4 de junho de 2010

Entrevista com Frederico e Rafael (Respectivos diretores de Assistência estudantil e saúde do DCE da UFBa)

Editamos aqui a entrevista dos camaradas Frederico Pérez e Rafael Damasceno (Diretores recém-eleitos para o DCE UFBa) na integra. Os camaradas opinam sobre diversos temas que vai desde questões específicas do movimento estudantil da UFBa até o cenário para as eleições presidencias de Outubro. (Na integra)




O.E! Por que e onde começaram a militância?
 
Fred.Iniciei minha vida política enquanto secundarista na Escola Agrotécnica Federal de Guanambi, onde disputei o Grêmio da Escola. Ao ingressar na UFBA, tive a oportunidade de participar de uma mobilização em torno da luta pela ampliação de vagas nas Residências Universitárias da Universidade, onde a partir de uma ocupação de 8 meses de duração abriram diversas portas para a militância política, como o Diretório Acadêmico de Enfermagem e Executiva Nacional das Estudantes de Enfermagem.

Rafa. Na verdade, organicamente a minha militância começou na Escola de Enfermagem da UFBA, quando fui recepcionado pelos integrantes do DA na Semana de Calouros, onde várias questões foram despertadas em mim por meio de discussões e debates neste evento. Porém eu já tinha participado “espontaneamente” da “Revolta do Buzu”, quando estudava no Ensino Médio no Colégio Odorico Tavares em 2003. Esta foi uma das primeiras atividades relacionada aos movimentos sociais participando em um ato nas ruas da capital baiana. Entretanto foi o Diretório Acadêmico de Enfermagem que abriu diversas oportunidades para minha formação política em diversos espaços.
O.E! O coletivo que vocês representam é carregado de história e tradição. Como vocês avaliam o momento dele e suas perspectivas?

Fred. Faço parte do Coletivo Estopim por entender nesse instrumento de organização da juventude uma possibilidade de ascensão organizada para outra sociedade mais justa e igualitária. Através de nossos esforços e pela manutenção da identidade de classe e princípios, temos conseguido ampliar nossas intervenções e sensibilizar outras companheiras e companheiros nesse projeto coletivo. Nunca trememos e nem tememos um debate, por isso somos respeitados enquanto coletivo por se debruçar aprofundadamente sobre os temas que nos arrodeiam.

Rafa. Atualmente milito no Coletivo O Estopim, além de ser Coordenador Geral do DA de Enfermagem e também sou Diretor de Saúde do DCE UFBA. Tive uma significativa participação também na Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem, porém este não é mais meu âmbito principal de atuação. Estes coletivos/organizações têm atuações diferentes em âmbitos relativamente diferentes. O DA de Enfermagem nos últimos anos tem sido um dos DA’s mais atuantes dentro do ME UFBA, mesmo numa conjuntura de refluxo do Movimento Estudantil. O DCE sofre também por esta situação de desmobilização e refluxo, entretanto a perspectiva para este ano de 2010 é bastante favorável diante de uma unidade formada pela Juventude do PT com a intenção de lutar por uma Universidade realmente Democrática e Popular. O Estopim é um grupo muito importante para minha formação e organização política. Ele acumulou muito neste processo de eleições para o DCE UFBA e hoje tem perspectivas concretas de expansão e fortalecimento de sua base estudantil além de já está também organizando trabalhadores. É um grupo que tem bastante organicidade e disciplina, além de ter quadros com muita formação teórica e prática, além de ser nele onde tenho meus maiores camaradas e parceiros de luta e amizade.

O.E! Qual a avaliação de vocês sobre a conjuntura do M.E. nacional e local?

Fred. Essa avaliação de conjuntura é bem complexa, pois se trata de diversas formas de se entender a estratégia correta de como alcançar determinados objetivos. Nós de O Estopim entendemos que a UNE é a entidade representativa dos estudantes e que os mesmos devem cobrar e participar dos Fóruns de sua entidade. O Movimento Estudantil já tem apresentado alguns projetos de mudanças do atual panorama, mas de forma muito tímida e muitas das vezes sem a autonomia necessária para pressionar Governos e Partidos e a sociedade como um todo. Como o ME é bastante cíclico, sempre nos deparamos com problemas de transição e o sempre presente egocentrismo, que dificulta a unidade de ação em torno de uma luta. Precisamos construir outra via para avançarmos nas nossas conquistas, e com organização política isso se torna mais concreto.

