também, de duas maneiras: 1) no entre-guerras, quando os EUA passaram a tutelar
desde o ensino fundamental até a pós-graduação no que tange o desenvolvimento
tecnológico; e 2) Nas crises de superprodução construídas pelo capitalismo
ávido de lucros que compreende a depressão de 29, o subprime em 2008, passando
por diversas outras menores ou maiores ao longo do século XX.
A estagnação econômica enfrentada pelo Brasil tem origens
nas reformas estruturais acumuladas ao longo das décadas e não enfrentadas pelos
governos nos últimos 12 anos. Alia-se a isso, a sabotagem dos grandes setores
industriais que se sentiram alijados do crescimento experimentado na última
década. Sendo assim, é um problema político que precisa ser enfrentado com um
profundo processo de articulação que atraia parte da burguesia industrial para
retomar o crescimento. Conjugado a isso, seria necessário à construção de
grandes empreiteiras públicas que dessem conta de questões vitais como portos,
estradas e principalmente as linhas de transmissão de energia como previsto no
PAC e em consonância com planejamentos semelhantes a este.
Nenhuma fórmula mágica, apenas o exercício do bom e velho
keynesianismo, aplicado a uma economia que tem musculatura capaz de se
recuperar com uma melhor produção e não com os ajustes fiscais propostos pelo
ministro da fazenda de Dilma, Joaquim Levy. Esses ajustes tem a única intenção
de acenar para o rentismo interno e externo, no intuito de que os seus lucros
estarão seguros aconteça o que acontecer. Uma repetição malfadada dos primeiros
anos de governo Lula quando o mesmo, espontaneamente, pagava aos credores acima
da meta do superávit primário em troca de calma e confiança do mercado
financeiro.
Por outro lado, o governo brasileiro acertou ao priorizar e
fomentar as relações com a América Latina e com a China. Porém, os problemas
enfrentados pelos nossos vizinhos são elevados à quinta potência tanto no que
diz respeito à infraestrutura, como em questões políticas. Superestimamos ao
crer que os governos de esquerda, ou progressistas da região, seriam capazes,
pelo simples fato de quererem se integrar, de responder aos desafios globais
tanto no campo da economia como no campo da política.
As dificuldades decorrem por dois fatores que não podem ser
vilipendiados por nós: 1) A dependência dos recursos minerais e manufaturados
como bens de exportação; e 2) A pressão dos Estados Unidos sobre a região. A
isso se inclui todos os vizinhos e a nós mesmos, sendo que, o segundo aspecto é
o mais relevante.
Poucas vozes se insurgiram quanto ao perigo dos discursos desenvolvidos
por Lula, Dilma e dirigentes petistas quando se referiam a construir um “país
de classe média”. Perigo em duas medidas que são: 1) A “ideologia” da classe
média tem parâmetros nas classes altas, ou seja, o seu modo de vida é o sonho
de ser rico, por mais que se aproxime materialmente dos que estão mais abaixo
economicamente; e 2) A absoluta ausência de disputa da consciência desses
setores por parte da esquerda, seja ela partidária ou dos movimentos sociais.
O resultado disso é a grande confusão e desgaste produzido
em partes por instituições viciadas como o parlamento e, em medida equivalente,
ao discurso do monopólio da mídia contra a política de maneira geral e contra o
PT como a sua máxima expressão.
Diante deste cenário complexo é muito difícil de imaginar
por onde começa a resolução de todos esses problemas e entraves a qual a nossa
economia está exposta. Atacar o problema da articulação política e conter a
instabilidade na base de sustentação do governo pode ser o passo inicial para a
retomada do crescimento. Uma ampla e profunda reforma política que revigorize
as instituições partidárias e propicie alianças programáticas capaz de dar uma
noção mais nítida dos rumos a seguir também é urgente.
Será que Dilma julga ter bala na agulha pra enfrentar esse
desafio?
A julgar pelas suas últimas declarações não é o que tem
aparentado.
*É militante do Partido dos Trabalhadores
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