1 de setembro de 2011

MST comemora 30 anos do JST no acampamento nacional em Brasília.


Por Maria Mello

Fortalecer os meios de comunicação contra-hegemônicos, produzidos pela própria classe trabalhadora, é a única forma de garantir que a palavra que emana do povo seja transmitida com legitimidade e eficácia.
Por isso, o Jornal Sem Terra - que em 2011 comemora 30 anos de existência - foi homenageado durante o Acampamento Nacional da Via Campesina, em Brasília, na noite da última quarta-feira (24).

“O Jornal Sem Terra tem sangue, lágrima e sorriso de cada pessoa que conseguiu seu pedaço de chão e colheu o pão da terra conquistada. Ele é parte integrante de tudo o que a gente faz e fará para alimentar o povo Sem Terra”, comemorou o integrante da Coordenação Nacional do MST Vilson Santin, de Santa Catarina. “Tenho orgulho em dizer que não teve tempo ruim, não teve crise financeira, que fez acabar esse jornal”, completou, emocionado.


Durante a atividade, também foi lançado o relatório “Vozes Silenciadas - a cobertura da mídia sobre o MST durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito”, da pesquisadora e professora Monica Mourão, realizado pelo Coletivo Brasil de Comunicação Social Intervozes.
O documento é resultado da análise de 301 matérias de jornais, revistas e telejornais que citavam o MST, entre fevereiro e julho de 2010, e é mais um atestado de que os grandes meios de comunicação tratam o movimento de forma pejorativa e criminalizadora.

A pesquisadora explica que, em função do período em que as matérias foram analisadas, o tema predominante na mídia eram as eleições, e que em geral o nome do Movimento era associado a atitudes irresponsáveis e violentas.

“Havia um jogo em que MST era associado a um candidato, como elemento ruim ao qual ninguém queria estar relacionado”, conta. Outro elemento que chamou a atenção no estudo foi a ausência do tema Reforma Agrária. “Apenas 5% das matérias associaram o MST à luta pela democratização da terra”, salientou.
Segundo ela, foram utilizados 192 termos negativos diferentes nas matérias. Além disso, o MST foi ouvido em apenas 57 reportagens. “Houve algumas matérias que trataram de forma positiva, mas a maioria foi com negativismo panfletário. Creio que este é um instrumento importante pra gente mostrar o que está sendo dito sobre o Movimento, porque mostra que o direito à comunicação está sendo ferido, principalmente porque as TVs são concessões públicas. A cobertura da TV, aliás, tem sido pior que a dos impressos”, concluiu.
História tem de ser contada por quem a faz

“Não deve haver ilusão de que a mídia possa apoiar o MST. Ela nunca irá apoiá-los, porque a discussão é ideológica”. A afirmação enfática de Leandro Fortes, jornalista da Carta Capital, que também participou da atividade em Brasília, reforça a leitura que os movimentos já fazem sobre a mídia brasileira.
“A imprensa do nosso país tem origem na elite, que abomina e tem pavor da discussão sobre o fim e limite dos latifúndios no Brasil, porque na origem da Reforma Agrária está também a origem da solução de muitos problemas da sociedade, inclusive a urbana”, defendeu.

O jornalista apontou ser preciso que os movimentos reforcem seus próprios meios de comunicação, pressionem por concessões de rádio e comuniquem-se de forma livre. “Confunde-se deliberadamente, de forma provocativa, a luta contra o latifúndio com a luta contra a propriedade privada. O jornal do MST completa 30 anos, é mais velho que o próprio movimento, instrumento de resistência de verdade que não submeteu às tentativas de criminalização. É preciso que vocês façam uma contrarrevolução, gerando os meios de comunicação e seus próprios jornalistas. A história do maior movimento social da história do Brasil só será contada quando vocês tiverem formas de contá-la”.

Leandro também comentou a forma com que a Reforma Agrária tem sido tratada pelo governo. “Há uma valorização excessiva e um pouco criminosa da questão do agronegócio no Brasil, tenta-se amenizar os crimes do agronegócio. Sabemos que não é verdade que o agronegócio é a única forma de firmar o país economicamente no mundo. E a imprensa não discute, por má-fé e por ignorância, a questão da pequena agricultura”, criticou.

O Acampamento Nacional da Via Campesina em Brasília integra a Jornada de Lutas que mobiliza, desde o início da semana, diversas organizações de trabalhadores em torno de uma pauta unificada e abrange cerca de 20 estados em todo o Brasil.

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