3 de setembro de 2011

Ato em Salvador durante a Semana da Anistia

Portal Memórias Reveladas

Em 28 de agosto um ato na rua Jorge Leal Gonçalves marcou as comemorações pelos 32 anos da lei de Anistia em Salvador, na Bahia. O texto de José Carlos Zanetti, em seguida, registra o evento e convida para a Sessão Especial na Assembleia Legislativa da Bahia em apoio a criação da Comissão da Verdade, no dia 5 de setembro de 2011, às 10:00h.

UMA CONSPIRAÇÃO PELA VERDADE
Jose Carlos Zanetti

O evento na Rua Jorge Leal Gonçalves foi surpreendente, um verdadeiro ato de conspiração pela Verdade. Uma invenção meio de última hora a propósito dos 32 anos da Anistia e 10 anos da Comissão da Anistia. Precisávamos fazer algo. Então veio esta idéia. A gente nem sabia quantos iriam topar, nem como a população iria entender e aceitar. Mas teve uns lances que deu liga. A CESE acompanha vários grupos em Itapagipe, eu em particular. Há alguns anos acompanho umas redes sociais, como a CAMMPI que congrega umas 40 organizações. Convidei algumas lideranças e elas fizeram o meio de campo - conheciam a rua e alguns moradores. No comitê, nossa meta era juntar umas 30 pessoas, entre os mais próximos - amigos, parentes alguns moradores. Juntamos 49. Primeira surpresa: um carrinho de som adaptado, acho que a partir do chassi de algum fusca - o Trio Elétrico Mal Assombrado - de um desses propagandistas de bairro que com nossa chegada logo aderiu na base da empatia à primeira vista. Fomos caminhando em volta do trio distribuindo panfletos - o Mal Assombrado tinha um som potente e dispunha de um microfone sem fio que ficou com a gente - pronto, agitadores com picolé na mão, não teve pra quem quis - a Diva, Joviniano, Eliana, e mais o Reginaldo - liderança de uma associação de moradores que viveu o período - foi a gota. Aí apareceram alguns jovens ligados na memória - um filmando, e lá nós com uma placa de acrílico à tiracolo - "Jorge Leal Gonçalves - 1938 - 1970 - Engenheiro Baiano - desaparecido político" com a idéia de fixar junto à placa oficial da rua. A rua, uma pequena artéria logo depois do Largo do Papagaio em forma de "L" - de uns 300 metros que termina num larguinho. Havia umas três placas de sinalização - uma ótima, no meio do trecho em lugar bem visível. Subindo uma escadinha lateral - ideal para pôr a placa de acrílico. Bem, uma liderança de um grupo de jovens que nos acompanhava, conhecia os proprietários - blá e blá, autorizaram. Eu já tava com minha furadeira e extensão engatilhadas. No final da rua, no larguinho, o Saraiva, do Gérmen levou um pé de Pau Brasil e um saquinho de terra vegetal - na barraca, a turma da cerveja se responsabilizou em plantar. Quando chegamos no final da travessia, ao som do Trio Mal Assombrado, a plantinha já tava na jardineira e o Reginaldo - aquele da associação de moradores, com o bocão no microfone delegou pr'um parceiro de cerva a responsa de cuidar da bichinha. + aplausos, + falação - quem foi Jorge Leal? Como era a ditadura? Por que estávamos lembrando disso? Anistia? Comitê Baiano Pela Verdade. Um convite geral para a Sessão Especial do dia 5/9 na Assembléia Legislativa. Lá estavam duas irmãs de Jorge Leal e um primo-afilhado - felicíssimos. O afilhado, uma peça - sabia tudo de Roberto Carlos. Louvamos a plantinha de Pau Brasil. Nome do Largo: Afro-Brasil - tudo combinando, contaminado. Fizemos meia-volta para, enfim, fixar a placa - cadê uma escada, uma cadeira, uma chave de fenda? Na hora tudo acontece - a placa ficou lindona. Agora um círculo humano de mãos entrelaçadas tomava a rua lamacenta. Ruinha até ajeitada - até um shoppinzinho tinha! Pronto, lá vai o primo propor uma canção em homenagem à Santíssima Nossa Senhora - pensei: êta um católico carismático. Nada, foi a música de Roberto Carlos - o vozeirão ao microfone e sem violão - todo mundo acompanhando, os ateus... Cubra-me com seu manto de amor / Guarda-me na paz desse olhar / Cura-me as feridas e a dor me faz suportar / Que as pedras do meu caminho / Meus pés suportem pisar - Nossa Senhora me dê a mão /Cuida do meu coração /Da minha vida, do meu destino... Por fim, um Hino Nacional sofrível - um completando o outro. O Jorge se criou por lá e por lá havia uma senhora que o conhecia, amiga das irmãs - falou com simplicidade politizada - sobre a vida e a coragem, a bondade de Jorge. Depois, a convite da Lúcia, uma das irmãs, fomos todos à Sorveteria Sabor do Céu que fica num dos labirintos da Massaranduba - uma bola pra cada um - quanta animação, cara! Que ato, que ato!

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