8 de março de 2017

Desabafo lilás


* Bruna Jacob

Hoje é 8 de março: O tradicional dia de distribuição de flores pras mulheres.

Ganhamos flores nos supermercados, lojas, em casa e no trabalho.

Mas respeito que é bom: N-A-D-A!

Recebemos flores em todos os 8 de março.

Rosas vermelhas.

Vermelhas da cor do nosso sangue que escorre 365 dias por ano.

No dia de hoje, eu não quero flores.

Nem quero nenhum parabéns, ou elogio pra disfarçar o seu machismo que no restante do ano só nos traz dores.

Não, não precisamos disso.

O que nós precisamos todos os dias por ano, ano após ano: é derrubar o capital, o racismo e o patriarcado!

Portanto, guarde sua rosa pra você. E fique bem ligado.

Se liga no nosso recado:

- Das lojas e do supermercado, nós queremos o fim da mercantilização do nosso corpo.

- No trabalho o que buscamos é equiparação salarial e um trabalho que não seja escravo.

- Queremos também o fim dos assédios sexuais e morais que assombram milhares de nós no mercado de trabalho.

Isso quando inseridas nele estamos, pois ainda dizem que muitas de nós ''não nasceu pra esse ramo''.

Trabalhar é coisa de homem, imagina só que pensamento mais insano?

- Dentro dos nossos lares liberdade é o que buscamos.

- Desejamos não mais sentir o medo de ser morta por quem a gente escolheu pra ser nosso companheiro.

Companheiro que mata, agride e controla. Que acha que dividir as tarefas domésticas é favor e que essa coisa de feminismo é mania de mulher chata que ta na moda.

Gritamos em alto e bom som: ESTAMOS FORA!

Portanto, guarde sua rosa pra você. Nós não queremos rosas.

Nós queremos o fim da cultura do estupro.

Almejamos um mundo que pras mulheres seja seguro.

Sonhamos com o fim desse eterno luto por cada uma de nós que morre a cada minuto.

Por isso não, não precisamos de flores.

Nós precisamos é de empatia e de cuidados. Precisamos de cada dia mais aliados.

Precisamos transformar todo luto em luta, afim de que essa sociedade não mais nos criminalize enquanto puta.

Puta sou eu, puta é você, sua mãe, sua irmã, companheira, e cunhada.

Puta somos todos nós que não recebemos respeito durante os 365 dias do ano, mas quando de alguma violência reclamamos, nos resumem a flores num dia que era pra ser de luta e pelo capital foi apropriado.

É certo que não precisamos de flores.

Precisamos de foices, martelos, e não mais senhores.

Precisamos de autonomia sobre o nosso corpo, e por homem nenhum jamais ter a nossa vida arrancada como um sopro.

* é Coordenadora Geral do Coletivo O Estopim! - BA e Coordenadora de Formação Política do DCE/UFBA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário