Da coordenação
Após o último conselho de entidades prorrogar o período de inscrições de chapas para as eleições do DCE em 2010, abre-se um interessante cenário para a composição das mesmas.
O que estará colocado no próximo período é a adequação de um movimento estudantil responsável afastando o esquerdismo inconseqüente e muitas vezes conservador, com a capacidade de articular os diversos setores em torno de plataformas de unidade.
A verdade é que o movimento estudantil da UFBa vive um longo processo de refluxo e não consegue acompanhar as transformações internas da Universidade. Mas do que nunca, a possibilidade de uma ampla Unidade no M.E. poderá colocar as reivindicações históricas na ordem do dia, possibilitando grandes vitórias.
29 de março de 2010
Palestina
Da coordenação
O Estado sionista de Israel iniciou na semana passada mais uma investida contra os territórios palestinos. Como se não bastasse o conjunto da obra iniciada em 1948, passando pela guerra dos seis dias – que só ampliou os territórios designados pela ONU, a construção de muros que separam as terras férteis e o acesso a água, agora o governo israelense iniciou a construção de assentamentos nos territórios palestinos.
Dessa vez, nem mesmo os aliados tradicionais de Israel puderam apoiar este absurdo, não que estes governos tenham algum tipo de princípios sobre o tema, mas a posição do governo sionista é demasiado antiquada. Até mesmo para os EUA e a Inglaterra.
Mais uma vez a população palestina foi às ruas contra a invasão dos seus territórios e mostrar a sua indignação diante de tais absurdos. O Hamas alerta que a opressão constante do regime de ocupação de Israel só precisa de uma pequena faísca para inflamar uma terceira intifada.
Nós do coletivo O Estopim! nos solidarizamos em absoluto com a luta do povo palestino e defendemos a dissolução do Estado sionista como única solução para a superação da instabilidade no Oriente médio.
Por um Estado palestino livre!
O Estado sionista de Israel iniciou na semana passada mais uma investida contra os territórios palestinos. Como se não bastasse o conjunto da obra iniciada em 1948, passando pela guerra dos seis dias – que só ampliou os territórios designados pela ONU, a construção de muros que separam as terras férteis e o acesso a água, agora o governo israelense iniciou a construção de assentamentos nos territórios palestinos.
Dessa vez, nem mesmo os aliados tradicionais de Israel puderam apoiar este absurdo, não que estes governos tenham algum tipo de princípios sobre o tema, mas a posição do governo sionista é demasiado antiquada. Até mesmo para os EUA e a Inglaterra.
Mais uma vez a população palestina foi às ruas contra a invasão dos seus territórios e mostrar a sua indignação diante de tais absurdos. O Hamas alerta que a opressão constante do regime de ocupação de Israel só precisa de uma pequena faísca para inflamar uma terceira intifada.
Nós do coletivo O Estopim! nos solidarizamos em absoluto com a luta do povo palestino e defendemos a dissolução do Estado sionista como única solução para a superação da instabilidade no Oriente médio.
Por um Estado palestino livre!
28 de março de 2010
Paridade sem denominador da no mesmo.
A ultima reunião da comissão eleitoral que irá tocar as eleições de reitor na UFBa determinou a igualdade de peso dos votantes. Na fórmula regimental, os professores tem um peso de 70% enquanto que estudantes e técnicos apenas 15% cada.
Porém, não há muito que comemorar. A mesma comissão eleitoral reunida no último sábado (28/03) determinou também que o cálculo do denominador deve ser feito sob o número total de cada categoria, ou seja, num universo de 38 mil estudantes – o caso da nossa categoria, é praticamente impossível que tenhamos o peso consubstancial da nossa opinião.
Para exemplificar essa situação, as eleições mais mobilizadas para o DCE contam com pouco menos de oito mil votos. Isso é por que somos desmobilizados? Essa não é a melhor de colocar a questão, pois existem diversos outros elementos que implicam nesta resultante. Um deles é o fato de anualmente a Universidade contar com milhares de novos estudantes – no ano passado foram quase oito mil. Isso é bastante diferente do quadro de professores e funcionários que são mantidos ao longo dos tempos.
Não da pra balizar dessa forma. Isso tudo não leva em consideração a imensa dificuldade de chegar aos estudantes e a sua fluidez – em média 4 anos, dentro do universo acadêmico. Na verdade, o fato é que mesmo com o suposto avanço na paridade, isso pouco se concretizará com o cálculo do denominador mantido dessa forma.
Cabe ao movimento estudantil pressionar os demais setores da Universidade – APUB e ASSUFUBA, para que possamos reverter essa situação. Acreditamos que isso é possível, bastando à boa vontade das chapas que irão para o pleito.
Diego Rabelo é estudante de museologia da UFBa e representante discente na comissão eleitoral para eleições de reitor.
Mídia: o eterno retorno do discurso golpista
Se para a população ficou claro que o país precisa crescer distribuindo, e, para isso, cabe ao Estado criar políticas capazes de desconcentrar a renda, os editoriais do Globo, Estadão e Folha são escritos para quem?
Gilson Caroni Filho
As recentes críticas do presidente da República à mídia brasileira devem ser lidas à luz de um recorte deontológico preciso. Se um dos compromissos fundamentais do jornalismo é a preservação da memória, a imprensa nativa tem, ao longo das últimas décadas, empregado uma estrutura discursiva recorrente para produzir esquecimento. A preocupação de Lula com o hipotético estudante que, daqui a trinta anos, se debruçará sobre mentiras quando folhear o noticiário dos grandes jornais, não só tem fundamento como deveria preocupar os historiadores. Afinal, qual será o valor dos nossos periódicos como fontes primárias de consulta? Em princípio, nenhum. Salvo se a pesquisa for sobre o discurso noticioso e os interesses mais retrógados
Ao tentar colar o rótulo de "estatistas" nas propostas estratégicas do governo, e apresentar o Partido dos Trabalhadores e a ministra Dilma Roussef como defensores de um "Estado-empresário" a mídia corporativa dá um passo a mais na escala do ridículo. Quer fazer crer que não acabou a era da ligeireza econômica, da irresponsabilidade estatal ante a economia, do infausto percurso da razão financista.
Fazendo tábua rasa das conseqüências do mercado desregulado, oculta o que marcou o governo de Fernando Henrique Cardoso: baixa produtividade e alta especulação, baixo consumo e elevadas taxas de desemprego, pobreza generalizada e riqueza concentrada. Prescreve como futuro promissor um passado fracassado. Esse é o eterno retorno dos editorialistas e articulistas de programa. Um feitiço no tempo que atualiza propostas desconectadas do contexto de origem.
Vejam a semelhança dos arrazoados. Tal como nos planos dos estrategistas do modelo de desenvolvimento implantado no país com o golpe de 1964, sem a propensão "estatizante" do governo Jango, o Brasil progrediria nos moldes do capitalismo mais antigo. Livres da intervenção do Estado na economia, da” permissão à desordem pelos "comandos de greve"- e pela” infiltração comunista”- voaríamos em céu de brigadeiro. O desenvolvimento, pregavam os editoriais escritos há 46 anos, seria ininterrupto, para todo o sempre, sem qualquer risco de fracasso. Note-se que a peroração golpista se assentava nos mesmos pilares dos textos de hoje: denúncias de corrupção, aparelhamento do Estado e criminalização dos movimentos sociais com o manifesto propósito de estabelecer uma ordem pretoriana no mundo do trabalho.
O enfraquecimento prematuro ou tardio de setores da classe dominante - com a conseqüente a crise de hegemonia política - tornava decisiva a luta pelo controle do Estado. Sob as bênçãos da maioria dos jornalões, a classe média, conduzida pelos políticos mais reacionários, pela TFP e pelas Ligas Católicas de direita, foi às ruas participar de "Marchas da família com Deus pela Liberdade".
Os resultados práticos do regime militar não demoraram a surgir: a entrada de poupança externa foi inexpressiva; não se criou indústria nacional e autônoma nenhuma; o financiamento interno serviu para o desenvolvimento das indústrias basicamente estrangeiras de automóveis e eletrodomésticos que formavam o setor dinâmico da economia brasileira, puxando o comércio, serviços e indústrias locais também vinculados a esse pólo. Ao fim, o paraíso prometido foi uma quimera cara, com uma dívida externa estimada em 12 bilhões de dólares.
Ainda assim não faltam nostálgicos,muitos alojados na ANJ e Abert, a proclamar que “vivemos um momento grave, com investidas de inimigos da liberdade de imprensa, propostas que ferem o sentimento religioso do povo brasileiro", sem falar das hostilidades aos nossos mais tradicionais aliados, com gestos generosos a caudilhos.
Falam de cercos fiscais, regulatórios e ambientais à iniciativa privada, e lamentam não haver substitutos para Oscar Correa, Silvio Heck, Odilo Denis e outros notórios golpistas. Tal como os grandes jornais que tiveram as tiragens reduzidas, as viúvas do "milagre" de Roberto Campos, Delfim Neto, Ernane Galveas e Mário Henrique Simonsen não se dão conta que não falam para quase ninguém. A reduzida base social não lhes permite margem de manobra mais ampla.
Se para a população ficou claro que o país precisa crescer distribuindo, e, para isso, cabe ao Estado criar políticas capazes de desconcentrar a renda, os editoriais do Globo, Estadão e Folha são escritos para quem? Longe de ser apenas uma questão ética, a questão social também é econômica. E o confronto com a mídia uma questão decisiva para que não tenhamos um arremedo de democracia.
Ao tentar colar o rótulo de "estatistas" nas propostas estratégicas do governo, e apresentar o Partido dos Trabalhadores e a ministra Dilma Roussef como defensores de um "Estado-empresário" a mídia corporativa dá um passo a mais na escala do ridículo. Quer fazer crer que não acabou a era da ligeireza econômica, da irresponsabilidade estatal ante a economia, do infausto percurso da razão financista.
Fazendo tábua rasa das conseqüências do mercado desregulado, oculta o que marcou o governo de Fernando Henrique Cardoso: baixa produtividade e alta especulação, baixo consumo e elevadas taxas de desemprego, pobreza generalizada e riqueza concentrada. Prescreve como futuro promissor um passado fracassado. Esse é o eterno retorno dos editorialistas e articulistas de programa. Um feitiço no tempo que atualiza propostas desconectadas do contexto de origem.
Vejam a semelhança dos arrazoados. Tal como nos planos dos estrategistas do modelo de desenvolvimento implantado no país com o golpe de 1964, sem a propensão "estatizante" do governo Jango, o Brasil progrediria nos moldes do capitalismo mais antigo. Livres da intervenção do Estado na economia, da” permissão à desordem pelos "comandos de greve"- e pela” infiltração comunista”- voaríamos em céu de brigadeiro. O desenvolvimento, pregavam os editoriais escritos há 46 anos, seria ininterrupto, para todo o sempre, sem qualquer risco de fracasso. Note-se que a peroração golpista se assentava nos mesmos pilares dos textos de hoje: denúncias de corrupção, aparelhamento do Estado e criminalização dos movimentos sociais com o manifesto propósito de estabelecer uma ordem pretoriana no mundo do trabalho.
O enfraquecimento prematuro ou tardio de setores da classe dominante - com a conseqüente a crise de hegemonia política - tornava decisiva a luta pelo controle do Estado. Sob as bênçãos da maioria dos jornalões, a classe média, conduzida pelos políticos mais reacionários, pela TFP e pelas Ligas Católicas de direita, foi às ruas participar de "Marchas da família com Deus pela Liberdade".