Rafa. Reafirmando a análise na questão anterior, acredito que vivemos num período relativo de refluxo dos movimentos sociais e consequentemente o Movimento Estudantil sofre também com isso. Nacionalmente avalio que temos uma direção da UNE que precisa voltar a guinar a nossa entidade nacional de estudantes para esquerda, pois o que vemos é uma grande burocratização de suas atividade e instâncias e para conseguir mudar este panorama uma das atitudes iniciais é a luta pelas Diretas na UNE. Vemos Executivas de Curso fazendo lutas muitas desarticuladas e muito locais sem sentido prático, não dialogando com sua base estudantil chegando em momentos a serem sectárias. Localmente percebo que o ME UFBA tem suas peculiaridades, porém tem estado também num momento de refluxo. As duas últimas gestões do DCE UFBA não conseguiram agregar tanto a base para suas ações e atividades. Nesta conjuntura o esquerdismo irresponsável cresce e consegue agregar muitos estudantes, desvirtuando-os para uma luta utopista e em muitos momentos longe da realidade concreta.

O.E! Como vocês avaliam o cenário para a composição das chapas para o DCE?

Fred. Na disputa eleitoral do DCE em 2010 foi preciso a unidade de alguns coletivos e militantes independentes em torno de uma plataforma política que nos possibilitasse uma unidade de ação e desse uma dinâmica mais ativa ao Movimento Estudantil geral da UFBA. A pluralidade de pensamentos é algo imprescindível para o fortalecimento de uma democracia representativa e participativa, pois passa a contemplar nesse momento de disputa, diversas alternativas de mudança ou até mesmo projetos de continuidade de uma determinada política ou quem só entra para fazer a “crítica pela crítica”. Compomos a chapa Primavera nos dentes por entender que sozinhos não iríamos alcançar resultados satisfatórios para melhoria das condições de vida dos estudantes e em saber que essa juventude unida vai fazer revolução.

Rafa. A conjuntura pedia esta unidade.Diante do refluxo citado na questão anterior, as forças políticas que fazem o movimento estudantil real na UFBA não poderiam ficar se engalfinhando e lutando umas contra o sucesso das outras. Precisaríamos de uma mínima unidade, pois lutas fundamentais e consensuais não estavam sendo realizadas por causa muitas vezes de uma briga de Ego e de espaço político entre as forças. Esta situação foi muito danosa para o ME UFBA chegando a pontos de as entidades representativas serem negadas em alguns picos de mobilização como a questão da segurança na UFBA. Foi nesta conjuntura que algumas forças da Juventude do PT se organizaram, discutiram um acordo programático para uma intervenção na UFBA através do Diretório Central dos Estudantes. Não foi fácil fechar este acordo programático, afinal são 5 forças diferentes na composição da Gestão da Primavera nos Dentes, e consequentemente muitas vezes tínhamos 5 pensamentos ou métodos diferentes. Entretanto valeu muito a vontade de fazer mo ME UFBa sair da estagnação e assim conseguimos fechar o programa e saímos juntos para vencer umas das eleições mais disputadas e complicadas da história do DCE. Parece até irônico, mas esta eleição, da forma que foi, ajudou ainda mais a firmar esta unidade e esperamos avançar muito neste ano de 2010, pois agora já era, segura a PRIMAVERA!

O.E! O coletivo Estopim, sem dúvidas, foi a organização que mais acumulou o debate sobre assistência estudantil nos últimos anos sendo protagonista de diversas construções sobre o tema. Agora no DCE, será possível de fato fazer avançar a luta?

Fred. A expectativa é positiva e iremos trabalhar para tirar muitos dos projetos do papel e vê-los tornar-se realidade. Para quem está sempre na correria da vida batalhando por mudanças é muito satisfatório ver antes mesmo de sair da universidade suas lutas se concretizarem, a exemplo da criação da Pró-reitoria de Assistência Estudantil, da construção da Residência na Av. Garibaldi e agora mais recente a abertura do Restaurante Universitário de Ondina ao qual tivemos de nos empenhar e derramar nosso suor. Nessa gestão centraremos fogo na campanha “RU a R$ 1,00 JÁ!” e na defesa de “15% do orçamento da UFBA para Assistência Estudantil”, por acreditar que são propostas formuladas, estudadas e com viabilidade de execução por parte da Reitoria. Com esforços conjuntos com outros setores do ME mudaremos esse cenário de descaso de anos para com essa pauta e criaremos um período de formulações de projetos atarvés do fórum de Assistência Estudantil na tentativa de tirar Movimento Geral do ostracismo.

