5 de março de 2017

Bolinho de Estudante agita Circuito Dodô com MicroTrio de Ivan Huol e Márcia Castro


Microtrio rodeado pelos foliões na tarde de domingo na altura do Farol da Barra. Foto: Raquel Franco


Na sua terceira edição, o Bolinho trouxe o tema de baile à fantasia, com direito a "adereçaço" e distribuição de acessórios e fantasias para os foliões.

Por Raquel Franco em 27/02/17
Salvador

 
No último domingo de carnaval (26), aproximadamente às duas da tarde, o Bolinho de Estudante abriu o desfile no Circuito Dodô (Barra/Ondina) conduzido pelo Microtrio de Ivan Huol, com a participação especial da cantora baiana Márcia Castro.

 
O Bolinho de Estudante surgiu em 2015 como iniciativa da União dos Estudantes da Bahia (UEB), em conjunto com a Associação Baiana Estudantil Secundarista (ABES). A ideia do bloco é reunir secundaristas e universitários do estado para uma participação livre e democrática no carnaval de Salvador. Onã Rudá, militante do movimento estudantil, afirma que "existe aqui uma proposta efetiva de um novo carnaval. Diferenciado, sem cordas, na paz, com a juventude sendo protagonista e com artista renomado."


O bloco foi puxado pelo menor trio elétrico da Bahia, o MicroTrio, que é composto por um quarteto (Dinho Damatta na voz e violão, Ivan Bastos no baixo e vocal, Ivan Huol na bateria e voz e Sérgio Albuquerque na guitarra baiana). Ele circula há 20 anos pelas ruas de Salvador durante o carnaval com um repertório eclético, formado por hits de diversos estilos dos últimos 50 anos. O tema do trio de 2017 é "GG", "Geleia Geral", em referência à expressão cunhada pelo poeta Décio Pignatari que se tornou o título da canção de Torquato Neto e Gilberto Gil.


Formado tanto por estudantes quanto por famílias com diferentes gerações e casais, o público foi denso e diversificado, a ponto de superar as expectativas dos organizadores. Nágila Maria, presidenta da UEB, afirmou: "A nossa expectativa era de trazer muita gente, muito jovem pra avenida, pra que a gente pudesse imprimir aqui as nossas principais bandeiras de luta do cotidiano do movimento estudantil. E eu acho que a gente cumpriu esse papel. A gente tá conseguindo aqui no bloco dialogar com muito estudante, com muito jovem." Mel Gomes, diretora de cultura da UNE, também opinou: "Eu acho que sim, está sendo até mais [movimentado] do que eu esperava, pelo que a gente tá vivendo hoje. A gente sabe que muitos trios foram barrados de passar, até por uma questão de financiamento. Então esse trio estar acontecendo já é uma conquista em geral, principalmente pra UEB e automaticamente se torna pra UNE e pro CUCA (Circuito Universitário de Cultura e Arte) da UNE. Essa parceria com o Ivan Huol e com Márcia Castro foi algo que ajudou também a ter essa mobilização."


Durante todo o desfile houve vários momentos de protesto contra o atual governo e algumas de suas medidas tomadas nos últimos meses. Entre elas, estão a PEC 55 e a Reforma da Previdência. Sobre essa questão, Bruna Jacob, universitária e militante do movimento estudantil que acompanhou a saída do bloco, avaliou que "é um desafio da juventude inovar na linguagem. Eu acho que ações como o Bolinho do Estudante e como esses protestos que os jovens levam pro carnaval ajudam a compartilhar com o povo informações que a mídia hegemônica não compartilha. É uma forma de inovação no método [de protestar] no sentido de conseguir falar pras pessoas e ampliar a voz da juventude."
 

Foliões do Bolinho do Estudante protestando contra o atual governo. Foto: Raquel Franco


Os três organizadores entrevistados, do ponto de vista do movimento estudantil, analisaram a importância da atuação dos estudantes no carnaval no atual contexto de fragilidade política do país:


Mel Gomes: "A palavra resistência é uma palavra que vai tá ligada a qualquer movimento que a gente faça hoje. O momento que o trio teve de puxar Fora, Temer e a galera em volta gritar também, e isso atrair mais pessoas a acompanharem o trio, acho que isso mostra o papel político que é essa questão da cultura aqui em Salvador".


Onã Rudá: "A juventude é uma parcela significativa das pessoas que vão fazer cultura no carnaval. Vão fazer, produzem e consomem essa própria cultura. Agora elas não tem um espaço muito bem definido, porque não existe do ponto de vista de política publica um espaço pensado pra juventude no carnaval de salvador."
 

Nágila Maria: "A gente tá falando com a juventude que produz muita cultura e arte cotidianamente nas universidades e nas escolas brasileiras, e infelizmente as políticas públicas ainda são escassas nesse sentido. A juventude não tem oportunidade de expressar aquilo que ela constrói dentro dos muros das escolas e universidades. É importante que a nossa juventude possa ir pras ruas nesse momento se manifestar, pedir mais avanços e mais direitos, porque a gente ta vivendo um momento de retrocesso muito grande."


*Entrevistados:


Bruna Jacob (22), estudante do Bacharelado em Gênero e Diversidade na UFBA e diretora de Formação Política do DCE/UFBA.
 
Mel Gomes (27), estudante de Produção Cultural na UFF e diretora de Cultura da UNE.
 
Onã Rudá, compõe a Diretoria de Comunicação da UEB.
 
Nágila Maria (23), estudante de Psicologia na UFBA e
Presidenta da UEB.
 
Raquel Franco é original de Brasília, tem 19 anos e faz Produção Cultural na UFBA.

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