8 de março de 2010

8 de Março - 100 anos!

A mulher e o operário têm em comum o fato de serem oprimidos. As formas desta opressão evoluiram conforme as épocas e países, mas a opressão não desapareceu. Muito freqüentemente, no decorrer da evolução histórica, os oprimidos tomaram consciência da opressão, o que pôde mudar, suavizar a sua situação, mas é somente nos nossos dias que a mulher e o operário vieram a tomar consciência da verdadeira natureza desta opressão e a descobrir as suas causas. Lhes era necessário, além disso, descobrir a verdadeira natureza da sociedade e as leis que fundamentam a sua evolução antes que um movimento que vise a suprimir um estado de coisas reconhecidamente injusto pudesse progredir com alguma possibilidade de sucesso.


No entanto, a extensão e a profundidade de um movimento como esse depende do grau de compreensão atingido pelas camadas mais desfavorecidas e da liberdade de movimento que elas possuam. Vista sob esta dupla relação, a mulher está atrasada em relação ao operário, do ponto de vista dos costumes e da educação, como do ponto de vista da liberdade que a ela é permitida. Ademais, um estado de coisas que dura depois de uma longa série de gerações termina por transformar-se em costume e a hereditariedade e a educação o fazem parecer "natural" à duas partes em presença. É por isso, ainda hoje, que a mulher aceita sobretudo a sua situação inferior como coisa dada e não é fácil explicar-lhe que esta situação é indigna dela e que ela deve esforçar-se para tornar-se um membro da sociedade tendo os mesmos direitos que o homem e sendo-lhe igual em todos os aspectos.


Todas as relações sociais de dependência e de opressão têm suas origem na dependência econômica do oprimido com relação ao opressor. É nesta situação que, bem cedo a mulher irá se encontrar conforme nos mostra a história do desenvolvimento da sociedade humana.Se é possível, porém, descobrir muitas semelhanças na situação da mulher e do operário, há um ponto sobre o qual a mulher antecipa-se ao homem: ela é o primeiro ser humano levado à situação de escravidão. A mulher tornou-se escrava antes que existisse o primeiro escravo do sexo masculino.


Independentemente da opressão que possa sofrer enquanto proletária, a mulher no mundo da propriedade privada, é oprimida enquanto mulher. Uma massa de obstáculos desconhecidos para os homens opõem-se ela a cada passo. Muitas das coisas permitidas ao homem a ela são proibidas; uma quantidade de direitos sociais e liberdades das quais o homem goza transformam-se em uma falta ou um crime na medida em que as mulheres os exerçam. Ela sofre como ser social e como ser sexuado. É difícil dizer em que domínio a opressão é a mais pesada e, por isso, que é necessário compreender porque muitas mulheres deploram ter nascido mulheres e não homens.

 "A mulher ainda precisa provar que é capaz. Por isso trabalha, estuda e se desgasta mais", afirmou Thais Prado, estudante de enfermagem da UFBA. Já Ângela Maria Correa, 37, comemora a posição conquistada. "Meu marido faz a parte dele. Dividimos as tarefas em casa e aonde trabalhamos. Temos uma pizzaria e nos revezamos no balcão", contou a operadora de máquinas, que advertiu: "O machismo ainda não foi quebrado."

Na verdade, embora a sua existência se prenda a intensos movimentos de reivindicação política e trabalhista, a greves, passeatas e perseguição policial, em acontecimentos que tiveram lugar na primeira década do século XX, essa data simboliza a busca da igualdade social entre homens e mulheres, arduamente conquistada no decorrer do século precedente até chegarmos às transformações que, neste século, estabeleceram a consciência do papel da mulher como trabalhadora e cidadã, contribuindo para o desenvolvimento social e o bem-estar geral. 


Com efeito, embora essa celebração muitas vezes esteja associada a um incêndio ocorrido numa fábrica em Nova York, em 1911, nos Estados Unidos, que marcou o ativismo feminista naquele país, a sua origem foi detectada já em 1910, quando na Primeira Conferência Internacional de Mulheres da Internacional Socialista, realizada em Copenhagen, foi proposta pela alemã Clara Zetkin, passando a ser comemorado em datas variadas, sendo-lhe consagrado o dia 8 de março apenas na década de 60, com a revitalização do feminismo, acabando por ser oficialmente instituído pela ONU em 1975, ano que fora designado "Ano Internacional da Mulher".


