17 de junho de 2019

Nota de Apoio do Coletivo O Estopim! à Organização Dandara Gusmão



Diante dos fatos colocados, nós, integrantes d’O Estopim!, viemos por meio desta nota prestar nosso apoio à Organização Dandara Gusmão. Deixamos nítida a nossa oposição ao racismo que infesta a Universidade, que dificulta e torna ainda mais árdua a nossa passagem e a construção dos projetos maiores que, enquanto juventude, propomos para nós e para as pretas e pretos que ainda virão. O racismo não nos calará diante dos absurdos que nos empurram goela abaixo!


No dia primeiro de junho de 2019 (sábado) a Organização Dandara Gusmão decidiu por dar um basta radical ao racismo historicamente instalado na Escola de Teatro da UFBA. A Organização tem buscado desde o ano de 2016, de modo pedagógico, fazer com que a Escola de Teatro respeite e reconheça seus estudantes negros e negras, porém sem sucesso. A coordenação e a direção da Escola nunca estiveram abertas à escuta, respondendo às inúmeras tentativas de diálogo de forma autoritária e punitivista. A peça “Sob as Tetas da Loba”, interrompida pela Organização Dandara Gusmão no Teatro Martim Gonçalves, foi previamente analisada, seu conteúdo racista foi exposto pela Organização antes mesmo do espetáculo ir aos palcos.

A atitude absolutamente pertinente da Organização Dandara Gusmão foi um ato de coragem e de enfrentamento de pessoas que sabem que somente resistindo conseguiremos existir. Na conjuntura em que vivemos, o ataque à Organização, inclusive por parte de professores e das representações institucionais da Universidade, representam uma embranquecida queda de máscara, uma máscara que se autorreconhece enquanto licença poética, artística e revolucionária cujas garras discriminatórias estão sempre esperando uma deixa para serem postas à mostra.

O ato de banir estudantes da Organização de circular nos espaços da Universidade, de acionar o braço armado do estado, que fora desse ambiente está pronto e instruído a nos violentar, é de uma grotesca tentativa de criminalização de corpos negros, de nos resignar ao minúsculo local da marginalidade de onde, para a ideologia racista que permeia a situação, não deveríamos ter saído. A instrumentalização da Universidade para este fim denota a contradição em que se embrenha a atual gestão que, por muito, mostrou posicionamento público minimamente coerente com a realidade das e dos estudantes que nela lançam suas vidas e projeções.

No entanto, gostaríamos de ressaltar que não estamos surpresas, nem surpresos. Sempre soubemos que o racismo ocupa a maior parte das carteiras em muitas das nossas salas, carteiras que gente como nós deveriam ocupar. Sabemos que o racismo se instala dos menores aos maiores espaços e que, muitas vezes, é o toque surpresa, apesar de rotineiro, do espetáculo. Mas dessa vez não! Reconhecemos o quão grandioso é o papel social da arte e não deixaremos que seus discursos enviesados se transfigurem de arte, não deixaremos que adoeçam nosso povo, seja dentro dos palcos ou mesmo fora deles.

Nesse sentido reforçamos a necessidade e cobramos a implementação definitiva do Observatório de Direitos Humanos da UFBA. Em tempos de constantes ataques aos direitos humanos, a Universidade deve ser vanguarda e cumprir o seu papel de preservar e defender a dignidade inerente à toda a comunidade acadêmica.

Por compreender a urgência e gravidade desse episódio e por termos plena consciência de que não foi o primeiro e, infelizmente, não será o último, erguemos nossos punhos cerrados em solidariedade à Organização Dandara Gusmão. Não engoliremos mais nenhuma dose fria de racismo que vocês nos oferecem disfarçada de empatia, de democracia racial, de arte!

Na luta antirracista, nenhum passo atrás!




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