A nossa recente ruptura com o Partido dos Trabalhadores jamais significou virar as costas para a importante, e viva, força social que esta ferramenta ainda possui no conjunto da sociedade e da classe trabalhadora. Aliás, foi para manter a nossa coerência política que esgotamos todas as vias e experiências das disputas internas que nos dispusemos a realizar ao longo de todos esses anos.
Por fim, chegamos à conclusão de que as disputas pelo rumo do Partido dos Trabalhadores não podem mais ser o fim da nossa tática diante dos graves e profundos desafios postos para uma reorganização da esquerda brasileira no próximo período. Seja como for, sempre consideramos que o próprio PT possa fazer parte dessa reorganização. Isso porque há um conjunto de contradições neste partido que ainda podem produzir importantes influências sobre os rumos da esquerda.
De toda forma, e mesmo concordando com essas contradições internas, optamos por não balizar a nossa política à espera do que, simplesmente, pode não vir, ou pode demorar a vir. Que a atual direção do PT não tem mais condições de governar o partido não parece haver qualquer sombra de dúvidas, mesmo no campo majoritário. Mas que essa insatisfação geral se transformará em um choque de forças capaz de produzir uma nova direção partidária, isso é outra coisa.
O fato de haver uma crise e um fim de ciclo não significa automaticamente que haverá ruptura ou transformação significativa a ponto de enxergarmos grandes alterações. Aliás, o PT, como Lula, é a expressão máxima do Macunaíma, ou seja, aquele que muda e não muda, aquele que é e não é, aquele que simplesmente se adapta as novas condições sem necessariamente corrigir as antigas. Esse fenômeno expresso na política nacional tem a sua versão de esquerda no PT e na figura de Lula.
Após a enxurrada de denúncias lideradas pelo oligopólio das mídias no Brasil e com supervisão e tutela da política externa americana, o Partido dos Trabalhadores parece enfrentar a sua pior crise. Alguns analistas, da chamada grande imprensa, e parte dos partidos e organizações esquerdistas coniventes com o golpe, arrematam que o atual cenário representa o fim do PT. A nós, essa análise não poderia ser mais equivocada, precipitada e, em grande medida, apenas um desejo. Desejo esse de "ocupar" o espaço deixado pelo PT, mas como verificamos, isso não ocorreu. Essas interpretações lineares passam ao largo quanto as novas composições e correlações de forças internas que tem como expressão o movimento "Muda PT".
O Muda PT é uma coligação das correntes mais à esquerda do partido (algumas delas nem tão esquerda assim) ou, simplesmente, correntes alijadas dos últimos processos decisórios do maior partido de esquerda da América Latina. Sua heterogeneidade reflete dois aspectos: a) a pluralidade da vida interna do PT e; b) a contradição de setores tão diferentes, tanto do ponto de vista tático quanto do ponto de vista estratégico, juntos para tentar pressionar o campo majoritário do partido.
Não há um programa muito nítido acerca das mudanças pretendidas pelo Muda PT, ao passo que também não há maiores sinalizações sobre a vontade do campo majoritário em reorganizar a atuação partidária. Aos que esperavam maiores rupturas de dentro pra fora do PT, a entrada de Lula no sentido de coesionar os diferentes interesses das diferentes correntes, parece colocar uma solda em pedaços que pareciam estar com o pé pra fora. Não nos surpreenderíamos se a próxima direção do PT, que é o centro do embate entre o campo majoritário e o Muda PT, fosse composta por todas as correntes do partido, inclusive com uma presidência compartilhada. Pesa contra essa tese o fato de um contingente significativo de burocratas que sobreviviam das estruturas de governo estarem momentaneamente desempregados, o que faria da estrutura partidária a sua única saída. Teria o campo majoritário do PT poder de barganha para assentar todos os segmentos partidários na estrutura interna do partido?
Colocado desse ponto de vista o ajuste do Muda PT as exigências de enquadramento construídas por Lula parecem bastante plausíveis, ao menos, no que se refere ao próximo ano e meio quando ocorrerá novas eleições presidências as quais o ex-presidente aparece como uma das alternativas viáveis. (Caso não seja preso, logicamente, e concretize o sonho da burguesia nacional). A Lava-Jato, sob tutela de interesses internacionais, ainda pode trazer surpresas e o lastro deste acordo parece depender se Lula estará viável em 2018. Caso esteja e vença as eleições, não temos dúvidas de que as mudanças no PT estarão mais uma vez colocadas num prazo a perder de vista. Caso não esteja viável, ou seja derrotado em 2018, o impasse estará mantido e este acirramento continua sem uma solução visível.
O certo é que, exceto a CNB, corrente majoritária do PT, nenhum outro segmento da esquerda parece ter um projeto de poder para o PT e para o país. Esse projeto, o qual a totalidade dos seguimentos do partido surfaram quando em alta, parece ter finalmente chegado ao fim e posto a cabo com o golpe contra Dilma. Por outro lado nenhum segmento partidário parece ter projeto algum, exceto o de suas próprias sobrevivências enquanto organização política e sabem que o fim do PT também os ameaça de extinção ou, no mínimo, de tempos muito duros pela frente.
De nossa parte seguimos no esforço de contribuir com a reorganização da esquerda. Esse parece ser o grande desafio dos/as revolucionários/as no próximo período.
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