Os resultados práticos do regime militar não demoraram a surgir: a entrada de poupança externa foi inexpressiva; não se criou indústria nacional e autônoma nenhuma; o financiamento interno serviu para o desenvolvimento das indústrias basicamente estrangeiras de automóveis e eletrodomésticos que formavam o setor dinâmico da economia brasileira, puxando o comércio, serviços e indústrias locais também vinculados a esse pólo. Ao fim, o paraíso prometido foi uma quimera cara, com uma dívida externa estimada em 12 bilhões de dólares.
Ainda assim não faltam nostálgicos,muitos alojados na ANJ e Abert, a proclamar que “vivemos um momento grave, com investidas de inimigos da liberdade de imprensa, propostas que ferem o sentimento religioso do povo brasileiro", sem falar das hostilidades aos nossos mais tradicionais aliados, com gestos generosos a caudilhos.
Falam de cercos fiscais, regulatórios e ambientais à iniciativa privada, e lamentam não haver substitutos para Oscar Correa, Silvio Heck, Odilo Denis e outros notórios golpistas. Tal como os grandes jornais que tiveram as tiragens reduzidas, as viúvas do "milagre" de Roberto Campos, Delfim Neto, Ernane Galveas e Mário Henrique Simonsen não se dão conta que não falam para quase ninguém. A reduzida base social não lhes permite margem de manobra mais ampla.
Se para a população ficou claro que o país precisa crescer distribuindo, e, para isso, cabe ao Estado criar políticas capazes de desconcentrar a renda, os editoriais do Globo, Estadão e Folha são escritos para quem? Longe de ser apenas uma questão ética, a questão social também é econômica. E o confronto com a mídia uma questão decisiva para que não tenhamos um arremedo de democracia.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
Fonte: Agência Carta Maior
23 de março de 2010
22 de março de 2010
Rússia
Rússia
Milhares de manifestantes foram às ruas em diversas cidades da Rússia em protesto contra a política econômica do governo. Os mobilizados pedem a saída do primeiro ministro Vladmir Putin – ex KGB.
Após o colapso da URSS a Rússia, uma das ex-repúblicas soviéticas, viveu um fenômeno conhecido caracterizado por máfias que disputam a pilhagem do Estado. Todas as conquistas da revolução de Outubro de 1917 foram pouco a pouco negociadas por grupos paraestatais que levam o país ao caos econômico.
Na Rússia e nos demais países do chamado “comunismo real”, que quer dizer na verdade os países que experimentaram a substituição da propriedade privada pela coletiva, é impossível se falar em restauração do capitalismo de fato. A máfia compõe uma nova classe parasitária que sobrevive de tudo aquilo que o Estado soviético construiu. Dessa forma não há livre mercado, livre competição, que são, em tese, os elementos fundamentais para o desenvolvimento capitalista.
O proletariado russo vive um longo período de refluxo.
Milhares de manifestantes foram às ruas em diversas cidades da Rússia em protesto contra a política econômica do governo. Os mobilizados pedem a saída do primeiro ministro Vladmir Putin – ex KGB.
Após o colapso da URSS a Rússia, uma das ex-repúblicas soviéticas, viveu um fenômeno conhecido caracterizado por máfias que disputam a pilhagem do Estado. Todas as conquistas da revolução de Outubro de 1917 foram pouco a pouco negociadas por grupos paraestatais que levam o país ao caos econômico.
Na Rússia e nos demais países do chamado “comunismo real”, que quer dizer na verdade os países que experimentaram a substituição da propriedade privada pela coletiva, é impossível se falar em restauração do capitalismo de fato. A máfia compõe uma nova classe parasitária que sobrevive de tudo aquilo que o Estado soviético construiu. Dessa forma não há livre mercado, livre competição, que são, em tese, os elementos fundamentais para o desenvolvimento capitalista.
O proletariado russo vive um longo período de refluxo.
20 de março de 2010
Movimento de docentes não significa nada, diz Serra
Da coordenação
Sob protestos de professores e de funcionários da área da Saúde, o governador de São Paulo, José Serra, voltou a minimizar hoje a greve dos docentes da rede estadual de ensino, durante visita a Ribeirão Preto (SP). "Não tem greve, isso é um movimento que não significa nada", disse Serra após cerimônia que marcou a inclusão do setor de reabilitação do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) na rede Lucy Montoro.
Antes da cerimônia, a Polícia Militar agiu contra o diretor regional do Sindicato dos Trabalhadores na Saúde do Estado de São Paulo, Ricardo Oliveira, e tomou um megafone que ele carregava. Revoltado, Oliveira prometeu processar a Polícia Militar e perguntou ao tenente coronel da PM Salvador Loureiro onde o equipamento estava. "Boa pergunta? Cadê o megafone?", repetiu Loureiro.
Já um grupo de professores foi impedido de entrar no local do evento, um deles disse que foi agredido pela Polícia Militar, e o protesto seguiu do lado de fora. Os gritos dos professores, isolados na parte externa, e de funcionários da Saúde, que conseguiram entrar, puderam ser ouvidos durante o discurso de Serra. Um professor solitário conseguiu entrar no evento e entregar uma carta a um segurança do governador, que não deu atenção.
Ao citar os valores dos investimentos na ala de reabilitação e ainda em uma unidade de radioterapia do HC da USP, Serra foi interrompido várias vezes pelos manifestantes do setor de Saúde, os quais foram vaiados pela maioria dos presentes. "Para de inaugurar maquete, Serra" e "Para Saúde não tem nada?", disse um deles. De fato, a ala do HC já funciona desde 2007 e a cerimônia marcou apenas a inclusão na rede Lucy Montoro. Um novo prédio deve ficar pronto em 2011.
Possível candidato do PSDB à eleição presidencial de 2010, Serra evitou ainda falar em política. Disse que estava em uma ação de governo e que não iria misturá-la com a candidatura a presidente da República. Indagado quando ele iria falar como candidato, Serra resumiu: "acho que você vai cansar de ouvir", concluiu o governador.
16 de março de 2010
15 de março de 2010
Corações e mentes
Rosane Pavam
Desprovida da comicidade exercida em filmes populares e em seu próprio talk show, Mo’Nique sobe ao palco do californiano Kodak Theater, no domingo 7, vestida de intenso azul. A atriz americana, coadjuvante em Preciosa, agradece à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood pela estatueta que lhe dá. Mas é um agradecimento inesperado. Mo’Nique cumprimenta o pessoal do Oscar por basear suas escolhas em performance, não em política.
Mais um personagem reluzente no auditório onde se dá a 82ª cerimônia de entrega do prêmio, a atriz merece as honras por haver tornado crível, na grande tela, a crueldade maternal. Sem contar que exulta por ter deixado o gueto onde estão confinados os cômicos negros sem glamour. Mas ela talvez tenha se precipitado ao identificar apenas critérios estéticos na concessão da mais alta honraria do cinema.
Do palco do Kodak, além de premiações à performance, saem recados à globalidade que prestigia a cerimônia (nos Estados Unidos, este ano foi o mais receptivo à entrega do Oscar desde 2005, com 41 milhões de espectadores contra os 42 milhões da cerimônia em que Menina de Ouro, de Clint Eastwood, saiu vencedor). Embora sejam também estéticos, afirmativos da necessidade de filmar à maneira conservadora, responsável por levar o público aos cinemas, esses não são os únicos critérios a considerar. As obras escolhidas devem obedecer a uma silenciosa ideologia de consenso.
Neste ano, os filmes e seus protagonistas esforçaram-se por demonstrar a fragilidade americana, cuja economia, para lembrar uma fala recente do apresentador David Letterman em seu programa noturno, se parece com um trenó que desce a montanha nas Olimpíadas de Inverno. Os filmes do ano exibiram personagens masculinos combalidos e mulheres fortes. Os homens foram aqueles que erraram, como se ecoassem a arrogância do ex-presidente George W. Bush no Oriente. As mulheres, ao contrário, mantidas algo longe da batalha, perseguiram, na intimidade dos subúrbios, a democracia e a tolerância racial.
A mensagem insinuada é que elas refarão o brilho americano nas mentes do mundo. Serão indomáveis como a Mo’Nique de Preciosa, determinadas como Sandra Bullock, vencedora por Um Sonho Possível, e ativas como Kathryn Bigelow, a primeira mulher a ganhar um Oscar pela direção, por Guerra ao Terror. Lutarão sem trégua por valores que jamais deveriam ter sido esquecidos e que tornaram hegemônicos uma nação e seu modo de pensar.
Esses valores dizem respeito às premissas da individualidade sobre o sistema, da família sobre a satisfação pessoal e da disposição incansável ao trabalho, que nos torna limpos contra a especulação e a corrupção, estas que ultrapassaram o limite do aceitável na América recente. Ninguém engole o erro estratégico de Bush, que submeteu os americanos a um interminável Vietnã no Iraque.
É hora de reconstruir as noções de liberdade, e uma peça de ficção, entre essas selecionadas, bastaria para exemplificá-las. É em verdade uma má ficção, Crazy Heart, o Coração Louco (algo evocativa de Corações Loucos, de Bertrand Blier) dirigido por Scott Cooper. Que filme, para ganhar o Oscar, necessita ser bom? Basta que seja modelar. Nesse Crazy Heart, um músico country decaído pela bebida busca a reabilitação ao encontrar uma mulher. Ela é a mãe sensível desiludida, e ele almeja seu carinho familiar.
Jeff Bridges recebeu seu Oscar pelo trabalho e agradeceu aos pais, que o fizeram atuar desde a infância. Aos 60 anos, ele há muito merecia a honraria, desde que seu adolescente fizera par com a bela Cybill Shepherd em A Última Sessão de Cinema, de Peter Bogdanovich (1971), e que seu otimista Tucker, no filme de Francis Ford Coppola Tucker – O Homem e Seu Sonho (1988), tudo arriscara pelo empreendimento automobilístico inovador. Ele é o americano exemplar.
Enquanto os personagens de Bridges têm um enorme coração, os de Sandra Bullock mostram as pernas. No início da carreira, ela era um equivalente feminino de Indiana Jones, em filmes como A Rede (1995), e assim prosseguiu, correndo, ao lado de gente inexpressiva como o Keanu Reeves da série Speed. Sandra tem ritmo para a comédia. Emocionada por sua premiação como a mãe adotiva de um negro esportista, tendo rido a valer antes disso, ao receber o Framboesa de Ouro como pior atriz por All About Steve, ela deu um show na cerimônia do Oscar.
Sandra começou por homenagear outras concorrentes ao prêmio, Gabourey Sidibe pela excelência, Meryl Streep por seu beijo (Sandra procurara os lábios da veterana no Globo de Ouro) e Carey Mulligan, de Educação, por ser tão linda que a deixava doente. A mãe de Sandra, como aconteceu a Bridges, insistiu que ela estudasse para ser artista, e lhe ensinou a ser tolerante. A atriz dedicou seu prêmio àquelas que amam seus filhos, não importa de onde eles venham. Lembrou as pessoas que foram boas para ela quando isso “não era moda”. O agradecimento excluiu George Clooney, que um dia a jogou na piscina.
É outro o fascínio exercido pela diretora que venceu por Guerra ao Terror, Kathryn Bigelow. Uma das fortes, ela joga o epíteto de mulherzinha no lixo. Reconstrói a óbvia inclinação americana à aventura com uma câmera muitas vezes subjetiva, que reproduz a respiração dos protagonistas, soldados responsáveis por desarmar bombas no Iraque. Guerra ao Terror cita os jogos de videogame e obras como Platoon, entre outras, nas quais os personagens típicos são corajosos, covardes ou iniciantes dentro da guerra. Quase não há música para edulcorar esse universo. Os iraquianos, não se sabe se bons ou maus, olham ameaçadores a distância.
