O enfraquecimento político dos docentes reflete a incapacidade orgânica dos setores mais a esquerda na Universidade de lutar e propor outra perspectiva aos rumos da UFBa. A derrota causada após a ocupação da reitoria pelos estudantes em 2007 não foi superada, aliás, sequer foi avaliada pelos seguimentos que compunham a esquerda Universitária da nossa Universidade. Atônitos, o resultado foi uma composição com o grupo de Naomar que, por incrível que pareça, representava o que havia de “melhor” entre as candidaturas a reitor em 2010.
Não restou outra coisa ao que sobrou da antiga Esquerda Universitária que compor, em condições extremamente desfavoráveis, assumindo a “bomba-relógio” da PRO-REITORIA de Assistência Estudantil. Devo reconhecer que a gestão da PROAE foi modernizada, a relação com o movimento estudantil se da de maneira muito mais respeitosa. Bem diferente dos tempos do senhor Álamo Pimentel, pós-graduado em sacanear estudante. Mas ocupar a PROAE sempre será difícil, tendo em vista as demandas quase sempre desproporcionais aos recursos e se levar em consideração os anos e anos de (des)construção daquela estrutura.
As representações das casas estudantis se queixam o tempo inteiro. Com razão? Acho que é uma questão secundária se analisarmos os anos de descaso que certamente os habituaram a reclamações. O movimento estudantil timidamente apresenta apoio vez ou outra ao Pró-Reitor Dirceu Martins. Esse por sua vez demonstra pouca habilidade em lhe dar com os assuntos delicados, por vezes de ordem psicológica, dos demandados por assistência. O boicote a sua gestão por figuras dentro da própria PROAE é escancarado.
Mas não quero tratar nesse texto da gestão da PROAE, que na minha opinião, apresenta avanços significativos não só do ponto de vista político, mas também do ponto de vista administrativo. Quero questionar a articulação política e as dificuldades que esse seguimento docente apresenta em formular saídas para a sua crise. A sua insuficiência nos coloca a reboque de um único projeto que nos últimos semestres demonstrou não ser exatamente aquilo que foi vendido à comunidade acadêmica em 2007.
Como o movimento estudantil se comporta diante disso? Por que não conseguimos assumir um papel mais protagonista diante da conjuntura? Essas são apenas algumas das indagações necessárias para um exercício de reflexão capaz de identificar os problemas, debatê-los e superá-los. Ou pelo menos tentar superá-los.
É importante lembrar aos mais novos, que foi a gestão do DCE de “o coletivo” e aquele corpo dirigente do movimento estudantil o seguimento que melhor conseguiu articular os movimentos docente e estudantil. Após a derrota em 2006 para as eleições de reitor, seguido da derrota nas eleições de 2007 para o DCE o antigo M-15, já então O Trabalho (PT) se dividiu pela segunda vez. A ala majoritária dessa divisão se transformou no coletivo O Estopim que recentemente ingressou na tendência Militância Socialista(MS) do PT. E foi nesse cenário, não necessariamente por ele, que a esquerda universitária se esfacelou e até então não conseguiu recolher o que sobrou.
Atualmente é consenso entre as correntes de opinião do movimento estudantil que a reitora, Dora Leal, se encontra em uma posição de absoluto conforto. Aliás, confortabilíssima, sem precedentes passados. Vivemos como se a Universidade fosse um mar de rosas, mesmo sabendo que a estrutura esta precarizada, que os servidores falam pras paredes, que a segurança dos campi tem se tornado impraticável e que a contratação de professores ainda é insuficiente para o novo contingente de estudantes que adentram a UFBa. Fazer uma avaliação do REUNI é fundamental. Não uma avaliação sectária de que ele não presta, ou de que simplesmente ele é chantagista, pois condicionam a Universidade a metas. Muito menos meramente adesista de celebrá-lo como a salvação da educação brasileira. Isso não cabe. Precisamos analisar o que representou essa expansão e como desenvolveremos a nossa tática política para disputá-lo no próximo período. Naomar soube fazê-lo, mas parece que a Esquerda Universitária e o movimento estudantil não. Sequer conseguimos reagir.
A ausência de uma candidatura em 2010 para reitor colocou o conjunto dos setores combativos da Universidade em uma posição difícil. Representou, na realidade, a ausência de um projeto capaz de disputar a hegemonia da Universidade contra os seguimentos conservadores. A encruzilhada é triste, mas precisamos superá-la e 2011 pode ser lembrado como o momento em que superamos essa crise. Depende da Esquerda Universitária, do seu reflorescimento, da sua capacidade de superar antigas divergências e da sua perenidade enquanto grupo, respeitando a diversidade que o compõe, da sua criatividade e conquista de novos quadros. Sim, esses existem, e devem possibilitar uma profunda reoxigenação de idéias e uma nova metodologia organizativa para os docentes.
Nos empenharemos, em quanto coletivo organizado no movimento estudantil, no convencimento dos demais setores sobre importância da reorganização da esquerda Universitária. Mas não depende só de nós, ou mesmo do conjunto dos estudantes por mais protagonistas que possam ser. Depende do movimento docente, de figuras como Celi Tafarel, Ricardo, Arthur, Dirceu e sim, dos novos atores e atrizes que fazem parte do atual contexto político da UFBa.
*Estudante da UFBa e diretor de direitos humanos da União Nacional dos Estudantes.
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