Rafa. Acredito que sim. É uma pauta consensual entre as forças, além de ser uma questão que agrega estudantes, o que é fundamental numa conjuntura de refluxo dos movimentos sociais. Precisamos de métodos e estratégias para dialogar com os estudantes. Trazê-los para a luta junto com o DCE, porém nenhum estudante vai lutar pela revolução socialista, afinal a revolução não está (ainda) batendo a nossa porta, assim precisaremos de métodos para fazê-los ter compromisso com as pautas do DCE e é ai que entra a luta por a Assistência Estudantil, afinal a situação em que vivemos na UFBA nesta questão é alarmante. Confio plenamente no Diretor de Assistência Estudantil (Frederico Perez) e junto com ele que, para min tem o maior acúmulo sobre assistência estudantil, no ME UFBA, poderemos desenvolver diversas atividades para agregar estudantes em torno desta pauta e assim conseguir avançar nas condições de permanência e pós-permanência relacionadas ao tema em nossa Universidade.

O.E! Na área de saúde sabemos que o coletivo também desempenha um papel de vanguarda no movimento estudantil. Quais são as perspectivas para essa diretoria, tendo em vista que tradicionalmente é uma das que mais conseguem avançar enquanto setorial?

Fred.A proposta é de construção com os DA’s e CA’s através do FAS de pautas que venham a tocar naquilo que os estudantes mais necessitam nesse momento, como a possibilidade de trabalhar uma formação em saúde articulada e baseada na construção do SUS. Enfrentaremos o desafio de construir o 1º Encontro dos Estudantes de Saúde da UFBA e convidamos a todos e todas para juntamente conosco focarmos esforços para que o Movimento de saúde da UFBA seja combativo e antenado com as necessidade reais da população e com a mesma construa uma outra perspectiva.

Rafa. Sou suspeito para falar, afinal sou atual Diretor de Saúde do DCE UFBA, entretanto acredito que temos capacidade de avançar muito no debate em saúde no movimento estudantil. Acredito que para isso precisaremos fazer um movimento de reaproximação dos DA’s e CA’s de saúde, pois estes terão uma função primordial de capilarizar e agregar estudantes para o debate e consequentemente para as lutas. Para concretizar esta reaproximação acredito que poderemos ativar o Fórum Acadêmico de Saúde que anda parado. O DA de enfermagem em minha opinião é um dos que mais acumulou no debate pela na Saúde Pública e conseqüentemente na luta pelo Sistema Único de Saúde. Assim minha formação teórica defende intransigentemente uma saúde pública, gratuita e de qualidade. Tentaremos fazer ecoar a opinião dos estudantes de Saúde da UFBA para fora dos muros da Universidade.
O.E! O acirramento causado pela polaridade entre a JPT e a UJS gerou diversos desgastes para o M.E. Vimos uma campanha muito ruim, baseada em meias verdades, fatos inverídicos e acusações. Em decorrência, tivemos uma apuração tumultuada que levou vários dias de indecisão, culminando com invasão da sala de apuração, intimidações e até mesmo quebra-quebra por parte da chapa 3 AMAR E MUDAR AS COISAS/UJS. Na opinião de vocês isso deixará seqüelas para as construções futuras do M.E.?

Fred. Infelizmente alguns fatos lamentáveis aconteceram durante essas eleições. Lembro-me que antes mesmo de iniciarmos a disputa legítima das eleições de DCE, fizemos uma discussão no estopim acerca dos “valores e princípios de uma prática militante” e sobre aquilo que devemos cultuar em todos os momentos de nossa trajetória política e que jamais devem ser esquecidos, como a honestidade, a humildade, a esperança e a confiança de um futuro melhor. Sabemos que muitos membros do ME não exercitam esses valores, e com isso acabam por tornar esse processo cheio de atitudes desastrosas, a exemplo do que os membros da UJS fizeram ao quebrar vidros da janela e a grade de ferro da porta do DCE, insultar a ameaçar fisicamente ditos “companheiros” de militância. O ruim é que apesar de toda denúncia casos como esses se repetem e a política de mentiras se perpetua. Nosso papel é combater essas práticas.

Rafa. Acredito que sim. As práticas exercidas pelos militantes da UJS foram, em muitos momentos, desleais. No movimento de esquerda muitas vezes até temos projetos finais parecidos, porém os métodos para alcançar estes objetivos são em muitas vezes diferentes. Entretanto os movimentos sociais precisam saber lidar com estas divergências, afinal não podemos nos tratar como inimigos de classe. Entretanto as atitudes que foram praticadas nestas eleições chegaram a um ponto extremo de tensão que, em minha opinião, irão trazer muitas dificuldades para nos relacionarmos com a UJS e seus militantes. Porém, ainda assim terão momentos que estaremos juntos, mas se as posturas continuarem esses momentos de unidades cada vez mais estarão escassos. 
O.E! O DCE da UFBa é a mais importante entidade do Estado. Como esse instrumento pode servir a classe trabalhadora baiana?

Fred. Sabemos da importância do DCE da UFBA em diversos momentos da História e sabemos o potencial de mobilização da juventude. Tenho a compreensão de que somos fortes, mas sozinhos não chegaremos longe. Faz-se de imensa importância o DCE se articular com outros segmentos de Movimentos sociais como sindicatos, associações de bairro, CUT, UNE, UEB e entidades secundaristas e demais organizações de trabalhadores e trabalhadoras.