Kathryn, que ganhou dois Oscar, como diretora e por seu filme, refaz o horror de maneira seca, editada sem desperdício (e o Oscar premiou a montagem de Bob Murawski e Chris Innis). A diretora não adula a figura dos oponentes, e sua sinceridade nesse ponto foi percebida por poucos e bons. Até o início desta semana, Guerra ao Terror, vencedor em seis categorias, havia rendido cerca de 22 milhões de dólares em bilheteria no mundo, contra os 2,5 bilhões de Avatar, o grande perdedor da noite ao levar apenas estatuetas técnicas (de fotografia, direção de arte e efeitos especiais). Que o Oscar honre um filme incapaz de gerar bilheteria prova suas intenções. O prêmio, antes de salvar a indústria cinematográfica, precisa garantir que o capitalismo seduza, ou toda a indústria advinda desse sistema deixará de existir.
O filme de James Cameron, contudo, se viu incapaz de assimilar tal lógica. Seus avatares foram seres excepcionais, de intenções supostamente ecológicas e atualizadas, mas, ao fim, usaram métodos que deveriam estar em desuso ou seriam indesejáveis à imagem do americano limpo, em harmonia com um tempo novo. O pacifismo não corre no sangue azul do diretor. No filme, um soldado americano é o único capaz de manter a vida dos selvagens, cujo poder xamânico ele desautoriza. Para preservar a Pandora que ele mesmo tornou vulnerável, dispensará a guerrilha em favor dos métodos bélicos dos poderosos. Não parece ser esta a mensagem que, no momento, o Oscar deseja reiterar.
A Academia fixou uma estética, como quis a vencedora Mo’Nique, mas também o pensamento que construiu a fama americana no cinema. O filme a fazer isso com mais competência foi, malgrado a estranheza, o argentino O Segredo dos Seus Olhos, vencedor do Oscar como melhor filme estrangeiro. Seu diretor, Juan José Campanella, já trabalha para Hollywood, tendo contribuído para episódios de séries como House e Law and Order. A sua é uma belíssima obra em formato tradicional. Nas narrativas paralelas que se espalham pelo tempo, os protagonistas, honestos e raros funcionários de um departamento de Justiça, com a idade modificada por maquiagem, tentam desvendar um crime comum e atroz.
O inesperado é que o assassinato em questão, o de uma bela jovem, dê-se em meio aos prenúncios da ditadura argentina, acobertado por juízes e policiais racistas e corruptos. Apesar disso, a saga do filme é íntima. Ela revela os efeitos de um sistema funesto sobre a individualidade de seus cidadãos. O diretor Campanella agradeceu o fato de a língua Na’vi, falada em Avatar, não ter afastado o filme de Cameron da categoria principal de melhor filme, o que derrubaria suas chances de levar o prêmio como estrangeiro. O argentino foi elegante. Avatar, que concorria em seis categorias, passou longe das intenções e dos olhos da Academia.
Fonte: Carta Capital
Estalinismo e Bolchevismo Sobre as Raízes Históricas e Teóricas da IV Internacional
Publicamos neste espaço o famoso artigo do revolucionário Bolchevique Léon Trotsky “Estalinismo e Bolchevismo”. Conhecedor da dialética Hegeliana como poucos, Trotsky irá descrever a ascensão da burocracia stalinista no seio do partido não como algo estranho, mas sim como uma variante opositora ao verdadeiro aspecto moral do bolchevismo.
Mas do que nunca, a atualidade deste vigoroso texto é um instrumento de formação política das jovens gerações de militantes que despertaram para a luta revolucionária e pretendem difundi-la. A vigencia de Trotsky é, sem sombra de dúvidas, um elemento importante para a compreensão dos diferentes contextos onde, dialeticamente, o Materialismo Histórico prova a sua exatidão científica.
Boa leitura a todas e todos.
Coordenação O Estopim!
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Leon Trotsky
29 de Agosto de 1937
As épocas reacionárias como a que estamos vivendo não somente desintegram e debilitam a classe operária e sua vanguarda, mas também rebaixam o nível ideológico geral do movimento e retroage o pensamento político a etapas já amplamente superadas. Nestas circunstâncias, a tarefa mais importante da vanguarda é não se deixar arrastar pelo fluxo regressivo, e sim nadar contra a corrente. Se a relação de forças desfavorável impede manter as posições conquistas, ao menos se deve aferrar a suas posições ideológicas, porque estas expressam as custosas experiências do passado. Os imbecis qualificarão esta política de "sectária". Na realidade, é a única maneira de preparar um novo e enorme avanço quando se produzir o próximo ascenso da maré histórica.
A Reação Contra o Bolchevismo e o Marxismo
As grandes derrotas políticas provocam inevitavelmente uma reconsideração dos valores, que geralmente procede de duas direções. Por um lado, a verdadeira vanguarda, enriquecida pela experiência da derrota, defende a herança do pensamento revolucionário com unhas e dentes e, sobre esta base, trata de educar aos novos quadros para as próximas lutas de massas. Distintamente, os rotineiros, os centristas e os diletantes fazem todo o possível para destruir a autoridade da tradição revolucionária e se voltam à busca do "novo verbo".
Poderíamos assinalar uma enorme quantidade de exemplos de reação ideológica, a maioria dos quais assume a forma da prostração. Toda a literatura das internacionais Segunda e Terceira e de seus satélites do Burô de Londres consiste essencialmente em tais exemplos. Nem sombra de análise marxista. Nenhuma tentativa séria de explicar as causas da derrota. Nem uma palavra nova acerca do futuro. Nada mais que lugares-comuns, conformismo, mentira e, acima de tudo, preocupação pela sobrevivência da burocracia. Basta cheirar dez linhas de Hilferding ou de Otto Bauer para sentir o odor de podridão [1]. Quanto aos teóricos da Comintern, nem sequer vale a pena mencioná-los. O célebre Dimitrov é tão ignorante e trivial como um vendeiro com uma caneca de cerveja. Os intelectos desta gente são demasiado preguiçosos para renunciar ao marxismo: o prostituem. Porém, estes não são os que nos interessam aqui. Vamos aos "inovadores".
O ex-comunista austríaco Willi Shclamm publicou um folheto sobre os processos de Moscou sob o título sugestivo de "A ditadura da mentira" [2]. Schlamm é um jornalista de talento que se ocupa principalmente dos acontecimentos políticos do momento. Sua crítica das fraudes judiciais de Moscou, assim como sua denúncia do mecanismo psicológico das "confissões voluntárias" é excelente. Entretanto, não se limita a isso: pretende criar uma nova teoria do socialismo que nos imunize contra novas derrotas e fraudes, no futuro. Porém, visto que Schlamm não é um teórico e, aparentemente, não conhece bem a história do socialismo, retorna completamente ao socialismo pré-marxista, principalmente à sua variante alemã, a mais atrasada, sentimental e simplista de todas. Schlamm renuncia à dialética e à luta de classes, para não falar da ditadura do proletariado. Para ele, a questão da transformação da sociedade se reduz à realização de certas verdades morais "eternas", com as quais quisera imbuir a humanidade, inclusive sob o capitalismo.
A tentativa de Willi Schlamm de salvar o socialismo mediante o transplante de uma glândula moral foi recebido com alvoroço e orgulho na revista Novaia Rossiia (velha revista provinciana russa que agora é publicada em Paris) de Kerenski: como era de esperar, a chefia da redação proclama que Schlamm chegou aos princípios do autêntico socialismo russo, o qual muito tempo atrás contrapôs os sagrados preceitos de fé, esperança e caridade à austeridade e rigor da luta de classes. A "nova" doutrina dos social-revolucionários russos é, em suas premissas "teóricas", um simples retorno ao socialismo alemão anterior a março... de 1848! [3] Entretanto, seria injusto exigir de Kerenski um conhecimento mais profundo que o de Schlamm da história das idéias. É muito mais importante assinalar que este Kerenski, que se solidariza com Schlamm, quando dirigiu o governo acusou os bolcheviques de agentes do estado-maior alemão e os perseguiu. Vale dizer que organizou as mesmas fraudes judiciais contra as quais Schlamm mobiliza seus gastos absolutos metafísicos.
Não é difícil desentranhar o mecanismo psicológico da reação ideológica representada por Schlamm e outros de sua espécie. É gente que participou durante um tempo num movimento político que jurava fidelidade à luta de classes e apelava, se não nos fatos ao menos nas palavras, ao materialismo histórico. Tanto na Áustria quanto na Alemanha o assunto culminou numa catástrofe. Schlamm tira uma conclusão global: eis aqui o resultado da dialética e da luta de classes! E, dado que a eleição de revelações está restrita pela experiência histórica e... pelo conhecimento pessoal, nosso reformador e perseguidor do Verbo se encontra com uma trouxa de roupa velha e a opõe valentemente ao bolchevismo e ao marxismo em seu conjunto.
À primeira vista, dir-se-ia que a reação ideológica tipo Schlamm é muitíssimo grosseira (de Marx a... Kerenski!) para deter-se nela. Na realidade, é muito instrutiva: pelo seu primitivismo, representa o denominador comum da reação em todas suas formas, principalmente daquelas expressadas na condenação total ao bolchevismo.
"De Volta ao Marxismo"?
O marxismo encontrou sua expressão histórica mais elevada no bolchevismo. Sob a bandeira bolchevique se realizou a primeira vitória do proletariado e se instaurou o primeiro estado operário. Contudo, visto que na etapa atual a Revolução de Outubro conduziu ao triunfo da burocracia, com seu sistema de repressão, pilhagem e fraude - a ditadura da mentira, na feliz expressão de Schlamm -, muitas mentes formais e simplistas chegam à mesma conclusão sumária: não se pode lutar contra o stalinismo sem renunciar ao bolchevismo. Como vimos, Schlamm vai, todavia, mais longe: o bolchevismo, que degenerou em stalinismo, surgiu do marxismo, por conseguinte, não se pode combater o stalinismo com as bases assentadas pelo marxismo. Outros indivíduos, menos conseqüentes porém mais numerosos, dizem o contrário: "devemos retornar do bolchevismo ao marxismo". Como? A qual marxismo? Antes de cair na "bancarrota", sob a forma de bolchevismo, o marxismo já havia degenerado em social-democracia. Significa, então, que "o retorno ao marxismo" é um salto por cima das Segunda e Terceira internacionais... à Primeira Internacional? Porém, esta também se desmoronou em seu tempo. Portanto, em última instância, trata-se de voltar... às obras completas de Marx e Engels. Qualquer um pode realizar este salto mortal sem abandonar seu escritório, sem sequer tirar os chinelos. Porém, como faremos para passar dos nossos clássicos (Marx morreu em 1883, Engels em 1895) às tarefas do nosso tempo, saltando várias décadas de lutas teóricas e políticas, incluído o bolchevismo e a Revolução de Outubro? Nenhum dos que propõe renunciar ao bolchevismo como tendência histórica "em bancarrota" mostrou outro caminho. Conseqüentemente, o problema se reduz a estudar O Capital. De nossa parte nenhuma objeção. Todavia, também os bolcheviques estudaram O Capital, e não com os olhos fechados. O que não impediu a degeneração do estado soviético e a realização dos processos de Moscou. Então, o que fazer?
O Bolchevismo é o Responsável pelo Estalinismo?
