2 de março de 2017

Questão racial e luta de classes


 
* Léo Coutinho

Primeiramente - além do clássico e pouco produtivo Fora Temer - é preciso trazer alguns conceitos necessários à compreensão deste texto. São eles:

Luta de classes - segundo Marx, luta de classes são conflitos entre as diferentes classes sociais, que possuem interesses antagônicos entre si, podendo se desenvolver a partir de elementos políticos, econômicos ou ideológicos.

Racismo - a grosso modo, racismo é um sistema de poder que pressupõe a existência de raças superiores a outras, isto é, a partir de características físicas, determinados grupos sociais são colocados acima de outros.

Dito isto, é importante compreender que esta sempre foi uma questão bastante divergente no interior do movimento negro brasileiro, sobretudo a partir da criação do MNU em fins da década de setenta. Essa polarização - raça versus classe - traz de um lado os que defendem a luta antirracista descolada da questão classista e, do outro, os marxistas, que acreditam que essa luta deve estar vinculada a luta de classes.

As esquerdas no Brasil sempre tiveram dificuldade em debater a questão racial. Isso é fato. O grande problema, ao que me parece, é que elas demoraram para perceber que não se pode resumir os problemas relacionados ao povo preto as questões de classe. O racismo no Brasil, assim como na grande maioria dos países, é estrutural e precisa ser compreendido para além da lógica classista.

O racismo a brasileira - velado por essência - sempre foi construído sob várias perspectivas. Para além da política de embranquecimento, responsável pelo estímulo a vinda de europeus e a proibição da entrada de africanos no país, as bases que o consolidaram no Brasil foram calçadas a partir de muita exploração e opressão.

A discussão sobre raça e classe deve andar lado a lado. A médio e curto prazo, na minha avaliação, a discussão racial deve acumular forças e vitórias ao povo preto - a exemplo da acertada política de cotas nas universidades públicas. Mas esse debate não pode nem deve parar por aí. Ou seja, é preciso que, para além das vitórias e da contribuição para o empoderamento/politização da negrada, o movimento negro, bem como o conjunto das esquerdas no brasil, coloquem como horizonte estratégico a derrubada do que sustenta o racismo hoje, isto é, o capitalismo.
 
Não há possibilidade de uma sociedade capitalista ser estruturada sem racismo, já dizia Malcolm X. Nessa perspectiva, o esforço tem que ser no sentido de construir alicerces, utilizando-se do acúmulo obtido através da radicalização das pautas identitárias, para superarmos o capitalismo.
 
Se as pautas identitárias não estiverem associadas ao debate de classe elas pouco contribuirão para o fim de todas as formas de opressão. Por mais que uma parcela significativa das esquerdas no Brasil faça boas discussões identitárias, e isso resulte em importantes avanços para segmentos historicamente excluídos, elas não devem morrer por si só, como muita gente defende.
 
O debate racial, bem como o restante das outras pautas identitárias, deve estar linkado e a serviço da luta pela derrubada do capitalismo. Como já dito, essas pautas devem servir para acumular forças para avançarmos rumo a revolução brasileira - pois só assim teremos uma sociedade justa, igualitária, socialista e livre de opressões.
 
* Apenas um preto que há 27 anos contraria/afronta a estatística

"Pra acabar com o racismo
Só esmagando o capitalismo
Só assim deixaremos para sempre de ser vítimas
Da Igreja, do Estado, da porra da mídia." (Mano Léo Dossiê)

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