Em coletiva com blogueiros de Brasília, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, analisou, durante 3 horas, o novo contexto político no Oriente Médio por ocasião do 32° aniversário da Revolução Iraniana e descartou a possibilidade de uma intervenção militar dos EUA para conter os processos de transformações políticas hoje em marcha na região. Para ele, os norte-americanos fizeram isto no passado mas hoje já não possuem mais força interior para isto e nem as massas árabes vão permitir. “Os EUA querem preservar um pedaço deste prestígio anterior, mas não conhecem o pensamento do povo, nem dos movimentos sociais. Por isso, não conseguem mais controlar. O futuro do Oriente Médio não pertencerá aos EUA”, declarou enfaticamente o diplomata lembrando que hoje há na região um confronto do povo com os ditadores e os EUA nunca estiveram ao lado do povo.
Libertação do Oriente Médio está próxima
A coletiva foi organizada em função da comemoração, neste 11 de fevereiro do 32 aniversário da Revolução Islâmica do Irã . “Em 1979, o Irã era um país pobre, dependente, sem ciência ou tecnologia. Hoje nós desenvolvemos muito em tecnologia, na ciência espacial, a petroquímica, nanotecnologia e petróleo e gás. O crescimento em ciência e tecnologia do Iran é 11 vezes maior do que a média mundial”, declarou o embaixador iraniano, destacando a esperança de seu país de que o islamismo está despertando em toda aquela região e que muito em breve haverá “a libertação dos povos frente a Israel e aos EUA”.
Shaterzadeh descreveu as conquistas da Revolução Iraniana nestes 32 anos, destacando que hoje a nação persa tem 90 por cento de seu povo alfabetizado, quando em 1979 menos da metade da população sabia ler e escrever. Citou que antes da chegada de Komeyni ao poder o Irã possuía apenas 40 universidade, enquanto hoje possui 400, tendo saltado de 100 mil universitários em 1979 para um total de 3,5 milhões de universitários na atualidade. Fazendo uma comparação, afirmou que no Iran existem 50 mil universitários para cada 1 milhão de habitantes, uma proporção que é o dobro da registrada no Brasil hoje. Segundo o diplomático, a presença das mulheres nas universidades passou de 30 por cento durante o regime ditatorial do Xá, para cerca de 65 por cento da população universitária hoje.
Independência tecnológica
Shaterzadeh destacou que o Irã pré-revolucionário era um país totalmente dependente dos Estados Unidos e da Inglaterra.” Antes todos os técnicos da indústria de petróleo eram norte-americanos, hoje todos são iranianos. Da mesma forma, ele informou que todos os cientistas da área nuclear são iranianos destacando que a média de idade destes cientistas é de 30 anos. “Ou seja, tempo inferior ao período da própria Revolução Iraniana” frisou. Informou que seu país já é um lançador de satélites e que está preparando o lançamento de mais 4 satélites para o próximo ano, lembrando que toda a tecnologia satelital foi desenvolvida no Irã, com técnicos nacionais, bem como os veículos lançadores e, inclusive, os lançadores de mísseis para a defesa do país.
Afirmou ainda que o Irã é um país pioneiro em determinadas experiências genéticas, inclusive no desenvolvimento de conhecimentos de células troncos, lembrando que não há qualquer dificuldade ou constrangimento religioso a este progresso científico, cuja finalidade, lembrou, é o tratamento de enfermidades complexas. Segundo Shaterzade, dos 20 mais importantes medicamentos hoje em fabricação no mundo para o combate ao câncer e à Aids, 9 são de fabricação iraniana, além de frisar que a nação persa hoje tem 100 por cento de seu território eletrificado, constituindo-se hoje na 16 economia do mundo, apesar da guerra de 8 anos que teve que enfrentar, na qual perdeu 1 milhão de vidas. “Guerra imposta pelos EUA, que usaram o Sadam para isto”, acusa.
Irã fabrica seus próprios submarinos
Indagado pelos blogueiros sobre como teria se dado este salto tecnológico num país que vive sob sanções, bloqueios, tentativas de golpes e que foi obrigado a enfrentar uma guerra promovida pelos EUA e Iraque, Shaterzadeh afirmou que “a cultura iraniana valoriza muito a ciência. Logo no início da Revolução houve um grande movimento para lutar contra o analfabetismo, o segundo passo foi aumentar a quantidade e a qualidade das universidades” destacou , acrescentando que hoje, até mesmo os imigrantes mais cultos nos EUA são iranianos.
