16 de novembro de 2009

ESTAMOS VIVENDO OU SOBREVIVENDO A BARBÁRIE?

Pode-se perceber um aumento exorbitante da violência na cidade de Salvador. Houve um aumento de 30% no total de homicídios dolosos, 47% em roubo de veículos, 60% nos roubos seguidos de morte, 3% nos estupros do ano de 2007 para 2008, além da marca de seis ônibus assaltados por dia segundo dados do Centro de Documentação e Estatística Policial da Secretaria de Segurança Pública. Em 2009 já temos até setembro 1.253 homicídios dolosos equivalente a aproximadamente cinco pessoas mortas intencionalmente por dia em Salvador. Porém, estes dados trazem um panorama apenas de um tipo de violência. Destes estão as fora violências “não visíveis e não alardeadas” como a institucional, por exemplo, quando deficientes físicos não têm garantido o direito de ir e vir, não traduzem a violência domestica que traz questões de gênero cruciais a serem debatidas, além da violência psicológica, moral, sexual, dentre outras.

Na Universidade Federal da Bahia este tema veio à tona quando no ano de 2008 uma estudante sofreu uma tentativa de estupro no campus de Ondina. Houve uma incrível sensibilização da comunidade estudantil, fazendo grandes mobilizações e atos exigindo maior segurança para os estudantes da UFBA.

É inegável que esta situação não tem uma causa pontual. Para entendermos a origem da violência nesta sociedade teremos que analisar a forma/modo desta mesma sociedade se organizar. Hoje vivemos no modo de produção capitalista, que prega como essência a propriedade privada, o lucro e a exploração do homem pelo homem desembocando numa desigualdade social gritante, que reflete diretamente nas relações sociais da humanidade. É perceptível como estas relações estão cada vez mais desumanas.

É um paradoxo quando vemos que somos nós mesmos que produzimos tal situação de barbárie, quando legitimamos toda a ordem ideológica existente. Afinal, não é fácil enxergar de outra forma, pois a violência já está “naturalizada”. É como se fosse parte da essência humana e não construída social e historicamente durante os tempos. É difícil perceber que estamos reafirmando-a cotidianamente quando nos relacionamos e vivemos em total alienação e apatia perante as injustiças e barbáries acometidas, sempre com mais intensidade, nas pessoas que vivem a margem da sociedade capitalista.

Este naturalização da violência não é só construída inconscientemente pela população, mas também conscientemente por quem lucra com ela, como a indústria bélica, as empresas de segurança e seguros, além de, ter se tornado algo midiático, que é explorado de forma sensacionalista pelos programas de radio e TV.

Neste sentido nós de “Até quando esperar?” afirmamos que a violência é algo construído social e historicamente pelos homens, e já que foi construída socialmente ela pode também ser “destruída” e extirpada da sociedade por estes mesmos homens. Porém, esta é uma luta árdua e longa, pois a raiz histórica da violência se entrelaça com outras conseqüências do capitalismo que torna a luta contra a violência necessariamente uma luta por uma nova organização do modo de produção desta sociedade, afinal, enquanto existir exploração do homem pelo homem, dificilmente deixará de existir atos de violência.

Nós de “Até quando esperar?” identificamos que existem fortes fatores para que esta atual situação de barbárie continue. Assim precisaremos nos unir, para de forma organizada, lutar contra esta situação gritante da violência nesta sociedade e com ainda mais profundidade na cidade de Salvador. Porém uma união de pessoas sem objetivos, táticas e estratégias serão esforços sem conseqüências. Identificamos algumas ações importantes a serem feitas imediatamente, ao menos na Universidade Federal da Bahia, para garantir condições mínimas de sociabilidade dentro do campus. Então, somos totalmente contra o gradeamento do campus. Acreditamos que esta Universidade é pública e gratuita, devendo ser de acesso livre a todos e todas. Afinal, vamos convir que quem dá segurança a pessoas são as próprias pessoas. Neste sentido ressaltamos que a UFBA não pode se fechar em uma bolha acadêmica. Temos que reafirmar as parcerias com as comunidades próximas (Alto das Pombas, Calabar, etc.), no sentido de proporcionar atrativos e oportunidades de integração desta comunidade com a Universidade, através de projetos de extensão (ampliar a ação do PET Saúde, por exemplo), centros comunitários, opções de esporte, cultura e lazer etc. Temos que abrir a universidade e não fechá-la em um feudo.

Temos que cobrar a Administração Central da UFBA que cumpra com suas responsabilidades que estão explícitas no Plano de Segurança da UFBA organizado em 2007, melhorado e reafirmado em 2008. Temos também que fortalecer as atividades do Fórum Comunitário de Combate a Violência, que é vinculado a Pró-Reitoria de Extensão e que vem fazendo um grande trabalho com diversas comunidades além de ser um importante articulador das entidades que buscam atuar no combate a violência.

Precisaremos debater a situação com uma profundidade que não é vista cotidianamente nos meios acadêmicos de nossa universidade, pois não podemos ficar tratando este tema como uma questão simplória, negando a sua grande complexidade. Nossas ações não poderão ser pontuais. Necessariamente, para surtir um efeito objetivo, terão que ter o mesmo nível de complexidade que exige a gritante situação da violência em nossa sociedade. Mas para isso não podemos ficar parados. Precisamos nos organizar. Sabemos que os desafios são enormes, porém como já disse Che “Os grandes só são grandes por estarmos olhando-os ajoelhados”.



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