Rafa. Acho que pode servir como um instrumento de capilarização das lutas da classe trabalhadora para o Movimento Estudantil. Além disso, não podemos negar que esta entidade forma muitos quadros para as entidades da classe trabalhadora, dentre eles, partidos, sindicatos dentre outros movimentos. Os estudantes e assim a juventude tem um potencial enorme para dentro das lutas da Classe Trabalhadora e o DCE UFBA tem um potencial organizador de estudantes considerável. Acredito que esta gestão pode ser um motor propulsor neste sentido.

O.E! A forma como os partidos políticos atuam no movimento estudantil nem sempre é a mais construtiva, diríamos até que nos últimos anos tem sido muito mais burocrática do que positiva. Essa afirmação responde inicialmente a dificuldade de compreensão dos estudantes sobre essa relação entre Partido X Movimento. Como podemos superar esse paradigma?

Fred. Podemos superar esse contexto a partir do momento em que os Partidos e o ME compreenderem e inverterem a ordem de relação ao qual se trata as entidades e os instrumentos de organização da juventude. É legítimo um jovem se organizar e se reivindicar membro de um Partido assim como o Partido impulsionar as lutas do Movimento Estudantil e até porque o Partido pensa a sociedade como um todo e a Universidade é apenas uma parte desse universo. O que não dá pra acontecer são os partidos se utilizarem do ME como correia de transmissão de suas políticas e como “escola” para formação de seus quadros e sim trabalhar numa lógica mais produtiva na construção de projetos. O ME também precisa criar outros hábitos e desenvolver sua autonomia financeira, para que não dependa tanto da estrutura dos partidos e dos mandatos parlamentares, ficando como “pidões” e não criam sua própria sustentação.

Rafa. Acho que existe um estereótipo muito grande relacionado com os partidos políticos. Na atualidade e não podemos negar muito disto foi também construído pelos próprios. Esta é uma relação bastante maléfica para a construção da esquerda e assim de uma sociedade diferente. Eu acredito que deveríamos começar a tentar capilarizar uma visão diferente dos partidos políticos, mais parecida com que a que Lênin entendia, afinal não podemos negar a função do partido político que para min é o instrumento essencial para organizar a classe trabalhadora. Assim precisamos também entender a relação dos partidos com o Movimento Estudantil. Precisamos nos relacionar de uma forma que não bucrocratize as ações do ME, porém não podemos sectarizar os espaços querendo negar os partidos. Portanto, sim, os partidos atuais ainda não estão no ideal que eu gostaria que eles estivessem no papel de organização da classe trabalhadora, porém eu acredito no potencial que temos para lutar por uma nova orientação dos partidos políticos e não posso negar, acredito sim no grande potencial do Partido dos Trabalhadores sendo este um fundamental instrumento de organização da classe trabalhadora.
O.E! Palpite sobre as eleições de Outubro.

Fred. Esse ano estará em jogo mais uma vez dois projetos de sociedade totalmente antagônicos. É imprescindível que a juventude e classe trabalhadora tomem para si nesse processo a defesa de um projeto que tem avançado para o crescimento e desenvolvimento social no Brasil, apesar de fazermos as críticas em diversos pontos, mas foi no Governo Lula onde mais se teve investimento em políticas públicas para reparação de problemas sociais historicamente desprezados por outros Governos a exemplo do neoliberal FHC. A esperança em eleger Dilma presidenta do Brasil, primeira mulher a governar esse país é um desafio que a juventude não deve medir esforços e se juntar com os setores progressistas da sociedade em prol dos avanços no país, como maior investimento na saúde e educação, cultura, lazer, geração de emprego e renda, reparação social entre outros tantos benefícios para o povo.

Rafa. Estas eleições são importantes para o futuro do povo brasileiro e assim da classe trabalhadora. Entendo que não podemos negar a função atual do Partido dos Trabalhadores dentro do governo de coalizão. Acredito que muitos avanços foram conseguidos, porém ainda estamos aquém do ideal e acho que o partido dos trabalhadores pode dar grandes guinadas a esquerda neste próximo período, principalmente com Dilma , que pode superar o fenômeno do Lula e do “Lulismo” e voltar o protagonismo do Partido dos Trabalhadores. Também acredito na eleição de Pinheiro e lutarei para a eleição de Yulo (Estadual) e Amauri (Federal) por acreditar ideológica e politicamente nos programas destes.
Mas é isso. Gostaria de deixar uma frase de Che que me empolga muito: “Os grandes só são grandes por estarmos os enxergando ajoelhados.”

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