Explicou que a guerra com o Iraque causou um grande estímulo interno para que o país se preparasse no campo militar e, como conseqüência, no educacional e tecnológico. De tal forma que hoje o Iran é auto-suficiente na produção de navios, na tecnologia para a fabricação e lançamento de mísseis, além de fabricar seus próprios submarinos. “As sanções impostas pelos imperialistas nos levou a perder toda esperança num desenvolvimento dependente de recursos externos. Como resultado, hoje a média do desenvolvimento científico e tecnológico do Irã é 11 vezes superior à média internacional no setor”, destacou.
Ataque nuclear e as mentiras do império na imprensa
Para o embaixador persa no Brasil, o Oriente Médio é uma região muito complexa porque é fonte de energia. Argumenta que para o domínio da riqueza energética da região o império precisou fomentar conflitos entre os árabes muçulmanos. “Israel foi criado ali pelos EUA e a Inglaterra, quando deveriam tê-lo criado na Europa para compensar a brutalidade cometida contra os judeus lá, não no Oriente Médio. Os povos árabes é que estão pagando por algo ocorrido na Europa. A finalidade é a luta pelo controle do petróleo e do gás” assinala, acrescentando que Israel não se justifica como nação de acordo com as normas do direito internacional, e que sua criação é apenas uma ação contra os árabes para dominar suas fontes de energia.
Ele disse não acreditar que Israel ataque o Irã com armas nucleares como se propala na mídia pró-imperialista e lembra que armas nucleares não representam força. “Israel está na posição mais fraca em toda a sua história, enquanto o Irã hoje está uma posição de força que jamais teve antes”, declarou, lembrando que o sionismo não conseguiu derrotar a resistência árabe com as guerras de 67 e de 73. “O surgimento e fortalecimento do Hamas e do Hezbollah são uma demonstração de que ter armas nucleares não é ter a força. Afinal, Israel foi derrotado no sul do Líbano e hoje o novo governo do Líbano é uma nova derrota para Israel e para os EUA” assegurou. Ele disse ainda que as notícias sobre um ataque nuclear israelense não passam de mentiras espalhadas pelo que chama de “império de imprensa mundial”, segundo ele, sob o controle dos EUA e de Israel que dominam 90 por cento do fluxo de informação internacional.
Sakineh, Paulo Coelho e relações com o Brasil
O embaixador iraniano disse valorizar extremamente as relações bilaterais com o Brasil, afirmando que dúvidas eventuais podem ser resolvidas com o diálogo, como na questão da Sakineh, cidadã iraniana acusada de assassinar o próprio marido, num julgamento ainda inconcluso. “Ainda não há a sentença porque o julgamento está em curso ainda”, lembrando ,entretanto, que no Brasil, tal como no Irã, também existem milhares de mulheres presas sob a condenação de homicídio. “Nós consideramos que é esta uma questão interna do Brasil e que o seu Judiciário é que deve resolver, sendo sem sentido tentar ligar esta questão ao tema político dos direitos humanos”, argumentou.
Para Shaterzadeh a grande divulgação que o caso de Sakineh tem no Brasil é produto de ações do império da mídia controlado pelos israelenses e norte-americanos. “São os invejosos das boas relações que há entre o Brasil e o Irã, eles não querem que as relações progridam” chamando atenção para o fato de que há cinco anos o tema não tinha tão grande divulgação. “Por que este enorme destaque midiático agora diante de um julgamento que ainda não terminou e que, portanto, nem tem sentença ainda?” - argumenta. Lembrou, enfaticamente, que os dois países acreditam nos princípios da não ingerência nos assuntos internos de outros países.
Do mesmo modo, Shaterzadeh atribui à uma manipulação midiática as falsas notícias de que os livros do escritor brasileiro Paulo Coelho tenham sido censurados no Irã. “Seus livros continuam sendo publicados normalmente, já foram vendidos mais de 100 livros e são encontrados normalmente nas livrarias. O alvo destas notícias mentirosas é danificar as boas relações entre o Brasil e o Irã, mas não permitiremos que os invejosos prejudiquem nossas relações”disse.
Bolsa Família no Irã?
O representante da nação persa no Brasil não confirmou notícias de que o Irã estaria se preparando para implementar o Bolsa Família em seu território, visando a erradicação da pobreza extrema. Segundo explicou, desde a Revolução de 1979 o Irã vem aplicando um programa que tem alguma similaridade com o Bolsa Família. “É um programa para gerar riqueza, não é para o combate à fome. É para dar mais cobertura às famílias mais carentes e também aos anciãos. Os beneficiados recebem recursos financeiros do governo, mas tem como fundamentação a formação profissional, a geração de empregos, e um sistema de empréstimos para dar início a algum empreendimento”, explicou. Ele explicou que houve contatos com técnicos brasileiros, atribuindo a estes contatos, talvez, o surgimento destas notícias, mas frisou que o programa iraniano já existe há mais de três décadas.
(*) Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur
FONTE: AGÊNCIA CARTA MAIOR
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