É certo que o stalinismo é um produto legítimo do bolchevismo, como sustentam todos os reacionários, como jura o próprio Stalin, como crêem os mencheviques, anarquistas e certos doutrinários de esquerda que se consideram marxistas? "Sempre previmos - afirmam - ... ao proibir os demais partidos socialistas, reprimir os anarquistas e impor a ditadura bolchevique nos soviets, a Revolução de Outubro somente podia culminar na ditadura da burocracia. Stalin é a continuação e, por sua vez, a bancarrota do leninismo".
A falha neste raciocínio está na tácita identificação do bolchevismo, a Revolução de Outubro e a União Soviética. Substitui-se o processo histórico do choque de forças hostis pela evolução do bolchevismo no vazio. Entretanto, o bolchevismo é apenas uma tendência política, estreitamente fundida com a classe operária, mas não idêntica à mesma. E na União Soviética, ademais da classe operária, existem cem milhões de camponeses, várias nacionalidades e uma herança de opressão, miséria e ignorância. O estado construído pelos bolcheviques reflete não somente o pensamento e a vontade do bolchevismo, mas também o nível cultural do país, a composição social da população, a pressão de um passado bárbaro e um imperialismo mundial não menos bárbaro. Apresentar o processo de degeneração do estado soviético como a evolução do bolchevismo puro é ignorar a realidade social em nome de apenas um elemento, isolado, mediante um ato de lógica pura. Basta chamar este erro elementar por seu verdadeiro nome para destrui-lo sem deixar vestígios.
Seja como for, o bolchevismo jamais se identificou com a Revolução de Outubro, nem com o estado surgido desta. O bolchevismo sempre se considerou um fator da histórica, o fator "consciente", importante mas de nenhuma maneira o decisivo. Jamais caímos no pecado do subjetivismo histórico. Para nós, o fator decisivo - sobre a base das forças produtivas existentes - era a luta de classes, não a escala nacional mas internacional.
Ao fazer concessões à propriedade privada camponesa, estabelecer regras estritas para o ingresso e participação no partido, limpar o partido dos elementos estranhos, proibir outros partidos, introduzir a NEP, entregar a concessão de empresas a setores privados, firmar acordos diplomáticos com os governos imperialistas, os bolcheviques tiravam conclusões parciais de um fato que, no terreno teórico, lhes resultava claro desde o começo: que a conquista do poder, por importante que seja, de nenhuma maneira transforma o partido em soberano do processo histórico. O partido que se apodera do estado pode, por certo, exercer sua influência sobre o desenvolvimento da sociedade com um poder que antes lhe era inacessível, porém, em troca, se decuplica a influência que os demais elementos da sociedade exercem sobre ele. Um ataque direto das forças hostis pode retirá-lo do poder. Se o ritmo do processo é mais lento pode degenerar internamente sem perder o poder. Esta é precisamente a dialética do processo histórico que escapa aos lógicos sectários para os quais a decadência do stalinismo constitui um argumento aniquilador contra o bolchevismo.
Em essência, o que dizem esses cavalheiros é: o partido que não contém em si mesmo a garantia contra sua própria degeneração é ruim. Com esse critério, o bolchevismo está condenado, pois não tem talismãs. Porém, o critério é errôneo. O pensamento científico exige uma análise concreta: como e por que o partido degenerou? Até o momento, apenas os bolcheviques têm feito esta análise. E não lhes foi necessário romper com o bolchevismo: seu arsenal lhes supriu de todas as ferramentas necessárias para aclarar sua mente. Chegaram à seguinte conclusão: é certo que o stalinismo "adveio" do bolchevismo, mas não de maneira mecânica e sim dialética, não como afirmação revolucionária, mas como negação termidoriana. Não é o mesmo.
O Prognóstico Fundamental do Bolchevismo
Entretanto, os bolcheviques não tiveram que esperar os processos de Moscou para explicar as razões da desintegração do partido governante da URSS. Há muito tempo já previam e descreviam a possibilidade teórica desse processo. Recordemos esse prognóstico que os bolcheviques formularam não só nas vésperas como também muitos anos antes da Revolução de Outubro. É possível que, em virtude de um determinado alinhamento de forças nacionais e internacionais, o proletariado conquiste o poder em um país atrasado como a Rússia. Porém, o mesmo alinhamento de forças demonstra de antemão que, sem uma vitória mais ou menos rápida do proletariado nos países adiantados, o governo russo não sobreviverá. O regime soviético abandonado a sua própria sorte degenerará ou cairá. Mais precisamente, degenerará e depois cairá. Eu mesmo escrevi a respeito, a partir de 1905. Em minha História da revolução russa (veja-se o apêndice do último tomo: "O socialismo num só país") estão as declarações formuladas pelos dirigentes bolcheviques entre 1917 e 1923. Todas levam à mesma conclusão: sem revolução no ocidente o bolchevismo será liquidado pela contra-revolução interna, a intervenção estrangeira ou uma combinação de ambas. Lênin sublinhou mais de uma vez que a burocratização do estado soviético não era um problema teórico ou organizativo mas o começo potencial da degeneração do estado operário.
No décimo primeiro congresso do partido (março de 1922) Lênin falou do apoio que certos políticos burgueses, como o professor liberal Ustrialov, ofereciam à Rússia soviética sob a NEP. "Estou a favor de apoiar o governo soviético, disse Ustrialov, apesar de ter sido um democrata constitucional, burguês e partidário da intervenção.[4] Estou a favor de apoiar o governo soviético porque tem tomado um rumo que o conduzirá ao estado burguês comum". Lênin preferia a cínica voz do inimigo às "sentimentais mentiras comunistas". Sóbria e asperamente, advertia o partido do perigo: "Devemos dizer francamente que as coisas que disse Ustrialov são possíveis. A histórica conhece todo tipo de metamorfoses. Confiar na firmeza das convicções, na lealdade e em outras magníficas qualidades morais é tudo, menos uma atitude séria em política. Alguns poucos possuirão qualidades morais magníficas, porém os problemas históricos são resolvidos pelas grandes massas, as quais tratam aos poucos sem considerar se estes não lhes gostam" (Lênin, Obras completas, vol. 33, pp. 286-287). Enfim, o partido não é o único fator do processo e, à escala histórica mais ampla, nem sequer é o fator decisivo.
"Uma nação conquista a outra, prossegue Lênin no mesmo congresso - o último a que assistiu. Isso é simples, qualquer um pode entender. Porém, o que sucede com a cultura de ambas as nações? Isso não é tão simples. Se a nação conquistadora é mais culta que a vencida, aquela impõe sua cultura a esta; se sucede o contrário, os conquistados impõem sua cultura ao conquistador. Não ocorreu algo parecido na capital (da República Russa)? Não sucedeu que 4.700 comunistas (quase uma divisão do exército, e o melhor deste) se encontram sob a influência de uma cultura alheia?" (Idem, p. 288)
Isso foi dito em princípios de 1922, e não pela primeira vez. A história não é feita por poucos, nem sequer pelos "melhores". Mais ainda: os "melhores" podem degenerar no espírito de uma cultura alheia, isto é, burguesa. Assim como o estado soviético pôde abandonar o socialismo, o Partido Bolchevique pôde, em condições históricas desfavoráveis, perder seu bolchevismo.
A Oposição de Esquerda surgiu definitivamente em 1923, a partir de uma compreensão clara deste perigo. Ao registrar os sintomas de degeneração, dia a dia, tratou de opor a vontade consciente da vanguarda proletária ao termidor crescente. Entretanto, o fator subjetivo se mostrou insuficiente. As "grandes massas" que, segundo Lênin, definem o resultado da luta, se cansaram das privações internas e de aguardar a revolução mundial. Seu estado de ânimo decaiu. A burocracia se impôs. Atemorizou a vanguarda proletária, pisoteou o marxismo, prostituiu o Partido Bolchevique. O stalinismo triunfou. O bolchevismo, sob a forma da Oposição de Esquerda, rompeu com a burocracia soviética e sua Comintern. Assim foi o verdadeiro processo.
É certo que, no sentido formal, o stalinismo surgiu do bolchevismo. Até o dia de hoje a burocracia de Moscou continua se intitulando Partido Bolchevique. Utiliza o velho rótulo do bolchevismo para melhor enganar as massas. Ainda mais dignos de lástima são os teóricos que confundem a casca com o miolo, a aparência com a realidade. Ao identificar o stalinismo com o bolchevismo rendem os melhores préstimos aos termidorianos e, justamente por isso, desempenham um papel evidentemente reacionário.
Eliminados todos os demais partidos da cena política, os interesses e tendências políticas antagônicas dos diversos extratos da população devem se expressar, em maior ou menor medida, no partido governante. Na medida em que o centro de gravidade político se transferiu da vanguarda para a burocracia, foi alterada tanto a estrutura social quanto a ideologia do partido. Em quinze anos, o desenvolvimento precipitado do processo lhe provocou uma degeneração muito mais radical que a sofrida pela social-democracia em meio século. Depois das expulsões, a linha demarcatória entre o stalinismo e o bolchevismo não é uma linha sangrenta e sim um rio de sangue. A aniquilação de toda a velha geração bolchevique, de um setor importante da geração intermediária - a que participou na guerra civil -, e do setor da juventude que assumiu seriamente as tradições bolcheviques, demonstra que entre o bolchevismo e o stalinismo existe uma incompatibilidade que não é apenas política mas também diretamente física. Como ignorar isso?
Estalinismo e "Socialismo de Estado"
Por sua parte, os anarquistas querem ver no stalinismo um produto orgânico não somente do bolchevismo e do marxismo mas também do "socialismo de estado" em geral. Estão dispostos a trocar o conceito patriarcal, de Bakunin, de "federação de comunas livres" pelo conceito mais moderno de federação de soviets livres. [5] Contudo, hoje como ontem, se opõem ao poder estatal centralizado. Nos fatos, um setor do marxismo "estatal" - a social-democracia -, chegou ao poder e se converteu num franco agente do capitalismo. Do outro lado surgiu uma casta privilegiada. É evidente que a raiz do mal seja o estado.
Desde um ponto de vista histórico amplo, este raciocínio contém uma réstia de verdade. O estado, enquanto aparato de coerção é, sem dúvida, uma fonte de degeneração política e moral. A experiência demonstra que isto também sucede no caso do estado operário. Pode-se dizer, portanto, que o stalinismo é produto de uma situação na qual a sociedade foi incapaz de livrar-se da camisa-de-força do estado. Todavia, esta situação não serve para avaliar o marxismo e o bolchevismo: caracteriza tão somente o nível cultural geral da humanidade e, sobretudo, a relação de forças entre o proletariado e a burguesia. Mesmo coincidindo com os anarquistas em que o estado, incluindo o estado operário, é filho da barbárie de classe e que a verdadeira história da humanidade começará com a abolição do estado, ainda resta, com todo vigor, o seguinte questionamento: quais serão as "vias e métodos" que conduzirão, por último, à abolição do estado? A experiência recente nos demonstra que esses métodos não serão os dos anarquistas, com certeza.
