*Yulo Oiticica
Após a tragédia da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo. Rio de Janeiro, o tema “tensão social nas escolas” retorna para a esfera pública, como se a crise educacional no país tivesse surgido do livro “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll. O fato é que toda vez que a sala de aula reaparece nas manchetes, sou conduzido para a falsa impressão de ter sido pego com as mãos nas calças. Ou seja: assim como Alice, querendo sair de um lugar sem saber para onde quero ir.
Virou lugar comum defender a harmonia do ambiente escolar para o desenvolvimento do país. Infelizmente, toda vez que as desigualdades sociais alcançam os extremos da tolerância, convertendo-se em terror, as soluções mais cruéis são as primeiras que ganham a atenção do noticiário, especialmente, quando o assunto em questão envolve a escola: policiamento, detector de metais, câmeras, redução da maioridade penal. Essas alternativas produzem uma sensação falsa e aumentam ainda mais uma ferida que poderia ser cuidada com mais humanidade através da inclusão, por exemplo, do serviço social nas escolas.
A lousa, o caderno, o lápis e a borracha, tão comuns à sala de aula, não é de hoje convivem com o porte de armas, a atuação de gangues e do tráfico de drogas, o furto e a agressão física e verbal. Pesquisa inédita da Unesco feita em seis capitais mostra que 30% dos professores já viram arma nas mãos de alunos. Com isso não quero de maneira alguma colocar o serviço social nas escolas no pedestal das soluções para pôr um basta na cultura de violência no ambiente escolar. Nem quero incumbir esses profissionais da tarefa mobilizadora de uma campanha pelo desarmamento. Ao contrário, a presença de assistentes sociais nas escolas é uma forma de reconhecer que o problema do fracasso escolar não vem só da qualidade do ensino, mas, também daquilo que ocorre no cotidiano escolar.
Em texto publicado em 2001, pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), o serviço social na educação tem como função combater problemas sociais como: baixo rendimento e evasão escolar; desinteresse pelo aprendizado; problemas com disciplina; insubordinação a qualquer limite ou regra; vulnerabilidade às drogas e atitudes ou comportamentos agressivos e violentos. Mas, evidentemente, serve como uma via auxiliar ao papel desempenhado pelos professores, que assim como os alunos, sofrem com as desigualdades sociais e os conflitos gerados por ela. Sendo assim, necessitam de atenção, apoio e, principalmente, o suporte do assistente social no acompanhamento dos métodos e práticas escolares.
Pesquisadores e sociólogos apontam como principal razão da violência nas escolas a própria exclusão social. De acordo com a publicação, também da Unesco, ‘Violência nas Escolas e Políticas Públicas’, de 2002, enquanto nas escolas de elite, ou de classe média, os comportamentos de risco (como o abuso de drogas) são mais freqüentes, o comportamento agressivo, a violência física e os ataques a adultos são mais comuns nas escolas das classes trabalhadoras. Não por uma predisposição, mas, talvez, pelas condições materiais e profissionais desiguais oferecidas para o ambiente privado e o público.
Apesar de paliativa, a necessidade de implementar o Serviço Social nas escolas, principalmente na rede pública, é tida como uma resposta para minimizar as tensões sociais. A presença dos assistentes sociais expressa uma tendência de compreensão da própria educação em uma dimensão mais integral, envolvendo os processos sócio-institucionais e as relações sociais, familiares e comunitárias. Quem sabe, assim como Alice, no final, a gente encontre a direção até uma escola mais justa e pacifica. Mas, antes é necessário saber onde estamos e qual é a escola que realmente queremos construir.
A inclusão do serviço social nas escolas, talvez, indique este caminho, porque, a cada tragédia que ocorre nas salas de aula, o único fator que realmente fica latente para as conseqüências da violência é que o problema não está somente na escola propriamente dita: estrutura, número de vagas, remuneração dos professores e etc. No final das contas, percebemos que olhamos pouco para as pessoas, o contexto social de cada uma e como as paredes das instituições de ensino são vistas pela sociedade.
É preciso derrubar essas paredes e não sobrepor outras barreiras entre quem está dentro e fora da escola, assim como, estimular formas de costurar essas realidades e encontrar um sentido próprio para a escola brasileira, conforme o nosso jeito de aprender e ensinar. Sem modelos prontos, mas, uma escola construída por todos nós, capaz de refundar um modelo educacional cidadão, articulador de diferentes dimensões da vida social e humana.
*Yulo Oiticica é deputado estadual, líder da bancada do Partido dos Trabalhadores e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Assistência Social na Assembléia Legislativa da Bahia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário