Entender a essência da universidade publica no Brasil é uma
busca pelo real entendimento do significado e da importância social política e
econômica que a universidade representa para a sociedade. É uma busca
ideológica e também sociológica, pois envolve diretamente não só o modelo de
universidade adotado no Brasil, mas o papel que esse modelo de educação chamada
“superior” representa no plano ideológico político e socioeconômico do contexto
nacional.
A análise do que eu chamo de essência da universidade
envolve uma série de elementos constitutivos que em conjunto dão vida a então
denominada instituição publica de ensino superior. Logo, irei limitar essa
análise a apenas alguns desses elementos constitutivos. Por exemplo, o modelo
epistemológico de produção cientifica (produção de conhecimento acadêmico) que
não leva em consideração características e metodologias que ousem fugir do
modelo idealizado na perspectiva eurocêntrica. O que significa dizer que a
universidade adota um modelo de produção do conhecimento especifico e a rigor
imutável. (?) Este modelo é blindado por uma ideologia que promove a segregação
e que reduz a produção científica a uma abrangência limitada, monocultural e
reduzida em detrimento de uma perspectiva alargada, cosmopolita e
integracionista, que dialogue com as demandas da sociedade, promovendo o que o
grande pensador português Boaventura de Sousa Santos chama de epistemocidio.
Promover o epistemocidio é, por exemplo, não levar em
consideração elementos culturais e sociológicos que integram as demandas de
setores da sociedade historicamente excluídos, isto é, impossibilitar a
inclusão em projetos de pesquisas, artigos acadêmicos, teses de mestrado e doutorado
temáticas que abordem as questões relacionadas à raça, gênero, grupos étnicos,
diversidade cultural e sexual etc. Logo, essa dificuldade provoca
desdobramentos que vão desde processos seletivos viciados em bancas que avaliam
propostas dissertativas para mestrado e doutorado, a falta de financiamentos e
os embargos burocráticos que são postos como obstáculos para impedir a
viabilidade de execução de projetos de pesquisa e a produção acadêmica que tem
como objeto de estudo as problemáticas anteriormente mencionadas.
Outro elemento importante a ser considerado como integrante
da problemática da universidade é o currículo acadêmico que em geral reduz o
discente ao acesso a matérias técnicas que se limitam a tão-somente um
conhecimento especifico, excluindo a possibilidade de impulsionar os acadêmicos
a uma experiência interdisciplinar emancipada que vai ao encontro dos anseios
da sociedade. O atual modelo acadêmico produz um currículo reducionista e
limitado que disponibiliza ao estudante saber muito sobre muito pouco, isto é,
o estudante aprende muito sobre um determinando conhecimento técnico, mas não
consegue relacionar esse aprendizado com outros conhecimentos e com a realidade
social que a universidade esta inserida. Essa dificuldade de relacionar de
forma interdisciplinar os conhecimentos é o produto e o desdobramento do modelo
de currículo acadêmico vigente na maioria das universidades públicas do Brasil.
Destarte, é possível concluir que entender a problemática da
universidade é um exercício de entendimento que não deve limitar-se tão-somente
a forma da universidade, mas sim a uma análise de seu conteúdo essencial, pois
para construirmos não a universidade que queremos (estudantes), mas sim a
universidade que a sociedade quer e precisa, é necessário inserir-se como parte
do problema, buscando uma mudança de dentro para fora e não isolando a
universidade, como um objeto de estudo afastada de influencias e contributos
pessoais. Mudá-la de fora para dentro é preciso, pois, entender-se como parte
da universidade (nós somos a universidade) e disputar a universidade, defender
a universidade, criticar a universidade e modificar a universidade na
perspectiva da universidade que a sociedade quer e precisa é fundamental para
uma universidade integracionista, emancipada, vanguardista e que seja imagem e
reflexo da sociedade.
Coletivo O estopim
Muito bom o texto. Talvez o Bacharelado Interdisciplinar venha a dar uma pequena contribuição com a solução deste problema da formação dos nossos estudantes universitários. Entretanto, a concorrência por score pode ter destoado totalmente o objetivo do BI.. Enfim...
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