No momento crítico, os dirigentes da CNT - a única organização anarquista importante do mundo - entraram para a equipe ministerial burguesa.[6] Para justificar sua traição aos princípios do anarquismo invocaram a pressão das "circunstâncias especiais". Porém, acaso os dirigentes social-democratas alemães não invocaram o mesmo pretexto, em seu momento? Logicamente, a guerra civil não é uma situação pacífica, nem comum, mas sim uma "circunstância excepcional". Entretanto, as organizações revolucionárias sérias se preparam para atuar, justamente, em "circunstâncias excepcionais". A experiência da Espanha demonstrou mais uma vez que se pode "negar" o estado em panfletos publicados em "circunstâncias normais", com a permissão do estado burguês, mas que as circunstâncias da revolução não permitem "negar" o estado; ao contrário, exigem a conquista do estado. Não temos a menor intenção de condenar os anarquistas por não ter abolido o estado "com um golpe de mão". A conquista do poder (que os dirigentes anarquistas se mostraram incapazes de realizar, apesar do heroísmo demonstrado pelos operários anarquistas) de maneira alguma converte o partido revolucionário em senhor soberano da sociedade. Porém, condenamos sim, severamente, a teoria anarquista que, mesmo aparentemente apta para épocas de paz, teve que ser abandonada rapidamente quando apareceram as "condições excepcionais" da... revolução. Existiam, nos velhos tempos, certos generais - provavelmente, todavia, existem - que diziam que não há coisa mais nociva para um exército que a guerra. A essa mesma categoria pertencem os revolucionários cuja doutrina é destruída pela revolução.
Os marxistas coincidem plenamente com os anarquistas quanto ao objetivo final: a abolição do estado. Os marxistas são "estatistas" tão somente na medida em que se torna impossível abolir o estado ignorando-o. A experiência do stalinismo não refuta as lições do marxismo: as confirma, pela inversão. Evidentemente, a doutrina revolucionária que ensina ao proletariado a encontrar a orientação justa e a aproveitar ativamente cada situação não contém uma garantia automática de vitória. Todavia, somente se pode alcançar a vitória mediante a aplicação dessa doutrina. De outra parte, não se deve visualizar a vitória como um fato único. Esta deve ser projetada sobre a perspectiva da época histórica. O primeiro estado operário - montado sobre bases econômicas inferiores às do imperialismo e cercado por este - se transformou na polícia do stalinismo. Porém, o bolchevismo autêntico lançou uma luta de vida ou morte contra essa polícia. Agora, o stalinismo, para se manter no poder, vê-se obrigado a lançar uma guerra civil aberta contra o bolchevismo, sob o rótulo de "trotskismo", não apenas na URSS mas também na Espanha. O velho Partido Bolchevique está morto, mas o bolchevismo levanta a cabeça em todas as partes.
Deduzir o stalinismo do bolchevismo ou do marxismo equivale, num sentido mais amplo, a deduzir a contra-revolução da revolução. Esta verdade conhecida tem sido uma característica do pensamento liberal-conservador e também do reformista. Devido à estrutura de classes da sociedade, as revoluções sempre engendram contra-revoluções. Isso não significa - diz o lógico - que o método revolucionário tem uma falha intrínseca? Apesar disso, até o momento nem os liberais nem os reformistas descobriram um método mais econômico. Mas, se não é fácil racionalizar o processo histórico vivido, não é em absoluto difícil encontrar uma interpretação racional de suas sucessivas ondas e deduzir, por pura lógica, o stalinismo do "socialismo de estado", o fascismo do marxismo, a reação da revolução, enfim, a antítese da tese. Neste terreno, como em muitos outros, o pensamento anarquista cai no racionalismo liberal. Não pode haver pensamento revolucionário autêntico sem dialética.
Os "Pecados" Políticos do Bolchevismo: Origem do Estalinismo
Em certas ocasiões, os argumentos dos racionalistas assumem, ao menos em sua forma externa, um caráter mais concreto. Não deduzem o stalinismo do bolchevismo em sua totalidade, mas de seus pecados políticos.[7] Os bolcheviques - segundo Gorter, Pannekoek, certos "espartaquistas" e outros sujeitos [8] - substituíram a ditadura do proletariado pela ditadura do partido; Stalin trocou a ditadura do partido pela ditadura de sua burocracia. Os bolcheviques destruíram todos os partidos, menos o próprio; Stalin estrangulou o Partido Bolchevique com o altar de sua camarilha bonapartista. Os bolcheviques firmaram acordos com a burguesia; Stalin se converteu em aliado e apoio da burguesia. Os bolcheviques sustentavam a necessidade de participar nos velhos sindicatos e no parlamento burguês; Stalin buscou e conseguiu a amizade da burocracia sindical e da democracia burguesa. Pode-se fazer comparações semelhantes, à vontade. Com toda sua aparente contundência, seu valor é nulo.
O proletariado apenas pode conquistar o poder por intermédio de sua vanguarda. A necessidade do poder estatal é, por si, um produto do insuficiente nível cultural e da heterogeneidade das massas. A vanguarda revolucionária, organizada em partido, cristaliza as aspirações de liberdade das massas. Se a classe não confia na vanguarda, se a classe não apóia a vanguarda, nem sequer se pode falar de conquista do poder. Neste sentido, a revolução e a ditadura proletária é obra da classe em seu conjunto, porém sob a direção da vanguarda. Os soviets são somente a forma organizada do vínculo entre a vanguarda e a classe. Apenas o partido pode dar a esta forma o conteúdo revolucionário, tal como demonstram a experiência da Revolução de Outubro e a experiência negativa de outros países (Alemanha, Áustria, agora Espanha). Ninguém tem demonstrado na prática, nem tratado de explicar, em forma articulada sobre o papel, como o proletariado pode conquistar o poder sem a direção política de um partido que sabe o que quer. A subordinação política dos soviets aos dirigentes do partido, através do partido, não aboliu o sistema soviético, da mesma maneira que a maioria conservadora não tem abolido o sistema parlamentar britânico.
Quanto à proibição dos demais partidos soviéticos, esta não é produto de uma "teoria" bolchevique, e sim uma medida de defesa da ditadura de um país atrasado e devastado, rodeado de inimigos. Os bolcheviques compreenderam claramente, desde o princípio, que esta medida, complementada posteriormente com a proibição de frações no próprio partido governante, indicava um perigo enorme. Entretanto, o perigo não estava na doutrina nem na tática, mas sim na debilidade material da ditadura e nas dificuldades internas e internacionais. Se a revolução houvesse triunfado tão-somente na Alemanha, houvera desaparecido por completo a necessidade de proibir os partidos soviéticos. É absolutamente indiscutível que a dominação do partido único serviu como ponto de partida jurídico para o sistema totalitário stalinista. Porém, a causa deste processo não está no bolchevismo nem na proibição dos demais partidos, como medida transitória de guerra, mas sim nas derrotas do proletariado na Europa e na Ásia.
O mesmo pode ser dito da luta contra o anarquismo. Durante o período heróico da revolução os bolcheviques lutaram ombro a ombro com os anarquistas autenticamente revolucionários. Muitos passaram para as fileiras do partido. Mais de uma vez, Lênin e o autor destas linhas discutiram a possibilidade de conceder aos anarquistas determinados territórios onde, com o consentimento da população local, pudessem realizar a experiência de abolir o estado. Porém, a guerra civil, o bloqueio e a fome não permitiram dar vazão a tais planos. A insurreição de Kronstadt? Todavia, naturalmente, o governo revolucionário não podia "presentear" a fortaleza que defendia a capital aos marinheiros insurretos, simplesmente porque alguns anarquistas vacilantes se uniram à rebelião reacionária dos soldados e dos camponeses. A análise histórica concreta dos acontecimentos reduz a pó todas as lendas sobre Kronstadt, Majno e outros episódios da revolução, baseadas na ignorância e no sentimentalismo.
Resta apenas o fato de que, desde o começo, os bolcheviques aplicaram não somente a convicção mas também a compulsão, freqüentemente da maneira mais brutal. Também é indubitável que a burocracia que surgiu da revolução posteriormente monopolizou o sistema coercitivo para seus próprios fins. Cada etapa de um processo, inclusive quando se trata essencialmente da casta de usurpadores, são hostis a qualquer teoria: não pode prestar contas de seu papel de mudanças tão catastróficas como a revolução e a contra-revolução, parte do estado anterior, está enraizada nele e conserva algumas de suas características. Os liberais, inclusive os Webb, têm dito sempre a ditadura bolchevique é uma nova versão do czarismo. [9] Fecham os olhos para "detalhes" tais como a abolição da monarquia e da nobreza, a entrega da terra aos camponeses, a expropriação do capital, a introdução da economia planificada, a educação atéia etc. Assim mesmo, o pensamento liberal-anarquista esquece que a revolução bolchevique, com toda sua coerção, significou um revolver de todas as relações sociais a favor das massas, enquanto que a reviravolta stalinista termidoriana acompanha a transformação da sociedade soviética em favor dos interesses de uma minoria privilegiada. Evidentemente, o pensamento que identifica o stalinismo com o bolchevismo não contém um grão de critério socialista.
Problemas de Teoria
Uma das marcas mais visíveis do bolchevismo tem sido sua atitude severa, exigente, inclusive irascível com respeito às questões teóricas. Os 27 volumes das obras de Lênin permanecerão para sempre como um exemplo da mais elevada seriedade teórica. [10] Sem esta qualidade fundamental, o bolchevismo jamais houvera realizado sua missão histórica. Nesta esfera, o stalinismo, grosseiro, ignorante e totalmente empírico, se encontra no pólo oposto.
Há mais de dez anos a Oposição declarou em seu programa: "Desde a morte de Lênin se criou toda uma série de teorias novas, cuja única finalidade é justificar o distanciamento dos stalinistas do caminho da revolução proletária internacional." [11] Há poucos dias, o autor norte-americano Liston M. Oak, que participou na revolução espanhola, escreveu o seguinte: "Hoje em dia os stalinistas são os maiores revisionistas de Marx e Lênin: Bernstein não se atreveu a recorrer nem à metade do caminho que Stalin recorreu na revisão de Marx." [12] É totalmente certo. Somente falta acrescentar que Bernstein devia satisfazer certas necessidades teóricas: tratou conscientemente de estabelecer a relação entre a prática reformista e o programa da social-democracia. A burocracia stalinista, ao contrário, é alheia não só ao marxismo mas também a qualquer doutrina ou sistema. Sua "ideologia" está imbuída de subjetivismo policialesco; sua prática é o empirismo da violência desnudada. Pela natureza mesma de seus interesses essenciais, esta casta dos usurpadores é hostil a toda teoria: ela não pode prestar contas de seu papel social nem a si mesma nem a ninguém. Stalin revisa a Marx e a Lênin não com a pena do teórico mas sim com a bota da GPU.
O Problema Moral
Os que mais se queixam da "imoralidade" dos bolcheviques são essas nulidades presunçosas a quem o bolchevismo arrancou as máscaras baratas. Os círculos pequeno-burgueses, intelectuais, democráticos, "socialistas", literários, parlamentares e outros do mesmo calão conservam os valores convencionais, ou empregam uma linguagem convencional para ocultar sua falta de valores. Essa vasta e colorida cooperativa de proteção mútua - "viver e deixar viver" - não pode suportar o roçar do bisturi marxista em sua pele sensível. Esses teóricos, escritores e moralistas que oscilam entre os distintos campos, pensavam e seguem pensando que os bolcheviques exageram propositalmente as diferenças, que são incapazes de colaborar de forma "leal" e que, com suas "intrigas", rompem a unidade do movimento operário. Por sua parte, o centrista sensível e melindroso sempre acreditou que os bolcheviques o "caluniavam"... simplesmente porque desenvolviam os vagos pensamentos do centrista até o fim: ele jamais pôde fazê-lo. Mas, é fato que somente a valorosa qualidade de manter uma atitude intransigente contra tudo o que seja sofisma e evasão permitiu ao partido revolucionário se educar e não ser surpreendido por "circunstâncias excepcionais".
