31 de março de 2019

1964: Não Há Nada O Que Comemorar

Estudantes queimam a bandeira dos Estados Unidos na Sexta Feira Sangrenta, Rio de Janeiro, 21 de Junho de 1968. Fotografia: Evandro Teixeira

A determinação do presidente Jair Bolsonaro para que os Comandos Militares das Forças Armadas comemorem o golpe civil-militar ocorrido no Brasil em 1964 é mais uma afronta, dentre tantas outras deste governo, à memória do povo brasileiro.


Por mais que essa medida, ao que tudo indica, faça parte de uma estratégia do governo no sentido de tirar o foco da antipopular e desastrosa Reforma da Previdência – uma vez que Bolsonaro vem perdendo rapidamente apoio popular e político – ela representa um ataque aos familiares dos mortos, desaparecidos e vítimas da ditadura, bem como de toda sociedade brasileira que atravessou esse periodo sombrio da nossa historia.

Comemorar o golpe de 1964 é, em outras palavras, comemorar as mortes de Carlos Marighella, Dinalva Oliveira Teixeira, Edson Luis, Helenira Rezende, Joao Leonardo, dentre tantos lutadores e lutadoras que deram suas vidas pelo Brasil. É comemorar a censura, a tortura, o arrocho salarial, a concentração de renda, a política entreguista, a submissão total ao imperialismo norte-americano. Enfim, é comemorar um Brasil que não queremos.

A ditadura civil-militar, assim como os outros golpes contra nossa jovem e frágil democracia, em sua grande maioria com o apoio das Forças Armadas, fez mal ao país e às instituições brasileiras. Até hoje, apesar dos avanços proporcionados pela redemocratização, ainda percebemos que resquícios desse período infelizmente ainda estão presentes em nosso cotidiano. Como por exemplo o fato do Brasil ocupar o topo do ranking mundial de países que mais matam militantes que lutam pelos Direitos Humanos: Marielle Franco, presente!

O revisionismo e o negacionismo sobre a ditadura ganham força no governo Bolsonaro. Ao bel prazer dos seus interesses e convicções – uma outra narrativa sobre nosso passado, totalmente desconecta de qualquer evidência histórica – é contada e fortalecida no país. Narrativa essa que vai de encontro a todo o processo construído durante o andamento dos trabalhos das Comissões da Verdade nacionalmente e estadualmente.

Cabe salientar que o Estado brasileiro vem reconhecendo, sobretudo a partir da promulgação da Constituição de 1988, que o país viveu sim entre 1964 e 1985 um período em que sua democracia foi engessada e os direitos humanos do nosso povo, de todas as formas, foram violentamente violados.
É preciso, por mais que o presidente tenha recuado depois da repercussão negativa de sua declaração, falando agora em uma rememoração desse passado, rechaçar duramente essa determinação, até para que o desgaste político fruto do seu irresponsável discurso inviabilize qualquer possibilidade de releitura do nosso passado com esse olhar através dos livros da educação básica.

É hora dos setores progressistas e de esquerda no Brasil – assim como acontece na Argentina e no Uruguai, através da Marcha do Silêncio, que há anos mobiliza milhares de manifestantes às ruas por mais direitos – se debruçarem de forma orgânica e com mais seriedade na luta pelos direitos a memória, verdade, justiça e responsabilização daqueles que com o aval do regime da ditadura civil-militar instaurada pelo golpe de 64, torturaram e mataram milhares de brasileiros e brasileiras que lutavam para o restabelecimento de um regime democrático no pais.

A ordem do dia, além da luta contra os ataques desse desgoverno, a exemplo da desastrosa e impopular Reforma da Previdência, é disputar as narrativas sobre o que foi o período da ditadura de fato e reafirmar:

SIM, EM 1964, ASSIM COMO EM 2016, TEVE GOLPE. 
E NÃO: NÃO HÁ NADA O QUE COMEMORAR.


31 de Março de 2019
Coletivo O Estopim!

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