27 de junho de 2012

Lições paraguaias

(Da coordenação)

A cassação do mandato do presidente paraguaio Fernando Lugo revela a fragilidade e o longo caminho ainda por percorrer para a estabilização dos regimes democráticos em toda a América Latina. A queda de Lugo ocorre em um momento de ascensão da esquerda democrática no continente e recoloca a ordem do dia os golpes e contra-golpes financiados pelos EUA na região. Golpes de novo tipo, respaldados em supostas constitucionalidades, com a intenção de gerar o mínimo de distúrbios necessários a implementação de um novo governo sempre alinhado a Washington.

Em 2009, o governo legitimamente eleito de Manuel Zelaya foi deposto pela direita conservadora em Honduras sob a alegação de uma cláusula pétrea não permitir, sequer o debate, sobre a reeleição. Vale ressaltar que a imprensa conservadora brasileira e os seus jornalões festejaram a queda de Zelaya com argumentos muito semelhantes aos quais festejam também a queda de Lugo, as constituições. Nunca é demais lembrar que, no Brasil, esses mesmos aparelhos de disputa ideológica trabalharam diretamente na reeleição de FHC e seu projeto privatista.

O desgaste do imperialismo ianque provoca uma reformulação na sua forma de intervir nas zonas de influência e o que aconteceu em Honduras (2009) e Paraguai (2012) é um novo mecanismo de imposição dos seus planos de hegemonia. É necessário alertar também que Honduras e Paraguai representam os elos mais frágeis na cadeia de ascensão dos governos progressistas, ou seja, são uma possibilidade de entrada maior para os agentes conservadores externos. Também é importante dizer que o giro da estratégia adotada pelos EUA não significa o abandono da sua pressão militar sobre esses países como é possível perceber com restabelecimento da 4º frota.

 
A instabilidade do governo Lugo, do ponto de vista institucional, remonta o debate acerca da política de alianças reclamada como “fundamental” para a governabilidade em todos os países onde a esquerda alçou o principal posto de comando. O exemplo do Paraguai desconstrói de forma bastante peremptória a necessidade de unidade com os supostos setores “progressistas” das burguesias latinas. O vice-presidente paraguaio, Frederico Franco, é parte importante do complô constituído contra Lugo para derrubá-lo e recolocar um representante dos latifundiários e das elites no comando do país.

O desenvolvimento dos acontecimentos no país recoloca a necessidade da unidade popular, dos trabalhadores da cidade e do campo, da juventude, das mulheres, enfim de todos os oprimidos contra o conservadorismo. Alianças parlamentares elaboradas em prol de uma suposta governabilidade sempre submetem as necessidades das massas à conciliação entre as classes sociais. Cedo ou tarde, o antagonismo dessas classes reaparece e a burguesia derrotada nas urnas retoma o poder pela força de golpes semelhantes a Honduras e Paraguai, ou mesmo a Venezuela em 2002. Isso agora é revelado na situação paraguaia.

A pressão dos demais países da região é necessário muito mais do que aparenta, pois, trata-se de toda uma estratégia composta ao longo dos últimos anos de integração dos países latinos americanos contra o imperialismo. Lutar contra esse novo golpe instituído sob os narizes dos demais países é fundamental para manter distante a influência dos EUA na região, algo que vem sendo consolidado com as ultimas vitórias eleitorais da esquerda. Se existia alguma dúvida sobre a possibilidade de intervenção estrangeira, a experiência dos últimos golpes (Honduras e agora Paraguai) acende o sinal de alerta a toda região. Hoje eles, amanha nós!

Algo de se estranhar foi à rapidez com que o golpe foi apresentado e consumado, pegando de surpresa a todos que acompanhavam a situação e sugerindo um derrotismo absurdo por parte de um governo com apoio popular. Aceitar a suposta legalidade do processo, como fez lugo, nos faz questionar qual a real dimensão deste apoio popular ao qual estamos habituados a invocar acerca dos governos progressistas da América Latina. É difícil crer que alguém alçado ao principal posto do país em eleições diretas contra toda uma campanha de calúnias dos setores conservadores caia dessa forma, praticamente sem resistência.

De nossa parte convocamos todas as entidades do movimento social a se posicionarem contra o golpe perpetrado no Paraguai e nos dirigimos especialmente à classe trabalhadora da América Latina e a juventude para que se levante contra esse ataque. Devemos estar atentos a nova conjuntura que se apresenta a nós que coloca a América Latina no centro das atenções por conta dos recursos naturais da região para os interesses do capitalismo. Hoje, os paraguaios são golpeados no tabuleiro de “WAR” do Pentágono, amanhã pode ser Cuba, Venezuela, Uruguai, ou qualquer outro que se indisponha com o modelo político\econômico\cultural dos EUA.

26 de Junho de 2012
Coletivo O Estopim!

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