Em última instância, as qualidades morais de qualquer partido derivam dos interesses históricos que este representa. As qualidades morais bolcheviques de abnegação, desinteresse, audácia e desprezo por todo ornamento e falsidade - as maiores qualidades do ser humano! - derivam de sua intransigência revolucionária a serviço dos oprimidos. Neste terreno, a burocracia stalinista imita os termos e gestos do bolchevismo. Porém, a "intransigência" e a "inflexibilidade", aplicadas por um aparato policial a serviço de uma minoria privilegiada, se convertem em fonte de desmoralização e gangsterismo. Só nos resta sentir desprezo por esses cavalheiros que identificam o heroísmo revolucionário dos bolcheviques com o cinismo burocrático dos termidorianos.
Hoje em dia, apesar dos acontecimentos dramáticos do passado recente, o filisteu comum quer crer que o choque entre o bolchevismo ("trotskismo") e o stalinismo é um mero choque de ambições pessoais ou, no melhor dos casos, entre dois "matizes" do bolchevismo. Temos a expressão mais grosseira desta opinião em Norman Thomas, dirigente do Partido Socialista norte-americano: "Existem poucas razões para acreditar - escreve (American Socialist Review, setembro de 1937, p. 6) - que se o ganhador (!) houvesse sido Trotsky, no lugar de Stalin, teria terminado as intrigas, conjuras e o reino do terror na Rússia." O homem que escreve isso se considera ...marxista. Aplicando o mesmo critério, poderíamos dizer: "Existem poucas razões para acreditar que se o titular da Santa Sé não fosse Pio XI e sim Norman I, a igreja católica se transformaria num bastião do socialismo."
Thomas se nega a compreender que não se trata de uma briga entre Stalin e Trotsky, mas sim do antagonismo entre a burocracia e o proletariado. É certo que a burocracia governante se vê obrigada, inclusive hoje, a se adaptar à herança da revolução, ainda não totalmente liquidada, ao mesmo tempo em que prepara uma mudança no regime social através da guerra civil ("limpeza" sangrenta: aniquilação em massa dos descontentes). Porém, na Espanha a camarilha stalinista já atua abertamente como baluarte da ordem burguesa contra o socialismo. Diante de nossos olhos, a luta contra a burocracia bonapartista se transforma em luta de classes: dois mundos, dois programas, duas morais. Se Thomas pensa que a vitória do proletariado socialista sobre a infame casta de opressores não regeneraria política e moralmente o regime soviético, então demonstra que, apesar de suas reservas, evasões e suspiros piedosos, se encontra muito mais próximo da burocracia stalinista que dos operários.
Thomas, igual a todos os que se enfurecem com a "imoralidade" bolchevique, não está à altura da moral revolucionária.
As Tradições Bolcheviques e a IV Internacional
Os "esquerdistas" que trataram de "retornar" ao marxismo passando ao largo do bolchevismo, geralmente caíram em panacéias isoladas: boicote aos velhos sindicatos, boicote ao parlamento, criação de soviets "autênticos". Tudo isso podia parecer muito profundo ao calor dos primeiros dias do pós-guerra. Agora, depois das experiências recentes, semelhantes "enfermidades infantis" nem sequer se mostram interessantes objetos de estudo. Os holandeses Gorter e Pannekoek, os "espartaquistas" alemães, os bordiguistas italianos, quiseram demonstrar sua independência do bolchevismo: exaltaram artificialmente uma de suas características e a opuseram às demais. [13] Porém, nada resta destas tendências de "esquerda", nem a teoria nem a prática; prova indireta mas contundente de que o bolchevismo é o único marxismo possível para nossa época.
O Partido Bolchevique mostrou na ação a combinação da maior audácia revolucionária com o realismo político. Mostrou, pela primeira vez, qual é a única relação entre vanguarda e classe capaz de garantir a vitória. Demonstrou na experiência que a aliança entre o proletariado e as massas oprimidas da pequena burguesia rural e urbana requer a prévia derrota política dos partidos pequeno-burgueses tradicionais. O Partido Bolchevique mostrou ao mundo inteiro como se deve realizar a insurreição armada e a conquista do poder. Quem contrapõe a abstração dos soviets à ditadura do partido deve compreender que somente graças à direção bolchevique os soviets puderam elevar-se do lodo reformista e ascender à forma estatal proletária. Na guerra civil o Partido Bolchevique conseguiu a justa combinação da arte militar e política marxista. Se a burocracia stalinista conseguir destruir os alicerces econômicos da nova sociedade, a experiência da economia planificada sob a direção bolchevique passará igualmente à história como uma das maiores lições da humanidade. Somente os sectários desgostosos e ofendidos, que deram as costas ao processo histórico, podem ignorar isso.
Mas isso não é tudo. O Partido Bolchevique pôde realizar sua magnífica obra "prática" porque iluminou todos seus passos com a teoria. O bolchevismo não criou a teoria: essa foi propiciada pelo marxismo. Porém, o marxismo é a teoria do movimento, não do estancamento. Somente os acontecimentos de grande envergadura histórica poderiam enriquecer a própria teoria. O bolchevismo fez aportes de grande valor ao marxismo: a análise da época imperialista como época de guerras e revoluções; a democracia burguesa na era da decadência capitalista; a relação recíproca entre greve geral e insurreição; o papel do partido, os soviets e os sindicatos na época de decadência capitalista; por último, a análise da degeneração do próprio Partido Bolchevique e do estado soviético. Que se nomeie alguma tendência que haja agregado algum aporte essencial às conclusões e generalizações do bolchevismo. Nos terrenos teórico e político, Vandervelde, De Brouckere, Hilferding, Otto Bauer, León Blum, Zyromsky, sem falar do grande Attlee e Norman Thomas, vivem dos restos apodrecidos do passado. [14] A expressão mais grosseira da degeneração da Comintern é seu declínio ao nível teórico da Segunda Internacional. Os grupos intermediários em todas suas variantes (Partido Trabalhista Independente da Grã Bretanha, POUM e outros) adaptam fragmentos tomados aleatoriamente de Marx e Lênin a suas necessidades de cada semana. Nada podem ensinar aos operários.
Somente os fundadores da IV Internacional, que têm assumido a tradição de Marx e Lênin, mantêm uma atitude séria com a teoria. Os filisteus podem zombar dos revolucionários que, vinte anos depois da Revolução de Outubro, voltam a se converter em modestos grupos de propaganda e preparação. Neste terreno, como em tantos outros, os grandes capitalistas demonstram ser muito mais perspicazes que os pequenos burgueses que se consideram "socialistas" ou "comunistas". Não é casual que o tema da IV Internacional não desapareça das colunas da imprensa mundial. A candente necessidade histórica de construir uma direção revolucionária assegura à IV Internacional um ritmo de crescimento excepcionalmente rápido. A maior garantia de seu futuro êxito radica em que não tenha surgido separada do grande caminho histórico, mas como produto orgânico do bolchevismo.
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[1] Rudolph Hilferding (1877-1941): dirigente social-democrata alemão antes da I Guerra Mundial, foi pacifista durante a mesma. Foi ministro da Fazenda nos governos burgueses de 1923 e 1928. Morreu num campo de concentração nazista durante a II Guerra Mundial. (retornar ao texto)
[2] Willi Schlamm (nascido em 1904): um dos fundadores da Oposição de Direita austríaca. Com a chegada de Hitler ao poder, publicou vários artigos importantes de Trotsky na Die Neue Weltbuehne, revista que dirigia. Posteriormente, se radicou nos Estados Unidos e foi editor da rede de publicações Henry Luce. (retornar ao texto)
[3] Socialismo anterior a março de 1848: refere-se ao socialismo utópico, refutado e repudiado por Marx e Engels quando iniciaram a construção do movimento revolucionário.
[4] N. V. Ustrialov: membro do Partido Democrata Constitucional (Cadete), era um liberal, partidário de uma monarquia constitucional ou de uma república na Rússia. O Cadete era um partido de latifundiários, burgueses meios e intelectuais burgueses progressivos. Ustrialov se opôs à revolução bolchevique, mas logo trabalhou para o governo soviético, acreditando que este seria obrigado a restaurar o capitalismo. Preso em 1937, foi acusado de realizar atividades anti-soviéticas e desapareceu.
[5] Mijail Bakunin (1814-1876): contemporâneo de Marx e membro da I Internacional, foi o fundador do anarquismo. Sua teoria propugnava a abolição do estado e a criação de uma federação de comunidades livres.
[6] CNT (Confederação Nacional do Trabalho): federação anarco-sindicalista espanhola.
[7] Um dos representantes destacados desta corrente de pensamento é o francês B. Souvarine, autor de uma biografia de Stalin. O lado fático e documental de sua obra é produto de uma investigação prolongada e séria. Porém, a filosofia histórica deste autor brilha por sua vulgaridade. Busca a explicação dos contratempos históricos posteriores nas falhas intrínsecas do bolchevismo. Para ele não existem as pressões do verdadeiro processo histórico sobre o bolchevismo. Tai'ne, com sua teoria do "entorno", se encontra mais próximo de Marx que Souvarine (Nota de LT). (Hippolyte Tai'ne (1929-1893) - filósofo francês cujas teorias deterministas, segundo as quais o homem é produto da herança, do condicionamento histórico e do meio social, se converteram na base da escola naturalista.
[8] Hermann Gorter (1828-1927) e Anton Pannekoek (1873-1960): escritores da esquerda social-democrata holandesa. Durante a I Guerra Mundial foram pacifistas e internacionalistas e se vincularam à esquerda de Zimmerwald. Ingressaram no PC holandês em 1918, mas se opuseram à participação dos comunistas nos sindicatos e no parlamento. Criticados por seu ultra-esquerdismo, se separaram do PC em 1921. Os primeiros espartaquistas tomaram o nome do Partido Comunista alemão em 1919. Posteriormente, distintas seitas oportunistas e ultra-esquerdistas da Alemanha e outros países utilizaram esse nome. Trotsky se refere, aqui, a estas últimas.
[9] Sydney (1859-1947) e Beatrice (1858-1943) Webb: socialistas fabianos ingleses e admiradores da burocracia stalinista.
[10] Para 1977, as Obras completas (edição em inglês) de Lênin (Moscou, Editorial Progresso), totalizavam 45 volumes.
[11] Veja-se a "Plataforma da Oposição" em The Challenge of the Left Opposition (1926-27), New York, Pathfinder Press, 1979.
[12] Liston Oak (1895-1970): jornalista, rompeu com os stalinistas durante a guerra civil espanhola em 1937. Escreveu durante um tempo para a imprensa trotskista mas logo se filiou à social-democracia. Eduard Bernstein (1850-1932): principal teórico do revisionismo na social-democracia alemã. Sustentava que o marxismo já não era válido e devia ser "revisado": o socialismo não seria produto da luta de classes e da revolução, mas da reforma gradual do capitalismo, empregando métodos parlamentares; por conseguinte, o movimento operário devia abandonar a política classista e adotar a da colaboração de classes.
[13] Bordiguistas italianos: grupo ultra-esquerdista dirigido por Amadeo Bordiga (1889-1970), expulso do PC italiano acusado de ser "trotskista", em 1929. Os trotskistas trataram de trabalhar com os bordiguistas, porém não puderam devido ao sectarismo destes últimos: por exemplo, se opunham à frente única por razões principistas.