O dia Internacional da Mulher vai se estabelecer definitivamente no 8 de março com a vitória da revolução na Rússia. Não por coincidência, foi a manifestação convocada pelas operárias ligadas ao socialismo russo, o estopim da Revolução de Fevereiro de 1917, ao se transformar em uma greve geral na enorme concentração operária do bairro Viborg em S. Petersburgo, principal cidade industrial do país.


Com a vitória da ditadura do proletariado, o governo soviético transformou a data em feriado comunista, procurando impulsionar a luta internacional das mulheres, não apenas por que foram elas as iniciadoras da revolução, mas porque são a camada mais explorada da classe operária consituindo potencialmente um vasto movimento revolucionário e, segundo Lênin, sem elas “não haveríamos vencido, ou haveríamos vencido a duras penas”.


A revolução que começou no dia 8 de março através do protesto das mulheres, diante das filas de racionamento de pão provocadas pela miséria vinda com a I Guerra Mundial. A partir daí o movimento se estendeu para as fábricas e quartéis derrubando a monarquia secular que governava a Russia, viria a ser também a maior conquista que as mulheres de todo o mundo jamais obtiveram em toda a história da humanidade na luta pela sua libertação .


A vitória da revolução trará uma série de mudanças fundamentais na situação da mulher soviética, lutando contra a estrutura de total submetimento representada pela cultura semi-asiática do país e pelo atraso econômico representado pela maioria camponesa e pelo subdesenvolvimento urbano. As primeiras medidas adotadas pelo governo revolucionário foram o direito integral ao divórcio a partir do pedido de qualquer dos cônjuges, superando no início do século aslegislações vigentes em todo o mundo ainda hoje , as quais forçam o convívio entre pessoas apesar do laço afetivo e consentimento mútuo não existir mais. No Brasil, como na maior parte do mundo, o divórcio é uma autorização que depende de decisão judicial, após um período de separação de fato, e não um direito inquestionável da pessoa, na medida em que se refere a uma decisão absolutamente particular dos casais.


No caso do aborto o governo revolucionário garantiu o direito integral à sua realização, inclusive através da rede pública de saúde, gratuitamente, em todo o país, atendendo uma das reivindicações mais importantes para as mulheres: o fim da gravidez indesejada, uma violência contra a mulher, uma vez que o Estado intervém repressivamente na vida íntima das mulheres obrigando-as a tomarem uma decisão contra a sua vontade, e que no caso da maior parte das mulheres significa o abandono do trabalho, do estudo, e o reforço da exploração e embrutecimento proveniente do trabalho doméstico e da dependência do marido. Em 1917, o governo de Lênin e Trostki já derrubava totalmente a distinção entre os filhos nascidos de uma união legal e os filhos “ilegítimos”.

Desde então, a data tem por objetivo lembrar tanto as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres em seus respectivos países como também as discriminações a que estão ainda submetidas muitas mulheres em vários lugares do planeta.

A periodicidade dessa comemoração, portanto, traz em seu bojo uma história muito significativa das dificuldades encontradas pelas mulheres de todo o mundo para construir a sua ascensão à igualdade de oportunidades e participação na vida social, e das conquistas que, sem desmerecer o papel que continuam a exercer no seio da família, na procriação e na criação dos filhos vieram permitir-lhes, através de muitas lutas, não só colaborar com seus proventos para a renda familiar e assim constituir profissionalmente para o desenvolvimento e o progresso da nação, mas também, pelo voto e pela representação política arduamente conquistados, alterar o seu papel na sociedade proporcionando-lhes o acesso igualitário a cargos e postos que antes lhe eram vedados quanto mulheres, mas ainda há muito que ser discutido pois os conflitos de classe não podem ser esquecidos ou amenizados pelos conflitos de gênero.

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