Por Gerson Costa*
Entre os dias 14 e 17 de julho de 2011 aconteceu na cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás, o 52º congresso nacional da UNE. Evento que reuniu estudantes dos quatro cantos do Brasil com a finalidade de debater as pautas do movimento estudantil nacional, discutir as demandas sociais da sociedade civil e promover a eleição da diretoria que deve organizar e impulsionar as políticas do movimento estudantil nos próximos dois anos.
O qüinquagésimo segundo congresso da União Nacional dos Estudantes revelou que a UNE transformou-se numa entidade afastada das principais pautas estudantis, desconexa e omissa com as demandas sociais, políticas e culturais que corporificam os anseios da chamada classe menos favorecida. Utilizando-se de práticas desprezíveis e surreais com a finalidade de manter-se por tempo indeterminado na liderança da instituição, o grupo que atualmente hegemoniza a direção da União Nacional dos estudantes releva através de sua prática metodológica de gestão que a entidade, do ponto de vista orgânico, atualmente é excessivamente burocrática, ineficaz, ineficiente e pouco produtiva.
A força majoritária da entidade que esta na direção da UNE (UJS) há mais de vinte anos são muito menos socialistas como os dizem e muito mais reprodutores de uma lógica capitalista. Foram capazes de reproduzir as maldades mais absurdas e deploráveis para desmobilizar os que se opõe ao modelo de gestão que se instalou na UNE e que se alastra, destrói e sufoca a instituição.
O grupo que conduz atualmente a UNE foi capaz de tudo para desarticular a oposição. Disponibilizaram alojamentos em péssimas condições sanitárias de uso, locais sem banheiros, sem água sem segurança ou profissionais para fazer a higiene básica das instalações onde as delegações são obrigadas por falta de opção a ficarem alojadas em locais à quilômetros de distancias dos espaços onde acontecem as atividades do congresso. Além do mais, cancelaram mesas de debates sem prestar conta dos motivos a ninguém, ou seja, mandam e desmandam da maneira que a eles for conveniente.
Nesse sentido pergunto: onde esta o dinheiro da entidade que deveria financiar os congressos e outras atividades da UNE? Onde esta a prestação de contas desta verba ? A UJS e seus parceiros deveriam vir a público explicar a precária estrutura do atual congresso que sequer disponibilizou ônibus dos alojamentos para as diversas atividades do evento. Para piorar deveriam explicar a agressão praticada contra um fiscal da chapa 6, que de forma covarde foi vítima de violência . Isso passa longe do movimento estudantil que pretendemos construir.
O 52º congresso da União Nacional dos Estudantes ficou aquém das expectativas, poucas mesas funcionaram de forma efetiva, as que funcionaram começaram com atrasos de mais de 2h , dificultando a discussão qualificada dos temas que protagonizam as principais demandas dos estudantis e da sociedade civil.
Uma pena, pois, a direção da UNE nega aos atuais estudantes e futuros profissionais e atores sociais a possibilidade de discutirem temas tão relevantes para a promoção da igualdade e justiça social a exemplo, da problemática sociocultural e educacional dos afro-descendentes no contexto brasileiro, a situação da mulher no século XXI, os direitos dos homoafetivos, um debate profundo sobre direitos humanos entre outras temáticas que são demandas sociais que não podem ser negligenciadas.
É difícil ter de concordar que a União Nacional dos Estudantes não é mais aquela instituição séria e comprometida com os apelos e demandas sociais de outrora, que protagonizou processos de lutas importantes em nosso país, tais como a luta do petróleo é nosso na década de 50, o combate e a luta contra a ditadura militar nos anos 70, no provimento do processo de redemocratização do Brasil na década de 80, e mais recentemente no movimento fora Collor que culminou no impeachment do então presidente. Nas ultimas décadas a UNE afastou-se da luta e das reivindicações populares e seus últimos congressos demonstram que sua atual direção não tem conexão com setores da sociedade que historicamente travaram lutas contra o capitalismo e o imperialismo que historicamente deliberaram sobre os rumos do Brasil.
É papel e dever de todos os estudantes brasileiros organizarem-se a fim de promover uma outra forma de conduzir esta entidade que é uma das mais importantes do país e que infelizmente está nas mãos de uma burocracia estreita e apêndice do governo federal. Somente assim a UNE voltará a ser o que nunca deveria ter deixado de ser, um instrumento para promoção da igualdade e justiça social, concretizando e transformando efetivamente o Brasil em um estado democrático de direito capaz de realizar o socialismo.
*Gerson Costa é estudante de direito da UFBa, militante do movimento negro, da tese Refazendo e o 52º CONUNE foi o seu primeiro congresso da UNE
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