[14] Emile Vandervelde (1866-1938): dirigente do Partido Trabalhista belga e presidente da Segunda Internacional, 1929-36. Foi ministro durante a Primeira Guerra Mundial e firmou o tratado de Versalles, em nome da Bélgica. Louis de Brouckere: dirigente do trabalhismo belga e belicista durante a Primeira Guerra Mundial. Presidiu a Segunda Internacional em 1937-39. Clement Attlee (1883-1967): dirigente do Partido Trabalhista inglês a partir de 1935, ocupou postos no gabinete de Winston Churchill em 1940-45. Quando o trabalhismo ganhou as eleições de 1945, Attlee foi nomeado primeiro-ministro e ocupou esse cargo até 1951.
14 de março de 2010
Moção de Apoio aos companheiros de UFBA Barreiras
Salvador, 14 de março de 2010
Aos companheiros do Campus UFBA Barreiras,
O coletivo O Estopim! tomou conhecimento dos recentes acontecimentos que empolgaram na última semana a comunidade universitária da UFBA, campus Barreiras. Entendemos ser este um momento histórico para as reivindicações dos campi ignorados pela administração central, e não podemos deixar de prestar nossa solidariedade aos militantes que se empenham neste processo.
Viemos a público por meio desta moção não apenas deixar registrado nosso total apoio à paralisação, mas também para somar forças nessa empreitada. Já não é de hoje os diversos ataques que os estudantes, técnicos administrativos e professores sofrem pela precarização da universidade. Assim como em Barreiras, na nossa Salvador também já tivemos diversos episódios onde a força de uma administração equívoca, pelos seus princípios, ousou se erguer contrária aos interesses da comunidade universitária, porém não sem encontrar resistência.
Hoje nos somamos à resistência ao Campus Barreiras. Somamo-nos a essa luta por entender que a defesa de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade, socialmente referenciada e laica é dever de cada militante do Movimento Estudantil. Somos cientes da dificuldade a mais representada aos colegas de Barreiras. Acreditamos que o ensino público de qualidade é um direito humano! Todos os interesses e reivindicações devem ser considerados e não simplesmente ignorados. A educação é uma prioridade, algo básico para formação de qualquer cidadã (ão) e está deixado à mercê de um mercado que só tem interesses financeiros.
O Estopim! é parceiro de todos e todas que lutam por uma educação decente em suas escolas. Que o Estado garanta segurança, facilidade de acesso ao campus, liberdade de expressão popular, uma política sólida e efetiva para a assistência estudantil, condições dignas para o trabalho docente e dos servidores, que trabalham a tantas intempéries. Colocamo-nos à disposição dos companheiros de Barreiras para tudo o que estiver ao nosso alcance nessa que é apenas mais uma das muitas batalhas que juntos travaremos na luta por um sistema educacional coerente. Consideramos mais que legítima a luta e resistência direta ao que acontece em Barreiras, uma luta por direitos e que seja exemplo para os outros campi da Universidade Federal da Bahia.
O Estopim! “Incendiando Corações e Mentes...”
DCE UFBA
Da Coordenação
O último conselho de entidades de base da UFBa ocorrido no dia 10/03 (quarta-feira) encaminhou o calendário eleitoral a ser seguido para o pleito de 2010. Sem grandes polêmicas aparentes, os DA´s encaminharam para o conselho deliberar a polêmica eleição suplementar. Por 9 votos a favor da extinção das suplementares, 4 votos contrários e 5 abstenções, o regimento eleitoral foi modificado no intuito de apontar uma mudança de hábitos no movimento estudantil da UFBa.
A proposta da extinção das suplementares partiu dos companheiros do “Ousar ser diferente” que bancou a discussão pautado na idéia de que este tipo de prática protege justamente aqueles que erram nas eleições. Sem esse tipo de artifício as urnas terão uma margem um pouco maior de erros do que os atuais 7%, indo para 10%.
O coletivo O Estopim! ponderou sobre os novos estudantes que estarão fazendo parte das eleições, tendo em vista a expansão da Universidade e os novos cursos e por sua vez, novos DA´s. De toda sorte caberá ao conjunto das correntes de opinião do movimento estudantil da UFBa uma maior atenção e uma maior fiscalização nas Urnas das eleições.
Com relação ao calendário temos o seguinte:
-11/03 a 19/03 Inscrições de chapas
- 22/03 a 12/04 Campanha
- 13, 14, 15/04 Eleições para a nova diretoria do DCE UFBa.
O último conselho de entidades de base da UFBa ocorrido no dia 10/03 (quarta-feira) encaminhou o calendário eleitoral a ser seguido para o pleito de 2010. Sem grandes polêmicas aparentes, os DA´s encaminharam para o conselho deliberar a polêmica eleição suplementar. Por 9 votos a favor da extinção das suplementares, 4 votos contrários e 5 abstenções, o regimento eleitoral foi modificado no intuito de apontar uma mudança de hábitos no movimento estudantil da UFBa.
A proposta da extinção das suplementares partiu dos companheiros do “Ousar ser diferente” que bancou a discussão pautado na idéia de que este tipo de prática protege justamente aqueles que erram nas eleições. Sem esse tipo de artifício as urnas terão uma margem um pouco maior de erros do que os atuais 7%, indo para 10%.
O coletivo O Estopim! ponderou sobre os novos estudantes que estarão fazendo parte das eleições, tendo em vista a expansão da Universidade e os novos cursos e por sua vez, novos DA´s. De toda sorte caberá ao conjunto das correntes de opinião do movimento estudantil da UFBa uma maior atenção e uma maior fiscalização nas Urnas das eleições.
Com relação ao calendário temos o seguinte:
-11/03 a 19/03 Inscrições de chapas
- 22/03 a 12/04 Campanha
- 13, 14, 15/04 Eleições para a nova diretoria do DCE UFBa.
13 de março de 2010
Paralisação UFBA Barreiras
Da coordenação
No dia 11 de março de 2010, os três seguimentos da UFBA Barreiras (Docentes, estudantes e Técnicos) se reuniram em assembléia e decidiram paralisar as aulas por tempo indeterminado devido a precariedade ao acesso para o campus, além da interdição da ponte principal que da acesso a este.
As aulas estão suspensas até que haja um parecer técnico a respeito do estado da ponte. É importante ressaltar que a paralisação traduz a preocupação de todos com a integridade física dos que ali trafegam diariamente, dentre os quais temos mais de mil estudantes. A paralisação envolve também o prédio de aulas Padre Vieira, a fim de possibilitar que eventuais ajustes no calendário de aulas contemplem todos os cursos, como também reflete o engajamento de toda a comunidade acadêmica na mobilização.
Mas o mais preocupante não é falta de infra-estrutura que não oferece aos estudantes a segurança e proteção social, pois o descaso já entrou na rotina da Universidade Federal, obviamente em seus graus de exclusão, e sim a forma como os manifestos são polidos e ignorados. Durante a manifestação promovida houve repressão policial chegando à prisão de um docente. E até o momento a UFBA não se manifestou.
Nós não podemos nos calar diante tal opressão, não podemos ficar apenas na indignação. Devemos utilizar as armas disponíveis do ME para denunciar o descaso dos órgãos responsáveis. Mais ainda, devemos nos mobilizar para que os conselheiros universitários coloquem em pauta a situação dos campi Conquista e Barreiras, havendo uma política sólida e efetiva para que eles também sejam assistidos pelo programa de Assistência Estudantil, garantindo-lhes não o mínimo para cursarem, mas todo o bem-estar psico-social que a Universidade e o Estado têm por obrigação oferecer aos cidadãos.
No dia 11 de março de 2010, os três seguimentos da UFBA Barreiras (Docentes, estudantes e Técnicos) se reuniram em assembléia e decidiram paralisar as aulas por tempo indeterminado devido a precariedade ao acesso para o campus, além da interdição da ponte principal que da acesso a este.
As aulas estão suspensas até que haja um parecer técnico a respeito do estado da ponte. É importante ressaltar que a paralisação traduz a preocupação de todos com a integridade física dos que ali trafegam diariamente, dentre os quais temos mais de mil estudantes. A paralisação envolve também o prédio de aulas Padre Vieira, a fim de possibilitar que eventuais ajustes no calendário de aulas contemplem todos os cursos, como também reflete o engajamento de toda a comunidade acadêmica na mobilização.
Mas o mais preocupante não é falta de infra-estrutura que não oferece aos estudantes a segurança e proteção social, pois o descaso já entrou na rotina da Universidade Federal, obviamente em seus graus de exclusão, e sim a forma como os manifestos são polidos e ignorados. Durante a manifestação promovida houve repressão policial chegando à prisão de um docente. E até o momento a UFBA não se manifestou.
Nós não podemos nos calar diante tal opressão, não podemos ficar apenas na indignação. Devemos utilizar as armas disponíveis do ME para denunciar o descaso dos órgãos responsáveis. Mais ainda, devemos nos mobilizar para que os conselheiros universitários coloquem em pauta a situação dos campi Conquista e Barreiras, havendo uma política sólida e efetiva para que eles também sejam assistidos pelo programa de Assistência Estudantil, garantindo-lhes não o mínimo para cursarem, mas todo o bem-estar psico-social que a Universidade e o Estado têm por obrigação oferecer aos cidadãos.
9 de março de 2010
Democracia na Universidade: esta luta é central.
Este período que se inicia já demonstra a grande efervescência política que virá, pois, trará diversas disputas eleitorais e dentre elas teremos a escolha para reitor na Universidade Federal da Bahia. Neste sentido, é importante compreender o atual momento que passamos, para o melhor entendimento das prioridades nas lutas.
Com todo o desenrolar dos fatos políticos que se deram nos últimos períodos (UNINOVA, REUNI, novo ENEM, dentre outros) a UFBa se coloca no epicentro das discussões sobre o ensino superior brasileiro, exercendo assim um alto grau de importância na formulação e execução das políticas para este no próximo período. O modelo dos bacharelados interdisciplinares, tão polêmicos, foi implementado na Universidade e com ele advêm diversos debates sobre as estratégias e táticas de como, dentro deste processo que constituiu-se, construir intervenções que coloquem o movimento estudantil no protagonismo da construção de uma universidade que se referencia nas necessidades da população e não do mercado.
É neste cenário que a eleição pra reitor da UFBA torna-se ainda mais importante politicamente, pois o próximo reitorado terá a função de dar ou não continuidade a implementação das políticas formuladas pela gestão de Naomar (modelo de reestruturação que norteará as Universidades brasileiras). No entanto, a conjuntura nos é desfavorável tendo em vista que as disputas internas da Universidade pouco acumularam em termos de projetos alternativos ao que aí se encontra há quase 8 anos. O fato é que as articulações para uma oposição política ao reitorado de Naomar é extremamente pequena e frágil. O que se delineia é a construção de alianças estratégicas de alguns setores (que fizeram oposição durante toda a gestão “naomista”, diga-se) para garantir possíveis espaços de disputa dentro da futura administração central.
Na última eleição de reitor quase a totalidade do movimento estudantil construiu a campanha de Nelson Pretto e Dirceu Martins e, juntamente com ela, a luta pela valorização do voto estudantil. Aquilo significou uma pressão pela mudança das regras, para que nós estudantes pudéssemos ter um maior peso no pleito e pudéssemos participar verdadeiramente do processo. Sendo assim, acreditamos que a retomada desta bandeira, que é uma luta por DEMOCRACIA dentro da Universidade, deve ser pautada no planejamento estratégico do movimento estudantil da UFBA.
Defender a PARIDADE (todas as categorias terem o mesmo peso, 33,3%) e o DENOMINADOR (ser por número de pessoas que votarem e não o de prováveis votantes, que seria o número total de estudantes) é uma reivindicação por democracia, logo, a construção de um espaço mais amplo e legítimo nas decisões dos rumos da Universidade.
Neste sentido, chamamos o movimento estudantil e demais setores da UFBA (Docentes e técnicos administrativos) para nessas eleições, independentemente das articulações feitas na construção de chapas, se unifiquem em prol da conquista deste nosso direito fundamental.
PARIDADE E DENOMINADOR NAS ELEIÇÕES PARA REITOR: essa é a nossa palavra de ordem.
Com todo o desenrolar dos fatos políticos que se deram nos últimos períodos (UNINOVA, REUNI, novo ENEM, dentre outros) a UFBa se coloca no epicentro das discussões sobre o ensino superior brasileiro, exercendo assim um alto grau de importância na formulação e execução das políticas para este no próximo período. O modelo dos bacharelados interdisciplinares, tão polêmicos, foi implementado na Universidade e com ele advêm diversos debates sobre as estratégias e táticas de como, dentro deste processo que constituiu-se, construir intervenções que coloquem o movimento estudantil no protagonismo da construção de uma universidade que se referencia nas necessidades da população e não do mercado.
É neste cenário que a eleição pra reitor da UFBA torna-se ainda mais importante politicamente, pois o próximo reitorado terá a função de dar ou não continuidade a implementação das políticas formuladas pela gestão de Naomar (modelo de reestruturação que norteará as Universidades brasileiras). No entanto, a conjuntura nos é desfavorável tendo em vista que as disputas internas da Universidade pouco acumularam em termos de projetos alternativos ao que aí se encontra há quase 8 anos. O fato é que as articulações para uma oposição política ao reitorado de Naomar é extremamente pequena e frágil. O que se delineia é a construção de alianças estratégicas de alguns setores (que fizeram oposição durante toda a gestão “naomista”, diga-se) para garantir possíveis espaços de disputa dentro da futura administração central.
Na última eleição de reitor quase a totalidade do movimento estudantil construiu a campanha de Nelson Pretto e Dirceu Martins e, juntamente com ela, a luta pela valorização do voto estudantil. Aquilo significou uma pressão pela mudança das regras, para que nós estudantes pudéssemos ter um maior peso no pleito e pudéssemos participar verdadeiramente do processo. Sendo assim, acreditamos que a retomada desta bandeira, que é uma luta por DEMOCRACIA dentro da Universidade, deve ser pautada no planejamento estratégico do movimento estudantil da UFBA.
Defender a PARIDADE (todas as categorias terem o mesmo peso, 33,3%) e o DENOMINADOR (ser por número de pessoas que votarem e não o de prováveis votantes, que seria o número total de estudantes) é uma reivindicação por democracia, logo, a construção de um espaço mais amplo e legítimo nas decisões dos rumos da Universidade.
Neste sentido, chamamos o movimento estudantil e demais setores da UFBA (Docentes e técnicos administrativos) para nessas eleições, independentemente das articulações feitas na construção de chapas, se unifiquem em prol da conquista deste nosso direito fundamental.
PARIDADE E DENOMINADOR NAS ELEIÇÕES PARA REITOR: essa é a nossa palavra de ordem.
8 de março de 2010
8 de Março - 100 anos!
A mulher e o operário têm em comum o fato de serem oprimidos. As formas desta opressão evoluiram conforme as épocas e países, mas a opressão não desapareceu. Muito freqüentemente, no decorrer da evolução histórica, os oprimidos tomaram consciência da opressão, o que pôde mudar, suavizar a sua situação, mas é somente nos nossos dias que a mulher e o operário vieram a tomar consciência da verdadeira natureza desta opressão e a descobrir as suas causas. Lhes era necessário, além disso, descobrir a verdadeira natureza da sociedade e as leis que fundamentam a sua evolução antes que um movimento que vise a suprimir um estado de coisas reconhecidamente injusto pudesse progredir com alguma possibilidade de sucesso.
No entanto, a extensão e a profundidade de um movimento como esse depende do grau de compreensão atingido pelas camadas mais desfavorecidas e da liberdade de movimento que elas possuam. Vista sob esta dupla relação, a mulher está atrasada em relação ao operário, do ponto de vista dos costumes e da educação, como do ponto de vista da liberdade que a ela é permitida. Ademais, um estado de coisas que dura depois de uma longa série de gerações termina por transformar-se em costume e a hereditariedade e a educação o fazem parecer "natural" à duas partes em presença. É por isso, ainda hoje, que a mulher aceita sobretudo a sua situação inferior como coisa dada e não é fácil explicar-lhe que esta situação é indigna dela e que ela deve esforçar-se para tornar-se um membro da sociedade tendo os mesmos direitos que o homem e sendo-lhe igual em todos os aspectos.
Todas as relações sociais de dependência e de opressão têm suas origem na dependência econômica do oprimido com relação ao opressor. É nesta situação que, bem cedo a mulher irá se encontrar conforme nos mostra a história do desenvolvimento da sociedade humana.Se é possível, porém, descobrir muitas semelhanças na situação da mulher e do operário, há um ponto sobre o qual a mulher antecipa-se ao homem: ela é o primeiro ser humano levado à situação de escravidão. A mulher tornou-se escrava antes que existisse o primeiro escravo do sexo masculino.
Independentemente da opressão que possa sofrer enquanto proletária, a mulher no mundo da propriedade privada, é oprimida enquanto mulher. Uma massa de obstáculos desconhecidos para os homens opõem-se ela a cada passo. Muitas das coisas permitidas ao homem a ela são proibidas; uma quantidade de direitos sociais e liberdades das quais o homem goza transformam-se em uma falta ou um crime na medida em que as mulheres os exerçam. Ela sofre como ser social e como ser sexuado. É difícil dizer em que domínio a opressão é a mais pesada e, por isso, que é necessário compreender porque muitas mulheres deploram ter nascido mulheres e não homens.
Todas as relações sociais de dependência e de opressão têm suas origem na dependência econômica do oprimido com relação ao opressor. É nesta situação que, bem cedo a mulher irá se encontrar conforme nos mostra a história do desenvolvimento da sociedade humana.Se é possível, porém, descobrir muitas semelhanças na situação da mulher e do operário, há um ponto sobre o qual a mulher antecipa-se ao homem: ela é o primeiro ser humano levado à situação de escravidão. A mulher tornou-se escrava antes que existisse o primeiro escravo do sexo masculino.
Independentemente da opressão que possa sofrer enquanto proletária, a mulher no mundo da propriedade privada, é oprimida enquanto mulher. Uma massa de obstáculos desconhecidos para os homens opõem-se ela a cada passo. Muitas das coisas permitidas ao homem a ela são proibidas; uma quantidade de direitos sociais e liberdades das quais o homem goza transformam-se em uma falta ou um crime na medida em que as mulheres os exerçam. Ela sofre como ser social e como ser sexuado. É difícil dizer em que domínio a opressão é a mais pesada e, por isso, que é necessário compreender porque muitas mulheres deploram ter nascido mulheres e não homens.
"A mulher ainda precisa provar que é capaz. Por isso trabalha, estuda e se desgasta mais", afirmou Thais Prado, estudante de enfermagem da UFBA. Já Ângela Maria Correa, 37, comemora a posição conquistada. "Meu marido faz a parte dele. Dividimos as tarefas em casa e aonde trabalhamos. Temos uma pizzaria e nos revezamos no balcão", contou a operadora de máquinas, que advertiu: "O machismo ainda não foi quebrado."
Na verdade, embora a sua existência se prenda a intensos movimentos de reivindicação política e trabalhista, a greves, passeatas e perseguição policial, em acontecimentos que tiveram lugar na primeira década do século XX, essa data simboliza a busca da igualdade social entre homens e mulheres, arduamente conquistada no decorrer do século precedente até chegarmos às transformações que, neste século, estabeleceram a consciência do papel da mulher como trabalhadora e cidadã, contribuindo para o desenvolvimento social e o bem-estar geral.
O dia Internacional da Mulher vai se estabelecer definitivamente no 8 de março com a vitória da revolução na Rússia. Não por coincidência, foi a manifestação convocada pelas operárias ligadas ao socialismo russo, o estopim da Revolução de Fevereiro de 1917, ao se transformar em uma greve geral na enorme concentração operária do bairro Viborg em S. Petersburgo, principal cidade industrial do país.
Com a vitória da ditadura do proletariado, o governo soviético transformou a data em feriado comunista, procurando impulsionar a luta internacional das mulheres, não apenas por que foram elas as iniciadoras da revolução, mas porque são a camada mais explorada da classe operária consituindo potencialmente um vasto movimento revolucionário e, segundo Lênin, sem elas “não haveríamos vencido, ou haveríamos vencido a duras penas”.
A revolução que começou no dia 8 de março através do protesto das mulheres, diante das filas de racionamento de pão provocadas pela miséria vinda com a I Guerra Mundial. A partir daí o movimento se estendeu para as fábricas e quartéis derrubando a monarquia secular que governava a Russia, viria a ser também a maior conquista que as mulheres de todo o mundo jamais obtiveram em toda a história da humanidade na luta pela sua libertação .
A vitória da revolução trará uma série de mudanças fundamentais na situação da mulher soviética, lutando contra a estrutura de total submetimento representada pela cultura semi-asiática do país e pelo atraso econômico representado pela maioria camponesa e pelo subdesenvolvimento urbano. As primeiras medidas adotadas pelo governo revolucionário foram o direito integral ao divórcio a partir do pedido de qualquer dos cônjuges, superando no início do século aslegislações vigentes em todo o mundo ainda hoje , as quais forçam o convívio entre pessoas apesar do laço afetivo e consentimento mútuo não existir mais. No Brasil, como na maior parte do mundo, o divórcio é uma autorização que depende de decisão judicial, após um período de separação de fato, e não um direito inquestionável da pessoa, na medida em que se refere a uma decisão absolutamente particular dos casais.
No caso do aborto o governo revolucionário garantiu o direito integral à sua realização, inclusive através da rede pública de saúde, gratuitamente, em todo o país, atendendo uma das reivindicações mais importantes para as mulheres: o fim da gravidez indesejada, uma violência contra a mulher, uma vez que o Estado intervém repressivamente na vida íntima das mulheres obrigando-as a tomarem uma decisão contra a sua vontade, e que no caso da maior parte das mulheres significa o abandono do trabalho, do estudo, e o reforço da exploração e embrutecimento proveniente do trabalho doméstico e da dependência do marido. Em 1917, o governo de Lênin e Trostki já derrubava totalmente a distinção entre os filhos nascidos de uma união legal e os filhos “ilegítimos”.
Desde então, a data tem por objetivo lembrar tanto as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres em seus respectivos países como também as discriminações a que estão ainda submetidas muitas mulheres em vários lugares do planeta.
A periodicidade dessa comemoração, portanto, traz em seu bojo uma história muito significativa das dificuldades encontradas pelas mulheres de todo o mundo para construir a sua ascensão à igualdade de oportunidades e participação na vida social, e das conquistas que, sem desmerecer o papel que continuam a exercer no seio da família, na procriação e na criação dos filhos vieram permitir-lhes, através de muitas lutas, não só colaborar com seus proventos para a renda familiar e assim constituir profissionalmente para o desenvolvimento e o progresso da nação, mas também, pelo voto e pela representação política arduamente conquistados, alterar o seu papel na sociedade proporcionando-lhes o acesso igualitário a cargos e postos que antes lhe eram vedados quanto mulheres, mas ainda há muito que ser discutido pois os conflitos de classe não podem ser esquecidos ou amenizados pelos conflitos de gênero.
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